São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 2001

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O PODER DO CRIME

Líderes da organização procuram juiz-corregedor e propõem trégua de 90 dias em troca de suas transferências de Taubaté

PCC busca negociar com governo de SP

KEILA RIBEIRO
DA FOLHA VALE

GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os cinco líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital) -entre eles Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra, suspeito de liderar a megarrebelião em 25 presídios de São Paulo- que estão presos na Casa de Custódia de Taubaté, propuseram ontem ao Judiciário uma trégua de 90 dias em troca da transferência dos detentos dessa prisão para outras penitenciárias do Estado.
Em troca da remoção, Sombra, Jonas Mateus, Edmir Volletti, Flávio Aparecido da Silva e Orlando Mota Júnior instaurariam um período de paz de 90 dias, até 21 de maio, sem rebeliões, fugas, resgates e mortes nas penitenciárias.
A proposta foi apresentada ontem ao juiz-corregedor dos presídios de São Paulo, Otávio Augusto Machado de Barros Filho, que esteve na unidade para ouvir os integrantes do comando.
"Estive lá, conversei sobre esse assunto, mas a negociação não está fechada", disse Barros Filho. Ele não descartou a possibilidade de um acordo com os supostos líderes do PCC. "Possibilidade sempre existe, mas não depende de mim. Não posso dizer que está definida a situação."
Segundo a advogada de Sombra, Ana Maria Olivatto, o juiz se comprometeu com os líderes do PCC a interceder junto ao governador interino Geraldo Alckmin (PSDB) e ao secretário de Estado da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, para viabilizar a transferência.
Olivatto esteve na reunião quando Sombra e Jonas Mateus ofereceram a trégua ao juiz. Sombra teria pedido à advogada que levasse o resultado da reunião para líderes do PCC em outras prisões do Estado.
"Vou começar amanhã (hoje) mesmo a visitar todas as unidades. Recebi entrada livre em todas elas para a missão", declarou.
A advogada negou que Sombra tenha liderado a megarrebelião no Estado, mas admitiu que os protestos nas penitenciárias foram estimulados pela transferência dos cinco integrantes do PCC da Casa de Detenção para a Casa de Custódia de Taubaté.
Ontem à noite, o encontro de Sombra com Barros Filho já havia repercutido na Penitenciária do Estado, atual quartel general do PCC. Por volta das 21h30, G., o número um do PCC no presídio, disse à Folha, por celular, que é "precipitado" falar em novos motins e demonstrações de força.
Segundo ele, é hora de tentar negociar nessa primeira etapa a revisão de processos que estariam atrasados, o fim imediato da tortura nas cadeias e um tratamento mais adequado às visitas.
À tarde, um líder do PCC do segundo escalão na penitenciária havia dito à Folha que se não houvesse visita neste domingo, as cadeias que não participaram da megarrebelião iriam "virar".
Agentes penitenciários, mulheres de presos e integrantes da Pastoral Carcerária ouvidos pela Folha haviam dito naquela hora que os detentos se preparavam para promover nova revolta no Carnaval, em razão da proibição de visitas determinada pelo governo.
Segundo G., a direção da penitenciária do Carandiru havia avisado as lideranças do PCC que no próximo domingo eles não receberão seus familiares.
"Já conversamos com a população (carcerária) e falamos que agora não tem condições de polícia entrar aqui (em caso de nova rebelião). Tem muita gente queimada, baleada e quebrada", disse.
Apesar do discurso mais "moderado" de ontem à noite, o líder do PCC, afirmou que os governantes -ou no jargão da cadeia, os gravatas- já entenderam, ou pelo menos deveriam ter entendido, que a organização cresceu, tem força e deve ser ouvida.
Se isso não ocorrer nos próximos dias, ele assegura que novas rebeliões ocorrerão. "Se não houver entendimento pacífico,vamos usar a força." Os primeiros alvos seriam as cadeias de Tirapinas, Pirajuí, Guarulhos e Sorocaba.
"Estamos preparados psicologicamente para morrer e matar se não tiver diálogo", diz.


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