São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

AMBIENTE

Baixa oxigenação, causada por calor, proliferação de algas e poluição, já provocou morte de duas toneladas de animais

Mortandade de peixes atinge lagoa no RJ

Antonio Gaudério/Folha Imagem
Pescador retira peixes da lagoa Rodrigo de Freitas, que forma pescados para evitar que morressem por falta de oxigênio na água


ISABEL CLEMENTE
DA SUCURSAL DO RIO

Uma nova mortandade de peixes atingiu ontem a lagoa Rodrigo de Freitas, na zona sul do Rio.
A baixa oxigenação da água fez com que milhares de peixes aparecessem mortos na superfície da lagoa. O novo acidente ambiental atingiu a lagoa menos de um ano depois da maior mortandade já registrada no local em oito anos.
Em março do ano passado, foram retiradas 152 toneladas de peixes e crustáceos mortos.
Até o final da tarde de ontem, pescadores, bombeiros e homens da Defesa Civil Estadual haviam retirado duas toneladas de peixes mortos da lagoa, segundo a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, e pescado uma tonelada de robalos, tainhas e paratis, antes que os peixes morressem por asfixia.
A explicação é a mesma do ano passado. As autoridades dizem que houve combinação de motivos climáticos (muito calor), biológicos (proliferação de algas) e poluição. Na madrugada de ontem, chegou a quase zero o nível de oxigênio da água, segundo o monitoramento da prefeitura.
O secretário estadual de Meio Ambiente, André Corrêa, disse que a alta temperatura e a presença de algas reduziram o nível de oxigenação, causando a mortandade, mas que a poluição teve influência. "Nunca é uma coisa só. No fundo da lagoa tem um bolsão de lodo e poluição, que não pode ser simplesmente dragado porque poderia ameaçar a estabilidade do terreno de todo o entorno."
Corrêa diz que, para melhorar o nível de oxigenação da água, só podem ser feitas obras e ações para evitar o despejo de esgoto. Segundo ele, a lagoa Rodrigo de Freitas jamais estará livre de mortandades de peixes, mesmo com o problema do esgoto resolvido.
O biólogo Mário Moscatelli discorda. "As mortandades podem ser em menor escala e menos frequentes se não tiver mais esgoto."
Moscatelli afirma que o Rio já passou por verões mais quentes, mas nem por isso houve morte de peixes na lagoa. "O problema principal é o esgoto."
O governo do Estado informou que, ainda no primeiro semestre, estarão concluídas obras que visam impedir que o esgoto de galerias pluviais chegue à lagoa. Moscatelli diz que as obras deveriam ter sido concluídas há um mês.
Para o engenheiro oceanográfico Paulo Rosman, da Coppe/ UFRJ (Coordenação dos Cursos de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), "a mortandade de agora não é diferente das outras".
A lagoa é alimentada por nutrientes, tanto da chuva como de esgoto, o que estimula a proliferação de algas. As plantas, de manhã, jogam oxigênio na água pela fotossíntese, mas, à noite, competem por ele com os peixes. Morrendo, as algas em decomposição só consomem oxigênio, levando à situação extrema da mortandade.
"É inadmissível que se jogue esgoto, mas o que vai para a lagoa é pouco, não desencadeia o processo", diz Rosman, para quem as obras de saneamento resolvem, em parte, o problema da mortandade na lagoa. "Com chuva forte, não há como impedir que mais nutrientes cheguem à lagoa."


Texto Anterior: Venda de ingressos é investigada
Próximo Texto: Vazamentos: Ibama cria sistema para monitorar acidentes
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.