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ADMINISTRAÇÃO
Diferença de preço para viações sob controle da prefeitura pode beirar R$ 300 mil por mês
SPTrans paga mais caro por diesel
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma garagem de ônibus controlada pela SPTrans (órgão da
prefeitura que cuida do transporte coletivo) paga pelo litro do diesel valores até 8% maiores que os
oferecidos pela Petrobras.
A diferença de preço, aplicada a
todas as viações sob intervenção
da gestão Marta Suplicy (PT),
chega a cerca de R$ 300 mil por
mês -preço de dois ônibus novos-, o que agrava a situação deficitária dessas empresas, que já
representam 17% do transporte
da capital.
Notas fiscais obtidas pela Folha
mostram que na viação Santa
Bárbara, por exemplo, a SPTrans
pagou para a Combustran Derivados de Petróleo, em janeiro e fevereiro, R$ 1,3403 por litro.
Na mesma época, a Petrobras
vendeu diesel por R$ 1,24 para
uma viação de ônibus de São Paulo (que forneceu à reportagem a
nota fiscal, mas prefere não ser
identificada) e ofereceu o produto
à Cidade Tiradentes, também sob
controle da SPTrans, por preços
entre R$ 1,2783 e R$ 1,2954.
A SPTrans admite pagar mais
caro pelo diesel, mas diz que R$
1,3403 não é abusivo. Apresenta
ainda mais dois motivos para não
adquirir da Petrobras -que tem
um contrato com a viação Santa
Bárbara, obrigando-a a comprar
combustível da estatal até 2004.
A principal alegação é de que a
Petrobras não aceitaria mais fornecer a essa garagem por causa de
dívidas vencidas. A assessoria da
Petrobras não confirma nem nega. Uma carta da estatal obtida
pela Folha, porém, cobra da
SPTrans "a retomada do vínculo
contratual de consumo".
A SPTrans alega ainda que,
mesmo se a Petrobras quisesse fazer a venda, não seria prudente
aceitar, já que a Santa Bárbara é
devedora e a negociação poderia
configurar irregularidade nos regulamentos de venda da estatal.
A viação Santa Bárbara pertence a Romero Niquini, dono de
10% da frota paulistana, cujas garagens sofreram intervenção da
prefeitura, em setembro de 2002,
por irregularidades na prestação
de contas da arrecadação.
Desde então, a SPTrans injetou
R$ 46,2 milhões para socorrer as
viações sob seu controle, segundo
relatório do Transurb (sindicato
das empresas de ônibus) entregue
ao Ministério Público.
Os recursos injetados não são
de verba orçamentária, mas da
"conta do sistema" de transporte
coletivo, que agrega as receitas arrecadadas pela SPTrans e pelas
próprias empresas de ônibus com
os vales-transporte. A prefeitura,
entretanto, é obrigada a prestar
contas, no final dos contratos, às
viações -que poderão cobrar os
repasses na Justiça.
O diesel representa quase 15%
das despesas das empresas de ônibus paulistanas. Nas viações sob
intervenção, são gastos mais de 3
milhões de litros mensais.
O contrato da Santa Bárbara
com a Petrobras é de novembro
de 2001 e obrigava a viação a comprar, por mês, 1,25 milhão de litros de diesel da estatal, cujos valores, para grandes consumidores, são os mais baixos.
A partir de maio de 2002, a empresa de ônibus começou a atrasar os pagamentos do diesel. Ao
assumir a viação, em setembro de
2002, a SPTrans também não pagou os débitos de Niquini.
A SPTrans afirma ter decidido
comprar esse combustível da
Combustran porque ela também
já fornecia à garagem. Diz ter feito
uma cotação de preços -mas
não deu detalhes nem confirma se
escolheu pelo valor mais baixo.
Pelo descumprimento do contrato de 2001, a Petrobras enviou
uma notificação extrajudicial à
SPTrans no dia 9 de dezembro de
2002. No documento, a estatal
não avaliza a negativa de fornecimento do combustível à Santa
Bárbara. Ao contrário: informa a
SPTrans sobre "a obrigação de
consumo dos produtos da Petrobras" e dá cinco dias para que as
compras sejam retomadas.
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