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O PODER DO CRIME
Líderes da organização procuram juiz-corregedor e propõem trégua de 90 dias em troca de suas transferências de Taubaté
PCC busca negociar com governo de SP
KEILA RIBEIRO
DA FOLHA VALE
GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Os cinco líderes do PCC (Primeiro Comando da Capital)
-entre eles Idemir Carlos Ambrósio, o Sombra, suspeito de liderar a megarrebelião em 25 presídios de São Paulo- que estão
presos na Casa de Custódia de
Taubaté, propuseram ontem ao
Judiciário uma trégua de 90 dias
em troca da transferência dos detentos dessa prisão para outras
penitenciárias do Estado.
Em troca da remoção, Sombra,
Jonas Mateus, Edmir Volletti, Flávio Aparecido da Silva e Orlando
Mota Júnior instaurariam um período de paz de 90 dias, até 21 de
maio, sem rebeliões, fugas, resgates e mortes nas penitenciárias.
A proposta foi apresentada ontem ao juiz-corregedor dos presídios de São Paulo, Otávio Augusto Machado de Barros Filho, que
esteve na unidade para ouvir os
integrantes do comando.
"Estive lá, conversei sobre esse
assunto, mas a negociação não está fechada", disse Barros Filho. Ele
não descartou a possibilidade de
um acordo com os supostos líderes do PCC. "Possibilidade sempre existe, mas não depende de
mim. Não posso dizer que está definida a situação."
Segundo a advogada de Sombra, Ana Maria Olivatto, o juiz se
comprometeu com os líderes do
PCC a interceder junto ao governador interino Geraldo Alckmin
(PSDB) e ao secretário de Estado
da Administração Penitenciária,
Nagashi Furukawa, para viabilizar a transferência.
Olivatto esteve na reunião
quando Sombra e Jonas Mateus
ofereceram a trégua ao juiz. Sombra teria pedido à advogada que
levasse o resultado da reunião para líderes do PCC em outras prisões do Estado.
"Vou começar amanhã (hoje)
mesmo a visitar todas as unidades. Recebi entrada livre em todas
elas para a missão", declarou.
A advogada negou que Sombra
tenha liderado a megarrebelião
no Estado, mas admitiu que os
protestos nas penitenciárias foram estimulados pela transferência dos cinco integrantes do PCC
da Casa de Detenção para a Casa
de Custódia de Taubaté.
Ontem à noite, o encontro de
Sombra com Barros Filho já havia
repercutido na Penitenciária do
Estado, atual quartel general do
PCC. Por volta das 21h30, G., o
número um do PCC no presídio,
disse à Folha, por celular, que é
"precipitado" falar em novos motins e demonstrações de força.
Segundo ele, é hora de tentar
negociar nessa primeira etapa a
revisão de processos que estariam
atrasados, o fim imediato da tortura nas cadeias e um tratamento
mais adequado às visitas.
À tarde, um líder do PCC do segundo escalão na penitenciária
havia dito à Folha que se não houvesse visita neste domingo, as cadeias que não participaram da
megarrebelião iriam "virar".
Agentes penitenciários, mulheres de presos e integrantes da Pastoral Carcerária ouvidos pela Folha haviam dito naquela hora que
os detentos se preparavam para
promover nova revolta no Carnaval, em razão da proibição de visitas determinada pelo governo.
Segundo G., a direção da penitenciária do Carandiru havia avisado as lideranças do PCC que no
próximo domingo eles não receberão seus familiares.
"Já conversamos com a população (carcerária) e falamos que
agora não tem condições de polícia entrar aqui (em caso de nova
rebelião). Tem muita gente queimada, baleada e quebrada", disse.
Apesar do discurso mais "moderado" de ontem à noite, o líder
do PCC, afirmou que os governantes -ou no jargão da cadeia,
os gravatas- já entenderam, ou
pelo menos deveriam ter entendido, que a organização cresceu,
tem força e deve ser ouvida.
Se isso não ocorrer nos próximos dias, ele assegura que novas
rebeliões ocorrerão. "Se não houver entendimento pacífico,vamos
usar a força." Os primeiros alvos
seriam as cadeias de Tirapinas, Pirajuí, Guarulhos e Sorocaba.
"Estamos preparados psicologicamente para morrer e matar se
não tiver diálogo", diz.
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