São Paulo, sexta-feira, 22 de março de 2002

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TRANSPORTE

Prejuízo não passará de R$ 2 milhões até terminar contratos; empresa deve buscar ônibus usado no interior

Multa de R$ 11,20 não preocupa viação

DA REPORTAGEM LOCAL

A multa diária de R$ 11,20 imposta pela prefeitura para cada ônibus fabricado até 1991 que continuar nas ruas de São Paulo não consegue assustar as viações.
Mesmo que não troquem todos os 1.074 veículos velhos da frota até terminar os atuais contratos emergenciais, elas terão um prejuízo inferior a R$ 2 milhões -que representa menos de 2% da remuneração mensal e que só é suficiente para a compra de 16 ônibus zero-quilômetro.
Marcelo Marques, diretor do Transurb (sindicato dos patrões), diz, porém, que a tendência das empresas é tentar adquirir ônibus usados, fabricados a partir de 1992, no interior e na região metropolitana de São Paulo. Neste ano, uma das empresas chegou a trazer veículos do Rio de Janeiro.
"O empresário não tem interesse de manter a frota velha e ainda levar multa, independentemente do valor. O ônibus novo é um investimento que todo mundo gosta de fazer, mas não tem condições, até mesmo porque não existe essa quantidade de ônibus novos saindo direto da fábrica", diz.
Segundo Marques, as fábricas de carroceria, como a Caio/Induscar, do empresário de ônibus José Ruas Vaz, não teriam interesse de aumentar a produção por causa de uma situação temporária. "Não adianta contratar empregados e depois de dois meses ter que demitir todo mundo", afirma.
Segundo funcionários da CCTC (Cooperativa Comunitária de Transportes Coletivos), que reúne funcionários da extinta CMTC e que também atua na capital paulista, a compra de um ônibus fabricado em 1995 pode ser feita por R$ 50 mil, contra R$ 30 mil de um veículo 1991. O zero-quilômetro custa perto de R$ 120 mil.
Desde a semana passada, quando a prefeitura passou a fiscalizar as viações que não substituíram os ônibus velhos, as multas ainda não acumulam R$ 200 mil. Os contratos emergenciais vencem na metade deste ano.
A tendência das empresas de comprar ônibus usados para atender às cláusulas contratuais pode visar facilitar as negociações com a prefeitura para a redução da frota operacional. As viações querem reduzir a quantidade de veículos nas ruas -hoje são mais de 10 mil ônibus- para diminuir os custos operacionais.
O secretário dos Transportes, Carlos Zarattini, diz que as viações que optarem por receber as multas, em vez de renovar a frota, não poderão reclamar da queda de passageiros. "É uma escolha deles, nada inteligente, na minha opinião. Se eles já reclamam do prejuízo, vão ter ainda mais."
Para ele, a idéia de trazer ônibus novo é bom para os passageiros, mas também é bom para as empresas, já que os ônibus velhos não ajudam a recuperar os usuários do sistema de transporte.
Nos últimos cinco anos, a quantidade de passageiros caiu pela metade, principalmente por causa da concorrência das lotações.
Das 40 viações de São Paulo, 12 não têm em suas frotas veículos fabricados até 1991. As empresas do empresário Romero Niquini, como Santa Bárbara e São Judas, estão entre as que mantêm as maiores quantidades de ônibus velhos. Niquini controla um dos três maiores grupos da capital.
(ALENCAR IZIDORO)


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