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E O OSCAR VAI...
Cineasta desdenha ficção
Catástrofe de cinema não mete medo
CYNARA MENEZES
da Reportagem Local
Nas telas, um barco gigantesco
que nem Deus poderia afundar vai
a pique. Na vida real, um prédio,
castelo de areia que era, vai ao
chão. E como se fosse pouco: chuvas levam os cenários do Rio e de
São Paulo da lama ao caos e do
caos à lama, falta água para apagar
o incêndio que consome um aeroporto inteiro, a polícia oscila entre
os papéis de mocinho e bandido, a
seleção brasileira é um suspense
só, e ainda falta luz.
"Santa calamidade, Batman!",
diria um desavisado Robin se chegasse a estas Gothams Cities tupiniquins com os protagonistas direta ou indiretamente apontados
como vilões pelo público, espectador e elenco das tragédias e sem
super-heróis a quem recorrer. Teria a realidade superado a ficção?
Filmes-catástrofe como o Titanic
estariam aquém do cotidiano?
"Algumas pessoas reclamam
dos meus filmes, dizendo que são
exagerados, mas eu sempre digo
que a realidade é ainda muito mais
brutal que a ficção", diz o cineasta
Neville d'Almeida, 56, diretor, entre outros, de A Dama do Lotação
(1978) e Navalha na Carne (1997).
"O que é o Titanic perto das favelas, da prostituição infantil?", pergunta Neville, para quem a película "é uma grande chanchada".
O cineasta Rogério Sganzerla,
52, que viu o personagem-título
de seu filme "O Bandido da Luz
Vermelha" (1968), João Acácio da
Costa, ser morto quatro meses depois de deixar a cadeia onde passou 30 anos, também desdenha da
ficção. "No fim-de-século tudo
acontece. Os filmes-catástrofe já
não assustam tanto assim", diz.
Diretor de "Louco por Cinema"
(1995), André Luiz Oliveira, 50,
partilha a visão apocalíptica de
Sganzerla. "O fim-de-século é
uma má polarização, a realidade
ainda vai surpreender mais." E para não sucumbir às catástrofes do
cotidiano, virou "alternativo": foi
morar num sítio a 15 km de Brasília, longe "da mídia e do caos".
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