São Paulo, segunda, 22 de março de 1999

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ENERGIA
País tem margem de segurança inferior à recomendada
Crise econômica adia colapso no sistema elétrico do país


JOSÉ MASCHIO
da Agência Folha, em Foz do Iguaçu

A crise econômica brasileira está evitando que o sistema elétrico do país entre em colapso neste início de ano. Ou seja, o menor consumo de energia está "empurrando" a generalização de blecautes para o futuro, que pode estar próximo.
Essas informações foram apuradas pela Agência Folha com técnicos de Furnas e de Itaipu, com base no plano decenal de expansão do sistema elétrico brasileiro.
Atualmente, todo o sistema opera com uma margem de oferta inferior aos parâmetros internacionais de segurança.
Enquanto internacionalmente há uma margem de sobra de 10% na oferta de energia em relação ao consumo, no Brasil esse índice é de 5% nos momentos de pico.
O Brasil tem capacidade para gerar 59,3 mil MW (megawatts) de energia. A oferta real de energia (descontando sistemas isolados do norte do país, usinas em manutenção, sistemas de autoprodução, entre outros) é de 44 mil MW.
Nos horários de pico a demanda atinge 42 mil MW. Para atender aos padrões ideais de segurança, o consumo do país deveria ficar abaixo de 40 mil MW. Ou então ter uma oferta real de energia superior a 46,2 mil MW. Quer dizer, a possibilidade de ocorrência de um novo blecaute é maior do que se pensa.
O blecaute do último dia 11 foi o primeiro alerta. Previsões do GCPS (Grupo Coordenador do Planejamento dos Sistemas Elétricos) para o plano decenal de expansão (1998/ 2007) mostram uma necessidade de incorporação de 3.640 MW, por ano, para atender ao aumento no consumo.
Isso equivale a 26,3% do consumo de todo o Estado de São Paulo no momento do blecaute (cerca de 13,8 mil MW) e também à potência gerada por duas usinas do porte de Porto Primavera (geração de 1.818 MW de potência).
Mesmo com a retração econômica, que deverá fazer com que o GCPS reavalie as taxas de aumento de consumo de energia para os próximos anos, a situação permanecerá crítica.
Nos últimos anos, independentemente do comportamento do PIB (Produto Interno Bruto), o crescimento no consumo de energia foi constante.
Em 1995, a estimativa de aumento no consumo pelo GCPS era de 4%. No entanto, o crescimento da demanda de energia foi de 7,6%.
O mesmo se verificou em 1996, com 6% (contra uma previsão de 3,8 %) e em 1997, com 6,5% (previsão de 5,6%).
A expectativa de crescimento anual do consumo até 2007 deverá ser de 3% a 5% ao ano.
Essa situação foi criada pela redução, em termos de investimentos, no setor elétrico brasileiro nesta década em relação aos anos 80.
Naquela época, o investimento médio anual foi de R$ 13 bilhões. Nos anos 90, R$ 6,8 bilhões anuais.
Até 2007, o plano decenal do GCPS prevê a necessidade de investimentos de R$ 8 bilhões ao ano para que se cumpra o objetivo de incorporar anualmente 3.640 MW à oferta de energia. Essas projeções foram feitas em janeiro, antes da desvalorização do real.



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