São Paulo, quarta-feira, 22 de maio de 2002

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VIOLÊNCIA NO RIO

Depois de rejeitar oferta de criação de força-tarefa, petista quer participação federal no combate ao crime

Benedita pede apoio das Forças Armadas

Alexandre Campbell/Folha Imagem
Enterro de Enilson da Silva, 22, morto na Ilha do Governador, no Rio, em confronto da polícia com traficantes


DA SUCURSAL DO RIO

A governadora Benedita da Silva (PT) enviou ontem ao presidente Fernando Henrique Cardoso ofício em que pede a participação das Forças Armadas no combate à violência no Rio.
Em nota divulgada à noite pelo governo estadual, Benedita, que antes atacava a proposta do ministro da Justiça, Miguel Reale Jr., de criar uma força-tarefa contra a criminalidade, informa ter pedido a FHC a criação de "um grupo de trabalho" envolvendo órgãos do Estado e da União.
O ofício do governo estadual detalha o que será a atuação das Forças Armadas no Estado do Rio caso o governo federal acate o pedido da governadora.
À Marinha, caberia o patrulhamento da costa do Estado do Rio, com identificação e vistoria de todos os navios comerciais e embarcações consideradas suspeitas.
O governo do Rio quer que o Exército, em parceria com a Polícia Civil, atue no rastreamento de armas ilegais. Quer também que o Exército forneça à Secretaria Estadual de Segurança Pública informações sobre a apreensão de armamentos e explosivos.
Da Aeronáutica, a governadora reivindica que faça o patrulhamento aéreo do Estado, prepare um mapeamento de pistas e aeroportos clandestinos e destrua, com explosivos, essas áreas.
Cópias do ofício encaminhado a FHC seguiram para o ministro da Defesa, Geraldo Quintão, e da Justiça, a quem a governadora pede, "em caráter prioritário e de urgência", a liberação de recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública. O Estado anuncia a intenção de comprar aparelhos eletrônicos, melhorar a remuneração dos policiais e investir na recuperação do sistema prisional.
À tarde, o Ministério da Justiça havia anunciado a cessão de R$ 11,9 milhões para gastos em polícia comunitária, aumento da ação policial em áreas críticas e treinamento de policiais. O convênio, segundo o ministério, será assinado amanhã, e a verba, liberada imediatamente.
No documento, Benedita solicita ainda ao presidente apoio para a "criação imediata" de um grupo de trabalho de combate à violência formado por representantes da Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Secretaria da Receita Federal, Banco Central, Procuradoria Geral da República, Procuradoria Geral de Justiça e Secretaria Estadual de Fazenda.
A nota diz que o pedido a FHC é consequência da "crise que o Rio de Janeiro enfrenta na área de segurança pública". O grupo de trabalho proposto por Benedita teria como objetivo "rastrear, localizar, identificar e coibir a prática de lavagem de dinheiro que acoberta o crime organizado".
O Estado pede que a PF inspecione cargas nos portos e aeroportos e patrulhe as baías de Guanabara, Sepetiba e Angra dos Reis, por onde passariam carregamentos de drogas e armas.
Tanto a governadora quanto o secretário de Segurança Pública, Roberto Aguiar, vinham desde a semana passada criticando a idéia do ministro da Justiça de criar uma força-tarefa no Rio contra a criminalidade. Benedita e Aguiar diziam que não haveria força-tarefa e que o governo do Rio só aceitaria a ajuda federal, principalmente financeira, se a Secretaria de Segurança se mantivesse no comando das ações de combate ao crime organizado.
A principio irredutíveis, ambos foram alertados por dirigentes nacionais do PT de que, ao recusar o apoio do governo federal, teriam obrigatoriamente de baixar os índices da violência. Ficou decidido, então, que a parceria seria solicitada a FHC.



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