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Após alagar, Minhocão ainda acumula lixo
Reportagem percorreu a via e encontrou garrafas, papelão, latinha, calotas de carros; de 188 bocas de lobo, só 28 estavam limpas
Local é liberado para passeios aos domingos e feriados, atraindo também ambulantes que nem sempre recolhem seu lixo
ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA
Símbolo da supremacia do
carro em São Paulo, o Minhocão vira um parque de asfalto
aos domingos e feriados, onde
paulistanos correm, andam de
bike, tomam água de coco e deixam para trás um rastro de sujeira. Muito lixo acaba indo parar nas bocas de lobo. Resultado: os alagamentos, tão habituais nas vias térreas, começam
a atingir uma das maiores avenidas suspensas do Brasil.
A Folha percorreu o elevado
Costa e Silva, na região central,
na manhã e parte da tarde de
ontem. Durante o trajeto, que
começou nas proximidades
da avenida Francisco Matarazzo e terminou na saída para
a rua da Consolação, a reportagem checou a situação de 188
bocas de lobo.
A cada 25 metros, aproximadamente, existem bocas de lobo. Dependendo do lugar, há
uma central entre as pistas e
duas nas laterais. Em alguns
pontos, dependendo da inclinação, são dois bueiros (um no
centro e outro na lateral).
No meio daquela aridez, o
que se vê é muita bituca de cigarro, garrafa pet, papelão, latinha e até cocô de cachorro em
saco plástico nos bueiros do
elevado -boa parte deles está
entupida (veja o quadro ao lado). É possível se deparar com
pedaços de lanterna de carro e
calotas de automóvel.
Na Quarta-Feira de Cinzas, o
Minhocão teve pontos de alagamento, o que contribuiu para
complicar ainda mais o trânsito nos dois sentidos. Em setembro do ano passado, o elevado também alagou e chegou
a ficar interditado.
Em seus 3,5 km de extensão,
a via suspensa de acesso da zona oeste à leste, inaugurada em
1971, não exibe uma lixeira na
faixa de concreto que separa
suas quatro pistas.
A assessoria de imprensa da
Subprefeitura da Sé diz que a
via não é de tráfego de pedestres (leia texto ao lado).
Para complicar, tem ainda a
questão dos ambulantes: vendedores de água, refrigerante e
cerveja e água de coco. Nem todos recolhem o lixo. "No final
do dia, eles deixam tudo aí, jogado. Se chover, vai tudo parar
na boca-de-lobo", conta o vendedor Antônio Andrade, 46, 15
deles no Minhocão.
Com a ajuda de três dos oito
filhos, Andrade exibe sacos de
lixo na sua barraca, próxima à
estação do metrô Marechal
Deodoro. Em dias como ontem, ele chega a vender cem
águas de coco.
Assim que um saco de lixo fica cheio, um dos filhos o coloca
num carrinho de supermercado e o leva para a avenida, na
parte de baixo do elevado.
"Há anos eu corro no Minhocão e nunca tinha visto tanta
sujeira como neste Carnaval.
Não me surpreende o fato de
ter ficado alagado", conta a
funcionária pública Francisca
Valdelice de Sousa, 49. Ela diz
que frequentadores jogam garrafinha pet nas bocas-de-lobo.
Só que também tem gente
que leva uma bolsa a tiracolo
para trazer o lixo de volta, como a gerente de vendas Cirlene
Aparecida Rodrigues, 32.
Ela acompanhava o filho que
passeava de bike no elevado.
Numa bolsa térmica, carregava
água e refrigerante para a
criança e umas cervejinhas para ela. "Falta respeito e educação", afirma.
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