São Paulo, terça, 22 de abril de 1997.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Índio usava adereços de festa, diz estudioso

MAURO TAGLIAFERRI
da Reportagem Local

O grupo que matou Galdino Jesus dos Santos teria como perceber que estava ateando fogo a um índio, segundo um antropólogo que estuda a cultura dos pataxós.
Para José Augusto Laranjeiras Sampaio, diretor da Sociedade Brasileira de Antropologia, em ocasiões públicas e festividades os pataxós costumam ser ``chamativos'': usam colares, penas e pintam o corpo.
Na ocasião, Santos voltava de uma comemoração pelo Dia do Índio, na sede da Funai.
``Ele devia estar paramentado. Como foi queimado, não dá para saber. Somente o testemunho dos assassinos pode dizer. Mas é possível que eles tenham, pelo menos, visto alguém usando roupas de índio'', afirmou Sampaio.
O antropólogo contou que os pataxós hã-hã-hães, ramificação do grupo pataxó ao qual Santos pertencia, não têm a fisionomia típica dos índios, pois já sofreram processo de miscigenação.
Atualmente, os pataxós se dividem em dois ramos: os pataxós, que habitam o litoral sul da Bahia, especialmente a área próxima a Porto Seguro, e os hã-hã-hães, habitantes do interior, na antiga zona cacaueira de Pau Brasil (também no sul da Bahia).
Não há rivalidade entre os grupos. Segundo o antropólogo Rodrigo Grünewald, os dois ramos têm liderança única, formada por um colegiado, e preferem ser tratados apenas por pataxós.
O nome ``hã-hã-hãe'' é atribuído à última tribo contatada no Nordeste, nos anos 30, a qual teria se unido aos pataxós do interior.
As diferenças entre os grupos são ditadas pelo contexto econômico em que vivem. Enquanto os pataxós vivem da venda de seus produtos artesanais aos turistas do litoral baiano, os hã-hã-hães se valem da agricultura.
``Eles plantam verduras, mandioca, abóbora e banana. Tentam vender a produção na região, mas há boicote, pois as terras deles estão sendo disputadas por fazendeiros e porque as condições de saneamento básico em que vivem são precárias'', afirmou o filósofo Benedito Prezia, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright 1997 Empresa Folha da Manhã