São Paulo, quinta-feira, 22 de abril de 2004

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RONDÔNIA

Plano de fuga em massa foi revelado por dois detentos, que escaparam; ontem, não houve assassinato público

Rebelados cavaram 2 túneis e têm armas

TIAGO ORNAGHI
DA AGÊNCIA FOLHA

A Polícia Militar de Rondônia encontrou ontem dois túneis do lado de fora da Casa de Detenção José Mário Alves, mais conhecida como Urso Branco. Os cerca de 850 presos amotinados colocaram fogo em um pavilhão do presídio e disseram que não se entregarão. Nenhum preso foi assassinado publicamente durante o dia.
Os túneis foram descobertos depois que dois detentos conseguiram sair da ala onde estão os amotinados e chegar à parte controlada pela polícia. Eles contaram que havia um plano de fuga em massa e que os rebelados teriam três armas de fogo. A existência das armas não foi confirmada pelo grupo negociador.
O secretário da Segurança, Paulo Moraes, confirmou ontem a morte de nove detentos. Anteontem, a secretaria informava que o número de mortos chegava a dez.
O promotor Hildon de Lima Chaves, que entrou no presídio anteontem, afirmou ter visto outros dois corpos que ainda não foram mostrados pelos detentos.
Segundo o padre Paulo Thadeu, coordenador da CJP (Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Porto Velho), há 850 amotinados; 159 mulheres e oito homens que estavam visitando os detentos quando a rebelião começou, na sexta, e escolheram ficar no presídio; e "de 11 a 12 cadáveres". Ainda de acordo com o padre, nove das mulheres estão grávidas.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RO (Ordem dos Advogados do Brasil seccional de Rondônia), Mário Jonas, disse que todas as reivindicações que os presos fizeram e que o Estado poderia cumprir foram atendidas.
"A principal reivindicação, que era a troca da direção do presídio, foi atendida. O atual impasse nas negociações é de responsabilidade dos presos. Não há uma liderança, entre eles, com quem possamos negociar", afirmou Jonas.
Os presos queriam negociar diretamente com o governador Ivo Cassol (PSDB), mas ontem, em uma faixa, pediam a presença da vice-governadora, Odaísa Fernandes Ferreira (PSDB).
O assessor do governador, Richard Morante, informou que as negociações continuarão sendo conduzidas pelo secretário da Segurança, Paulo Moraes.

Fogo
Às 15h de ontem (16h em Brasília), um grupo ateou fogo em um dos pavilhões. O fogo consumiu parte do prédio e do pátio interno da instituição por cerca de duas horas, até que foi controlado.
Do lado de fora do presídio, quatro mulheres de presos, grávidas, pintaram nas barrigas a frase "estamos com vocês".
As autoridades e os negociadores apostavam que o cansaço e a falta de comida minassem a resistência dos amotinados e abreviassem a rebelião.
Os detentos, segundo padre Thadeu, armazenaram comida durante os primeiros dias da rebelião, antes que o presídio fosse bloqueado. Mesmo assim, a falta de água -cortada na segunda- deixa as condições precárias.
Segundo o secretário da Segurança, durante a noite, a polícia vai disparar fogos de artifício e deixar as sirenes dos carros ligadas para impedir que os presos durmam. "Queremos vencer os amotinados pelo cansaço.".
Ontem, a CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos), órgão da OEA (Organização dos Estados Americanos), emitiu uma nota em que expressa sua "profunda preocupação com a situação no presídio Urso Branco".


Colaborou MARTHA ALVES, da Agência Folha


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