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ACIDENTE EM ALTO-MAR
Supervisor da P-36 acredita que óleo perto da coluna que explodiu pode ter sido o motivo do acidente
Alarme indicou vazamento em explosão
ANTONIO CARLOS DE FARIA
ENVIADO ESPECIAL A MACAÉ
Um alarme de emergência foi
acionado na sala de controle da
plataforma P-36, indicando vazamento de gás, antes da segunda
das três explosões que a danificaram, causando a morte de dez petroleiros e seu afundamento.
A presença de gás foi detectada
por sensores automáticos em local próximo da coluna onde ocorreram as explosões, segundo relatou ontem o operador da sala de
controle da plataforma Carlos Alberto Sampaio, 35, que trabalhava
no momento do acidente.
Segundo o supervisor da P-36,
Sebastião Filho, 38, esse vazamento teria ocorrido em salas próximas à coluna, onde não passam
dutos de gás.
"Foi observado gás. É possível
que esse tenha sido o motivo (das
explosões)", disse o também supervisor Luiz Mário Linhares de
Azevedo, 44. Ambos estavam na
P-36 quando ela explodiu.
Na coluna existia um tanque de
resíduos onde eram armazenados
os líquidos restantes do trabalho
da plataforma, cuja finalidade era
separar o petróleo do gás extraídos de poços submarinos.
Carlos Eduardo Bellot, gerente-geral da Petrobras na bacia de
Campos, onde ficava a P-36, disse
que a presença de gás na coluna e
a possibilidade de que ele tenha
sido gerado a partir do tanque de
resíduos são fatores que serão investigados pela comissão de sindicância constituída pela estatal.
O supervisor Sebastião Filho
afirmou que o tanque de resíduos
estava inoperante e isolado. Ele
não acredita que a explosão tenha
se originado nesse equipamento.
Bellot também disse que só o
trabalho da comissão de sindicância poderá esclarecer a possibilidade de que falhas do equipamento automático de combate a
incêndio teriam sido detectadas
em um boletim emitido pela P-36
três dias antes das explosões.
Todas as plataformas emitem
boletins diários de produção. Neles também são informados problemas que possam ter ocorrido.
Os boletins de produção são documentos que foram solicitados
pelo delegado Antonio Carlos
Carvalho, responsável pelo inquérito da Polícia Civil que investiga
as causas das explosões na plataforma. A Petrobras vetou a distribuição dos boletins à imprensa.
Carvalho disse ontem que vai
intimar Bellot a prestar depoimento no início da próxima semana, tomando como base um
relatório preliminar enviado pela
Petrobras à delegacia. No documento, a estatal informa que 175
pessoas estavam a bordo da P-36
e que 151 foram retiradas de lá.
"Se dez pessoas morreram e
uma está hospitalizada, o relatório não informa o destino de 13
pessoas", disse o delegado, que no
entanto acredita que houve erro
no documento e que não procedem suspeitas de que haveria
mais mortos. "Não há outros
mortos além dos dez companheiros que já noticiamos", diz Bellot.
A Petrobras está usando robôs
guiados remotamente por navios
para obter imagens da P-36 e dos
seis dutos de petróleo que a abasteciam no fundo do mar, a cerca
de 1.350 metros de profundidade.
As primeiras informações da
empresa indicam que não houve
rompimento dos dutos ou das
válvulas que fecham os poços
submarinos. Hoje, a empresa deverá ter a posição exata da plataforma no fundo do mar.
Segundo Bellot, não há condições para que os robôs possam ser
usados dentro da estrutura da P-36, rejeitando a possibilidade de
recuperar os nove corpos não resgatados da plataforma. "Isso é virtualmente impossível", disse.
Saída dos operários
O supervisor da P-36 Luiz Mário
Linhares de Azevedo afirmou que
a retirada dos trabalhadores da
plataforma após as explosões se
deu "da forma mais tranquila
possível", em "fila indiana". Os
trabalhadores foram deslocados
em cestas por guindastes até os
barcos, que os conduziram até a
P-47, onde foram recolhidos.
Ele afirmou ainda que descarta
a possibilidade de não trabalhar
mais "embarcado" em plataformas. Essa vontade é compartilhada pelos seus colegas Sampaio e
Sebastião Filho.
Os três disseram que desde o
momento que deixaram a plataforma na quinta-feira tinham a
convicção de que ela iria afundar.
Isso por conta dos danos causados pelas explosões.
Azevedo, último homem a deixar a P-36, contou como foi o resgate do operário Sérgio Barbosa,
internado com 98% do corpo
queimado. Disse que ele estava no
fosso do elevador situado na coluna e que dizia sentir muita dor.
Colaboraram Daniela Mendes, free-lance
para a Folha, e Pedro Soares, enviado
especial a Macaé
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