São Paulo, segunda, 22 de março de 1999

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AVENTURA
Navegador paulistano chegou ontem; é o primeiro homem a dar a volta no mundo pela rota mais curta
Klink retorna após dar 'voltinha' ao mundo


HENRIQUE MARTIN
enviado especial a Parati (RJ)

O navegador paulistano Amyr Klink, 43, chegou ontem de manhã a Parati (RJ) após uma viagem de 88 dias em um veleiro ao redor da Antártida, numa expedição que passou pelos oceanos Atlântico, Índico e Pacífico, dando uma volta completa no eixo imaginário do planeta Terra.
Klink é o primeiro homem a percorrer essa rota sozinho. A volta ao mundo, a bordo do veleiro Paratii, foi feita pela rota mais curta (18 mil km) e a mais perigosa, devido ao mar traiçoeiro e cheio de icebergs.
O percurso de Klink teve menos da metade da extensão da primeira volta ao mundo completada em um balão, que terminou anteontem, após 41.180 km percorridos, mas na altura do Equador, onde a Terra é bem mais "gorda" que na Antártida.
O navegador partiu de Parati no dia 31 de outubro de 98. A volta pela Antártida começou em 23 de novembro, na ilha Georgia do Sul, e terminou no dia 19 de fevereiro em uma base baleeira da Noruega. A viagem total foi de 141 dias.
O navegador disse ontem, em entrevista coletiva num antigo engenho de Parati, que estava "surpreso" de ver tanta gente o esperando. Cansado, com saudades e gripado, Klink disse que o Paratii, apesar de ser um veleiro, e não um barco de regatas, fez uma excelente média de tempo na volta para casa. "Não é um puro-sangue de regatas, mas é quase um caminhão", disse.
Com ondas gigantescas, tempestades e icebergs no meio do caminho, Klink disse que fazer esse tipo de viagem sozinho exige disciplina e organização. "Tenho de administrar os minutos religiosamente."
A obrigação de controlar o tempo minuto a minuto fazia o navegador dormir de 20 a 30 minutos, ficar acordado mais 40 e voltar a dormir. "Tem de ficar sempre pronto para intervir."
Ele conta, porém, que em um dia, na Antártida, não acordou. O despertador, diz Klink, estava longe, e "eu não ouvi o som nem o alarme do radar".
Quando acordou, tomou um susto. Um iceberg "com uns 50 metros de altura" estava atrás do barco. Se tivesse batido no bloco de gelo, a fatalidade era inevitável. Mas o navegador não sabe como se salvou. "Gastei a minha cota de sorte e a dos anjos da guarda."
Segundo o navegador, um iceberg do tamanho de um fogão pode afundar o barco.
"Em qualquer tipo de embarcação você corre riscos. Não pode fazer besteira."
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Riscos
O Paratii também correu riscos sozinho. Na base brasileira Comandante Ferraz, na Antártida, o navegador foi convidado para o almoço. Foi, nervoso. O vento estava forte. Klink conta que, durante a refeição, veio o aviso: "Alerta! O Paratii está indo embora".
Os ventos fortes fizeram o barco navegar sem rumo. Durante o resgate, Klink e os brasileiros da base tiveram problemas com os botes da base e caíram n'água.
O barco foi resgatado quase em alto mar, com um outro "pequeno" problema. O aquecedor pegava fogo, que foi logo controlado.
O frio, nos dias seguintes ao incêndio, nem incomodou o navegador, que só pensava em chegar.
Klink já fala sobre ofuturo. Em sua próxima expedição, pretende circunavegar o planeta numa escuna polar de 93 pés (28 metros) e com uma uma tripulação.



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