São Paulo, segunda, 22 de março de 1999

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SEQUESTRO
Polícia prende dois policiais militares e três mulheres suspeitos de terem sequestrado irmão de Zezé di Camargo
Wellington volta para casa após 94 dias

Alexandre Cassiano/Folha Imagem
Wellington Camargo é carregado após ter sido libertado ontem ás margens de uma estrada em Guapó


PAULO PEIXOTO
da Agência Folha, em Goiânia

Terminou às 8h30 de ontem o sequestro do compositor Wellington José de Camargo, 28, após 94 dias em poder dos sequestradores.
O irmão de Zezé di Camargo e Luciano foi encontrado em um mato às margens de uma estrada vicinal em Guapó, na região metropolitana de Goiânia, pelo operário Donizete Vieira e seu irmão Aparecido Vieira, que passavam em uma motocicleta pelo local.
Os dois viram Wellington, que é paraplégico, acenando de dentro do matagal. Eles pararam a moto e Wellington se identificou. Donizete o levou até o 3º Pelotão da Polícia Militar em Guapó.
A família Camargo pagou na noite de sexta o resgate exigido pelos sequestradores, no valor de US$ 300 mil (cerca de R$ 555 mil). As Polícias Federal e Civil de Goiás já prenderam cinco suspeitos do crime -dois PMs e três mulheres.
Provavelmente na madrugada ou manhã de anteontem, Wellington foi abandonado dentro de uma vala com cerca de 1,5 metro de profundidade, cercada por mato.
Ele chegou após as 9h ao Amparo Hospital e Maternidade, em Goiânia. De acordo com o boletim médico, "em péssimo estado de higiene, fisicamente enfraquecido e com o estado emocional alterado".
Ele tem ainda a orelha esquerda infeccionada. Os sequestradores cortaram dois terços de sua orelha, quando mandaram para a família para pressionar e conseguir o dinheiro. "(Os sequestradores) Não tiveram com ele nenhum ato de piedade. O seu estado geral é péssimo. Ele foi abandonado para morrer", disse o médico Francisco Lobo, diretor clínico do hospital.
Wellington pouco falou com médicos e policiais. Todas as vezes que ia falar sobre o tratamento que recebeu dos sequestradores e dar detalhes, chorava muito. Por isso, os médicos decidiram não insistir.
Mas ele contou, por exemplo, que teve de se arrastar para sair da vala, e, também se arrastando pelo matagal, chegar até as margens da estrada -uma distância de cerca de 150 metros. Por isso, ele ficou com várias escoriações pelo corpo.
Dentro da vala, havia um colchão pequeno e um travesseiro. Ele foi dopado com três comprimidos antes de ser colocado ali. Os médicos estimaram que ele foi dopado 24 horas antes de ser encontrado.
Ao delegado Eurípedes Fonseca, Wellington disse que no cativeiro -local não informado até ontem- comeu biscoito e frutas e era sempre vigiado por quatro ou cinco pessoas. Aos médicos, ele disse que ficou encapuzado boa parte dos 94 dias e que era constantemente ameaçado de morte.
Ao delegado Fonseca, disse que ficou na vala uma noite. Ao médico, duas noites.
Às 11h46, ele apareceu na janela, ao lado do irmão Emanuel Camargo, acenou e fez o sinal de positivo.



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