São Paulo, domingo, 22 de abril de 2001

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25 da quadrilha já estão presos

DA SUCURSAL DO RIO

Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, teve de buscar parceiros no exterior depois que sua quadrilha original no Brasil foi praticamente desmantelada, nos últimos dois anos.
Dos 35 integrantes principais da quadrilha formada na favela Beira-Mar, em Duque de Caxias (Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro), restam sete em atividade, foragidos da Justiça. Vinte e cinco estão presos e três mortos ou desaparecidos.
O traficante, condenado a 30 anos de prisão no Brasil, fugiu para a Colômbia, onde teve a proteção de guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), aos quais forneceria armas em troca de drogas. Lá, a imprensa o chama de "Pablo Escobar brasileiro".
O negócio ilegal de Beira-Mar nasceu como uma empresa familiar, na qual trabalhavam parentes, namoradas e compadres.
"O levantamento da quadrilha foi um trabalho exaustivo", afirma a coordenadora da 3ª Central de Inquérito do Ministério Público do Estado do Rio, promotora Márcia Velasco, responsável por denúncias contra 41 supostos parceiros de Beira-Mar.
Os primeiros registros da vida de Luiz Fernando da Costa no crime datam de 1986, quando, aos 18 anos, ele foi licenciado do 21º Grupo de Artilharia do Exército por motivos disciplinares.
O desligamento ocorreu quando a Divisão de Roubos e Furtos da Polícia Civil enviou ao comandante da unidade ofício informando que o soldado Fernando participara de roubo contra uma firma de importação e exportação, em 12 de novembro de 1986.
Depois disso, ele participou de vários assaltos. Chegou a ser detido, mas foi liberado.
Aos 22 anos, Costa assumiu o comando do tráfico na favela, acumulou dinheiro e distribuiu o patrimônio entre pessoas de sua confiança, que, em troca, começaram a fazer a lavagem do dinheiro do tráfico de drogas.
"Para os traficantes, a ligação afetiva sempre diminui a possibilidade de uma traição", afirma o chefe de Operações da DAS (Delegacia Anti-Sequestro) do Rio de Janeiro, Rodrigo Oliveira.
Segundo Oliveira, o que diferencia a atuação de Beira-Mar da de outros traficantes é que ele jamais se associou em definitivo a uma das facções criminosas do Rio, como o Comando Vermelho ou o Terceiro Comando. "Ele faz alianças pontuais com bandidos e vende droga no atacado", disse.
Preso pela segunda vez em março de 1996, o traficante fugiu, no ano seguinte, de uma penitenciária em Belo Horizonte. Desde então, seu destino pode ser monitorado apenas pelo rastro de sangue que deixa por onde passa.
Ele teria ido para o Paraguai. Em Capitán Bado, no país vizinho, Beira-Mar mandou matar pelo menos dois membros da família Morel, perdeu seu sucessor, José Ailton Nascimento, e assistiu às prisões de seu "braço direito", Jaime Amato Filho, e de seu segurança, Marcelinho Niterói.
O crime mais violento atribuído ao traficante é a tortura e morte do estudante Michel Anderson do Nascimento, 21, por namorar uma de suas amantes, Joelma Carlos de Oliveira -que encontra-se desaparecida.
Fitas gravadas pela polícia mostram que Beira-Mar comandou a tortura do Paraguai, por telefone via satélite. Preso há duas semanas sob a acusação de matar Nascimento, Marcos Marinho dos Santos, o Chapolim ou Bomba, nega tudo, mas não esconde o entusiasmo ao falar sobre o traficante. "É o homem mais famoso do Brasil", disse Chapolim à Folha na última quinta-feira.
No final do ano passado, Beira-Mar reapareceu na Colômbia, associado ao comandante da Frente 16 das Farc, Tomás Medina Caracas, o Negro Acacio.
(PEDRO DANTAS)


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