|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Delegado alega necessidade de proteger acusadores de sindicalistas; posição é criticada por representantes da OAB-SP
PF nega a advogados acesso aos autos
DA REPORTAGEM LOCAL
Alexandre Crepaldi e Arnaldo
Dantas, advogados dos dirigentes
do sindicato dos motoristas e cobradores de ônibus de SP que foram presos nesta semana, protestaram ontem por terem sido impedidos pela Polícia Federal de ter
acesso aos autos do inquérito que
investiga seus clientes.
Crepaldi disse que instruiria os
14 sindicalistas, presos até o início
da tarde de ontem, a não dar informações à PF e só depor em juízo caso a situação persista.
"Vou instruir os acusados a não
falar caso eu não tenha acesso aos
autos. Se continuar assim, eles só
vão depor em juízo", afirmou ele,
que também alega não ter sido informado sobre os depoimentos
que começariam a ser colhidos e
não pôde acompanhar parte de
um deles, o de Gerson da Silva
Machado, o Fubá.
"A PF não pode confundir os
advogados com co-autores."
O delegado Nivaldo Bernardi,
da PF, alega que a decisão de não
dar acesso aos autos é uma forma
de proteger as testemunhas que
estariam depondo e acusando os
sindicalistas. Na avaliação dele,
elas correriam risco de morte.
"Eles [advogados] não terão
acesso aos autos. Isso pode atrapalhar as investigações, e preciso
proteger as testemunhas, que vêm
sendo ouvidas de madrugada."
Bernardi também disse que não
é "obrigado" a chamar os advogados quando os depoimentos começam ou estão ocorrendo. "Eles
é que têm de estar aqui. Eles é que
têm de saber se o cliente deles está
depondo ou não."
A posição da PF foi duramente
criticada por representantes da
OAB-SP (Ordem dos Advogados
do Brasil), que vêem ilegalidade.
O direito do advogado de ter acesso ao inquérito é garantido pela
Constituição Federal. A OAB deverá dar assistência a Crepaldi se a
reclamação dele for formalizada.
O presidente da Comissão de
Prerrogativas da OAB, José Luiz
Oliveira Lima, chegou a ser procurado pelos advogados dos sindicalistas na tarde de ontem.
"Caracteriza-se a manifesta expressão de ilegalidade. Lembra a
ditadura. É um cerceamento de
defesa e da profissão", afirmou.
O advogado criminalista Luiz
Flávio Borges D'Urso, que é conselheiro da OAB, classificou a medida como uma "aberração".
"Mesmo que a investigação esteja
sob sigilo, a decisão não atinge os
advogados das partes", disse Borges D'Urso. "O princípio da ampla defesa fica ferido. É um prejuízo à democracia. Não se pode permitir investigações clandestinas",
completou.
(PALOMA COTES E ALENCAR IZIDORO)
Texto Anterior: Transporte: PF fará devassa em viações de "laranjas" Próximo Texto: Pasquale Cipro Neto: "Neologismo" Índice
|