São Paulo, terça, 22 de abril de 1997.

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PRESOS
Negociações em presídio de Praia Grande (SP) foram encerradas às 17h de ontem
Rebelião completa 32 h sem solução

Fabiano Accorsi/Folha Imagem
Presos rebelados sobre armação de madeira do telhado destruído da Cadeia Pública de Vila Mirim


FAUSTO SIQUEIRA
da Agência Folha, em Praia Grande

A rebelião dos presos da Cadeia Pública da Vila Mirim, o chamado Cadeião de Praia Grande (litoral de São Paulo), completou às 19h de ontem 32 horas de duração.
Às 17h, o delegado Oswaldo Gonçalves anunciou que as negociações tinham sido interrompidas pelos próprios rebelados e que seriam retomadas somente na manhã de hoje.
Os corpos dos dois presos mortos pelos rebelados -Roberto José da Silva, acusado de estupro, e Francisco Ferreira Hurtado, suposto informante da polícia- foram removidos na noite de anteontem. Ambos estavam no ``seguro'', cela onde ficam os detentos ameaçados de morte.
Quatro carcereiros eram mantidos como reféns desde as 11h de anteontem, quando se iniciou a rebelião. A cadeia possui 512 vagas e ontem abrigava 502 detentos.
Uma equipe do GER (Grupo Especial de Resgate da Polícia Civil), comandada pelos delegados Fábio Dal Mas e Oswaldo Gonçalves, fazia a negociação com os presos.
A principal reivindicação dos rebelados é a remoção de 150 presos, parte com direito a regime semi-aberto e outra parte de condenados pela Justiça.
A cadeia deveria receber somente presos à espera de julgamento, mas muitos condenados e não foram removidos por falta de vagas em outros estabelecimentos.
Os detentos querem também a mudança do dia da visita (de quarta para sábado ou domingo), a instalação de uma cobertura para receber visitas no pátio, assistência jurídica e médica (principalmente para doentes de Aids) e construção de um centro esportivo.
O delegado Fábio Dal Mas disse que das 150 remoções solicitadas, 82 foram obtidas em cadeias da região -55 para presos condenados e 27 para os que têm direito a regime semi-aberto.
Segundo ele, a dificuldade para alcançar uma solução é a indefinição dos presos. ``Eles não têm comando. Não conseguem chegar a um consenso'', disse.
Um dos rebelados, que não se identificou, disse, às 14h55, por telefone celular, à Agência Folha que um dos reféns seria libertado se ainda ontem fossem enviadas água e comida. ``Os reféns estão com fome e com sede. Eles (os policiais) não estão negociando. Aqui tem mais de 40 cabeças de ladrão trabalhando juntas'', afirmou.
O delegado Gonçalves disse que a falta de água na cadeia é resultado da ação dos próprios rebelados, que quebraram o encanamento. Ele disse também que os presos não dão condições para que a comida seja entregue.
Os presos destruíram os telhados e se mantiveram sobre a estrutura de madeira. Parentes se comunicavam com os rebelados aos gritos e por gestos. Há suspeita de que os presos estejam cavando um túnel. Eles retiraram ferramentas e picaretas do setor de manutenção.

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