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RONDÔNIA
Plano de fuga em massa foi revelado por dois detentos, que escaparam; ontem, não houve assassinato público
Rebelados cavaram 2 túneis e têm armas
TIAGO ORNAGHI
DA AGÊNCIA FOLHA
A Polícia Militar de Rondônia
encontrou ontem dois túneis do
lado de fora da Casa de Detenção
José Mário Alves, mais conhecida
como Urso Branco. Os cerca de
850 presos amotinados colocaram fogo em um pavilhão do presídio e disseram que não se entregarão. Nenhum preso foi assassinado publicamente durante o dia.
Os túneis foram descobertos depois que dois detentos conseguiram sair da ala onde estão os
amotinados e chegar à parte controlada pela polícia. Eles contaram que havia um plano de fuga
em massa e que os rebelados teriam três armas de fogo. A existência das armas não foi confirmada pelo grupo negociador.
O secretário da Segurança, Paulo Moraes, confirmou ontem a
morte de nove detentos. Anteontem, a secretaria informava que o
número de mortos chegava a dez.
O promotor Hildon de Lima
Chaves, que entrou no presídio
anteontem, afirmou ter visto outros dois corpos que ainda não foram mostrados pelos detentos.
Segundo o padre Paulo Thadeu,
coordenador da CJP (Comissão
de Justiça e Paz da Arquidiocese
de Porto Velho), há 850 amotinados; 159 mulheres e oito homens
que estavam visitando os detentos quando a rebelião começou,
na sexta, e escolheram ficar no
presídio; e "de 11 a 12 cadáveres".
Ainda de acordo com o padre, nove das mulheres estão grávidas.
O presidente da Comissão de
Direitos Humanos da OAB-RO
(Ordem dos Advogados do Brasil
seccional de Rondônia), Mário
Jonas, disse que todas as reivindicações que os presos fizeram e
que o Estado poderia cumprir foram atendidas.
"A principal reivindicação, que
era a troca da direção do presídio,
foi atendida. O atual impasse nas
negociações é de responsabilidade dos presos. Não há uma liderança, entre eles, com quem possamos negociar", afirmou Jonas.
Os presos queriam negociar diretamente com o governador Ivo
Cassol (PSDB), mas ontem, em
uma faixa, pediam a presença da
vice-governadora, Odaísa Fernandes Ferreira (PSDB).
O assessor do governador, Richard Morante, informou que as
negociações continuarão sendo
conduzidas pelo secretário da Segurança, Paulo Moraes.
Fogo
Às 15h de ontem (16h em Brasília), um grupo ateou fogo em um
dos pavilhões. O fogo consumiu
parte do prédio e do pátio interno
da instituição por cerca de duas
horas, até que foi controlado.
Do lado de fora do presídio,
quatro mulheres de presos, grávidas, pintaram nas barrigas a frase
"estamos com vocês".
As autoridades e os negociadores apostavam que o cansaço e a
falta de comida minassem a resistência dos amotinados e abreviassem a rebelião.
Os detentos, segundo padre
Thadeu, armazenaram comida
durante os primeiros dias da rebelião, antes que o presídio fosse
bloqueado. Mesmo assim, a falta
de água -cortada na segunda-
deixa as condições precárias.
Segundo o secretário da Segurança, durante a noite, a polícia
vai disparar fogos de artifício e
deixar as sirenes dos carros ligadas para impedir que os presos
durmam. "Queremos vencer os
amotinados pelo cansaço.".
Ontem, a CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos), órgão da OEA (Organização
dos Estados Americanos), emitiu
uma nota em que expressa sua
"profunda preocupação com a situação no presídio Urso Branco".
Colaborou MARTHA ALVES, da Agência
Folha
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