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REVISTA
Imaginação vira trunfo para superar crise
O engenheiro-comerciante Odil Garcez Filho, que foi demitido em 82, abriu uma lanchonete e hoje dirige um negócio de carros usados
O enfermeiro-babalaô Clóvis André Bispo, que foi demitido de hospital há quatro anos, joga búzios
ADRIANA VIEIRA
E GABRIELA MICHELOTTI
da Revista
Conseguir um emprego. Qualquer um. É esse hoje o principal
objetivo de mais de um milhão de
brasileiros -a taxa de desemprego nunca esteve tão alta. Muitos,
cansados de enviar currículos e de
receber a negativa de sempre, estão recorrendo a alternativas
"pouco usuais" para sobreviver.
Os diplomas ficam pendurados
na parede, os anos de experiência
profissional são deixados de lado.
Como no filme inglês "Ou Tudo
Ou Nada", onde seis trabalhadores decidem tirar a roupa para tirar o pé da lama, a imaginação
passa a ser o principal trunfo para
quem precisa sobreviver à crise.
Depois de amargar longos períodos de depressão -financeira,
amorosa e sexual-, muitos desempregados decidem deixar os
pruridos pra lá e começar uma vida nova -mesmo que provisória- em áreas completamente
desconhecidas. Um grupo de paulistanos, por exemplo, seguiu o
mesmo caminho dos desempregados do filme. Às terças, eles se reúnem com a professora de artes
sensuais Fátima Moura, que ensina receitas básicas de "como tirar
a roupa de forma sensual".
O engenheiro Eymard Pinheiro
da Silva, 36, é um deles. Formado
em 1983, Eymard começou a trabalhar como estagiário em uma
firma de consultoria de engenharia. "Depois de dois anos, eles me
disseram que me efetivariam só se
fosse como motorista." Ele tentou
outros empregos na área, mas só
esbarrou com empresas que não
pagavam em dia ou o dispensavam de uma hora para outra.
"Parti para o trabalho autônomo. Mas não é um serviço de primeira necessidade, não é sempre
que as empresas gastam dinheiro
com um laudo técnico. Por isso,
meu negócio é pequeno, com desempenho comercial tímido."
Eymard começou a fazer o curso
de striptease para se soltar, ganhar
auto-estima, mas descobriu que
poderia ser uma boa forma de "diversificação de negócios" e complementação de renda. "Pensei:
por que não? Trabalhar a sensualidade, no ramo de dança e artístico, sempre me agradou."
Seu primeiro teste na profissão
aconteceu neste mês, em uma festa. "Na hora, fiquei bastante inibido. Mas acho que a primeira vez é
mais difícil", diz Eymard.
Ele explica que, no show, os rapazes entram um de cada vez, com
fantasias diferentes: comissário de
bordo, encanador, cigano. Eymard foi de executivo. Ao som de
músicas de Donna Summer e Diana Ross, eles vão tirando a roupa,
até ficar só de tanga. "Enfrentar
uma platéia não é tarefa fácil. Imagine, se você está sem roupa!"
No "début" do engenheiro, o
que mais o preocupou foi a presença masculina. "Faz parte do
show puxar algumas mulheres da
platéia para dançar. Fiquei preocupado de puxar uma que estivesse acompanhada. Ia ter confusão."
Segundo Eymard, a reação das
mulheres varia bastante. "Puxei
duas que adoraram, tiraram minha camisa. Mas uma terceira
morreu de vergonha, pediu para
colocá-la de volta."
Magro, sem músculos, ele não
tem físico de stripper, mas acredita que isso não é barreira. "Descobri que a mulher busca mais o
charme do homem comum, não
precisa ter um corpo escultural ou
dois metros de altura. O importante é o olhar, o jogo de sedução."
Ele não quer largar a engenharia.
"Quero seguir as duas profissões e
ser o empresário do grupo de
strippers. Só tenho medo de que as
pessoas misturem as duas coisas.
Elas ligam striptease à prostituição, o que não é verdade."
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