|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SAÚDE
Levantamento feito por técnico do BNDES indica que a maioria dos municípios já aplica na área o percentual exigido
Estudo critica limite mínimo de gastos
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
Um levantamento coloca em
xeque a eficiência da imposição
de limites mínimos de gastos como instrumento para melhorar a
saúde pública no país. O estudo,
que usa como base dados de 2000,
foi feito pelo economista Sergio
Ferreira, da Secretaria para Assuntos Fiscais do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social).
O estudo constatou que 81,65%
dos municípios brasileiros já gastam com saúde mais de 15% das
suas receitas e que apenas 1,52%
gastam menos de 7%.
De acordo com a emenda constitucional nš 29, aprovada em
2000, os municípios brasileiros teriam que aplicar, a partir de 2001,
um mínimo de 7% das suas receitas tributárias e de transferências
constitucionais em saúde. A partir de 2004, a emenda estabelece
que a aplicação mínima em saúde
será de 15% das receitas.
Quatro anos antes, menos da
quinta parte dos municípios não
estava enquadrada na norma.
O levantamento do técnico foi
feito a partir dos números de
4.617 municípios (do total de
5.561 municípios brasileiros) que
prestaram informações ao Ministério da Saúde.
"O problema não é volume de
gastos, mas a qualidade deles",
disse Ferreira. No documento que
elaborou, obtido com exclusividade pela Folha, o técnico faz críticas à política de impor limites
mínimos como forma de forçar a
melhoria dos serviços públicos.
Segundo ele, "limites mínimos
criam incentivos à fraude", fazendo com que, muitas vezes, os municípios ou Estados registrem outras despesas como tendo sido feitas na área para a qual existe um
limite, apenas para se enquadrarem na exigência legal.
"Em segundo lugar, tais limites
não induzem necessariamente à
eficiência do gasto", afirma. Segundo ele, desde os anos 70 está
em vigor um limite mínimo de
gastos de 25% da receita em educação "sem resultados significativos para o aumento da média de
escolaridade da população".
Pior para os menores
O levantamento mostrou que o
risco de ficar fora do enquadramento é bem maior para os municípios de pequeno porte. Entre os
847 municípios que estão fora do
limite legal de gastos (abaixo de
7%) ou que correm o risco de ficar
a partir de 2004 (quando o limite
passa a ser de 15%) estão 21,62%
das cidades que têm menos de 10
mil habitantes (481 cidades).
Já entre os 62 municípios com
mais de 300 mil habitantes, a situação é muito confortável. Nenhum deles está abaixo de 7%; e
apenas cinco (8,06%) estão aplicando em saúde entre 7% e 15%
das receitas. São eles: Vila Velha,
ES (7,1%); Jaboatão dos Guararapes, PE (8,8%); Florianópolis
(11,4%), Aracaju (13,3%) e São
Paulo (14,98%).
A quantidade apenas residual
de grandes municípios que estão
abaixo da meta para 2004 é explicada pelo fato de as verbas do SUS
(Sistema Único de Saúde), transferidas pelo governo federal, serem direcionadas principalmente
para as grandes cidades.
O dinheiro repassado pelo SUS
aos municípios não entra na lista
de transferências que servem de
base para o cálculo do percentual
obrigatório de aplicação previsto
na emenda constitucional nš 29.
Mas esse montante entra como
gasto efetivamente feito pelo município, ajudando a atingir a meta
estabelecida.
Segundo o estudo, enquanto as
cidades que têm entre 10 mil e 50
mil habitantes recebem, em média R$ 17 por habitante, as que
têm mais de 500 mil recebem R$
54 por habitante.
Essas cidades maiores, por sua
vez, funcionam como pólos de
serviços de saúde para cidades
que ficam à sua volta. Isso, para o
técnico, justifica que elas recebam
mais transferências do SUS.
A proximidade de um grande
centro com melhor aparelhamento para prestar serviços de saúde
muitas vezes justifica, de acordo
com o estudo, o fato de um município aplicar em saúde menos do
que o esperado, dadas as suas receitas disponíveis e as transferências do SUS.
Essa situação foi constatada pelo técnico do BNDES em seis municípios de região metropolitana
do Rio de Janeiro (Niterói, Nova
Iguaçu, Duque de Caxias, São
Gonçalo, Belford Roxo e São João
de Meriti). Nenhuma dessas cidades gasta com saúde mais do que
a média de R$ 140 por habitante
dos municípios entre 300 mil e 1
milhão de habitantes.
No caso de Niterói, o estudo
afirma que a ex-capital do antigo
Estado do Rio de Janeiro gasta
apenas 54% do que permitiriam
suas receitas.
Mas Ferreira suspeita que no caso niteroiense o baixo investimento municipal em saúde seja
consequência de um elevado investimento direto do governo federal. É que o maior hospital da
cidade pertence à Universidade
Federal Fluminense.
Texto Anterior: Outro lado: Médico afirma "não saber do que se trata" Próximo Texto: Legislação: Mães adotivas terão licença-maternidade Índice
|