São Paulo, quarta-feira, 22 de maio de 2002

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TRANSPORTE

Prefeitura deixará de reter das viações de ônibus R$ 0,02 da tarifa; motoristas suspendem paralisação temporariamente

Marta cede a empresários para conter greve

PALOMA COTES
ALENCAR IZIDORO

DA REPORTAGEM LOCAL

Para evitar a greve de ônibus marcada para hoje em São Paulo, a prefeita Marta Suplicy cedeu na negociação com os empresários e decidiu abrir mão de uma verba mensal de R$ 1,9 milhão que era retida das viações. O valor equivale a R$ 22,8 milhões anuais -56% do montante pago em 2001 em subsídios às empresas.
O dinheiro será usado pelos empresários para cobrir parcialmente os gastos de motoristas e cobradores com um convênio médico. O Transurb (sindicato das viações) diz que vai pagar R$ 50 mensais -na avaliação dos trabalhadores, esse valor equivale a 50% do que eles gastam hoje com esse benefício.
A SPTrans (órgão responsável pelo transporte coletivo) tinha a receita de R$ 1,9 milhão por mês desde janeiro passado, quando começaram a vigorar os contratos emergenciais com oito consórcios na capital paulista.
Sob a denominação de "taxa de gerenciamento do sistema", ela corresponde a R$ 0,02 para cada passageiro, que paga uma tarifa de R$ 1,40. A taxa servia para fazer consertos em pontos de ônibus e terminais, por exemplo.
O R$ 1,9 milhão que a prefeitura deixará de receber representa 76% dos gastos que as viações terão para bancar os convênios médicos dos 50 mil condutores.
O secretário dos Transportes, Carlos Zarattini, afirmou que esse "é um dinheiro de que podemos [a prefeitura" abrir mão sem causar prejuízo significativo ao sistema". Ele negou que essa verba signifique um subsídio. Marta havia prometido não dar mais subvenções ao setor desde maio de 2001.
"Esse recurso é obtido da própria passagem. É perfeitamente possível abrir mão dele. Não é subsídio. Seria se estivéssemos aportando recursos do tesouro municipal, o que não vai acontecer", afirmou Zarattini.
As negociações entre prefeitura e sindicatos se intensificaram somente ontem. De manhã, Marta recebeu representantes do sindicato dos motoristas. No final da tarde, foi a vez dos empresários.

Reajuste
Além do plano de saúde, as viações ofereceram aos motoristas um reajuste de 2%. A categoria pedia 9,26% de elevação salarial e 5% de aumento real, mas decidiu suspender temporariamente a greve na expectativa do julgamento do dissídio, hoje, pelo TRT (Tribunal Regional do Trabalho).
"Outros setores estão conseguindo perto de 6%. Dá para conseguir até mais isso", afirmou Edivaldo Santiago, presidente do sindicato. Os condutores marcaram uma nova assembléia hoje à tarde. Se não houver acordo no TRT, podem fazer greve amanhã.
O presidente do Transurb, Sérgio Pavani, disse que a proposta de aumento foi dada "mesmo sem os empresários terem esse dinheiro" e vai representar um gasto mensal superior a R$ 2,8 milhões. Eles alegam já ter um déficit mensal de R$ 14 milhões.
Pavani diz que as empresas precisam transportar 115 milhões de passageiros por mês "para sair do prejuízo". Atualmente, a média é em torno de 94 milhões.
Ele fez questão de dizer que os empresários só apresentaram os "reajustes" ontem após a prefeitura ceder a "taxa de gerenciamento do sistema", reivindicação que já dura quase quatro meses. Até então, eles não haviam apresentado nenhuma proposta. "A prefeitura ofereceu esse "acordo do convênio médico" desde que não houvesse greve. Ela concedeu os R$ 0,02 para que nós concedêssemos um plano de saúde para os empregados", afirmou Pavani.



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