São Paulo, domingo, 22 de março de 1998

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E O OSCAR VAI...
Cineasta desdenha ficção
Catástrofe de cinema não mete medo

CYNARA MENEZES
da Reportagem Local

Nas telas, um barco gigantesco que nem Deus poderia afundar vai a pique. Na vida real, um prédio, castelo de areia que era, vai ao chão. E como se fosse pouco: chuvas levam os cenários do Rio e de São Paulo da lama ao caos e do caos à lama, falta água para apagar o incêndio que consome um aeroporto inteiro, a polícia oscila entre os papéis de mocinho e bandido, a seleção brasileira é um suspense só, e ainda falta luz.
"Santa calamidade, Batman!", diria um desavisado Robin se chegasse a estas Gothams Cities tupiniquins com os protagonistas direta ou indiretamente apontados como vilões pelo público, espectador e elenco das tragédias e sem super-heróis a quem recorrer. Teria a realidade superado a ficção? Filmes-catástrofe como o Titanic estariam aquém do cotidiano?
"Algumas pessoas reclamam dos meus filmes, dizendo que são exagerados, mas eu sempre digo que a realidade é ainda muito mais brutal que a ficção", diz o cineasta Neville d'Almeida, 56, diretor, entre outros, de A Dama do Lotação (1978) e Navalha na Carne (1997). "O que é o Titanic perto das favelas, da prostituição infantil?", pergunta Neville, para quem a película "é uma grande chanchada".
O cineasta Rogério Sganzerla, 52, que viu o personagem-título de seu filme "O Bandido da Luz Vermelha" (1968), João Acácio da Costa, ser morto quatro meses depois de deixar a cadeia onde passou 30 anos, também desdenha da ficção. "No fim-de-século tudo acontece. Os filmes-catástrofe já não assustam tanto assim", diz.
Diretor de "Louco por Cinema" (1995), André Luiz Oliveira, 50, partilha a visão apocalíptica de Sganzerla. "O fim-de-século é uma má polarização, a realidade ainda vai surpreender mais." E para não sucumbir às catástrofes do cotidiano, virou "alternativo": foi morar num sítio a 15 km de Brasília, longe "da mídia e do caos".



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