São Paulo, segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Após alagar, Minhocão ainda acumula lixo

Reportagem percorreu a via e encontrou garrafas, papelão, latinha, calotas de carros; de 188 bocas de lobo, só 28 estavam limpas

Local é liberado para passeios aos domingos e feriados, atraindo também ambulantes que nem sempre recolhem seu lixo


ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA

Símbolo da supremacia do carro em São Paulo, o Minhocão vira um parque de asfalto aos domingos e feriados, onde paulistanos correm, andam de bike, tomam água de coco e deixam para trás um rastro de sujeira. Muito lixo acaba indo parar nas bocas de lobo. Resultado: os alagamentos, tão habituais nas vias térreas, começam a atingir uma das maiores avenidas suspensas do Brasil.
A Folha percorreu o elevado Costa e Silva, na região central, na manhã e parte da tarde de ontem. Durante o trajeto, que começou nas proximidades da avenida Francisco Matarazzo e terminou na saída para a rua da Consolação, a reportagem checou a situação de 188 bocas de lobo.
A cada 25 metros, aproximadamente, existem bocas de lobo. Dependendo do lugar, há uma central entre as pistas e duas nas laterais. Em alguns pontos, dependendo da inclinação, são dois bueiros (um no centro e outro na lateral).
No meio daquela aridez, o que se vê é muita bituca de cigarro, garrafa pet, papelão, latinha e até cocô de cachorro em saco plástico nos bueiros do elevado -boa parte deles está entupida (veja o quadro ao lado). É possível se deparar com pedaços de lanterna de carro e calotas de automóvel.
Na Quarta-Feira de Cinzas, o Minhocão teve pontos de alagamento, o que contribuiu para complicar ainda mais o trânsito nos dois sentidos. Em setembro do ano passado, o elevado também alagou e chegou a ficar interditado.
Em seus 3,5 km de extensão, a via suspensa de acesso da zona oeste à leste, inaugurada em 1971, não exibe uma lixeira na faixa de concreto que separa suas quatro pistas.
A assessoria de imprensa da Subprefeitura da Sé diz que a via não é de tráfego de pedestres (leia texto ao lado).
Para complicar, tem ainda a questão dos ambulantes: vendedores de água, refrigerante e cerveja e água de coco. Nem todos recolhem o lixo. "No final do dia, eles deixam tudo aí, jogado. Se chover, vai tudo parar na boca-de-lobo", conta o vendedor Antônio Andrade, 46, 15 deles no Minhocão.
Com a ajuda de três dos oito filhos, Andrade exibe sacos de lixo na sua barraca, próxima à estação do metrô Marechal Deodoro. Em dias como ontem, ele chega a vender cem águas de coco.
Assim que um saco de lixo fica cheio, um dos filhos o coloca num carrinho de supermercado e o leva para a avenida, na parte de baixo do elevado.
"Há anos eu corro no Minhocão e nunca tinha visto tanta sujeira como neste Carnaval. Não me surpreende o fato de ter ficado alagado", conta a funcionária pública Francisca Valdelice de Sousa, 49. Ela diz que frequentadores jogam garrafinha pet nas bocas-de-lobo.
Só que também tem gente que leva uma bolsa a tiracolo para trazer o lixo de volta, como a gerente de vendas Cirlene Aparecida Rodrigues, 32.
Ela acompanhava o filho que passeava de bike no elevado. Numa bolsa térmica, carregava água e refrigerante para a criança e umas cervejinhas para ela. "Falta respeito e educação", afirma.


Texto Anterior: Foco: Moradora põe faixa em frente de casa para alertar motorista
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.