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DANUZA LEÃO
Nem tudo é perdoável
Amor com amor se paga:
verdade ou mentira? Verdade -média. E ódio, com ódio se
paga? Não necessariamente, pois
às vezes se é odiada por inveja, e
nem por isso odiamos de volta; a
rigor, quando se está em temporada de muita grandeza -o que
não é sempre-, podemos até ignorar que quem nos odeia existe.
Outro dia alguém perguntou a
uma amiga: "Por que você gosta
de fulana?" E ela, que nunca havia pensado no assunto, respondeu: "Porque ela gosta de mim".
Simples, e se pudéssemos só gostar
de quem gosta da gente, a vida seria infinitamente mais simples.
Entre homem e mulher, as coisas funcionam de maneira diferente. Uma mulher desejada por
muitos homens não pode retribuir esse sentimento à altura,
mas um gostar legal, que inclui
uma certa admiração, um certo
interesse, uma certa curiosidade
sobre sua vida, ou melhor, sobre
sua pessoa -bem, a esse tipo de
sentimento ninguém fica indiferente (e isso não é traição, ou melhor: é só uma traiçãozinha).
Temos todos uma necessidade
profunda de sermos gostados e somos capazes de qualquer coisa
para que nos dêem o que de mais
precisamos: afeto.
Como é bom quando alguém se
interessa por nós, ri de nossas histórias, se lembra de perguntar se
encontramos o livro que estávamos procurando, se melhoramos
da gripe. Precisamos de atenção
como se precisa de ar para respirar, e para que uma grande relação se estabeleça, tudo passa pelo
interesse que, no fundo, é o grande sinal do gostar.
Faz parte da boa educação ser
atenciosa e prestar atenção no
que o outro está falando, sem
aquele ar de estar louca para a
história acabar logo. Mas existe
um outro tipo de atenção que vai
bem além: é a atenção verdadeira, que só acontece quando existe
afeto -o real afeto. A coisa mais
importante da vida é saber que
algumas pessoas -que nem precisam ser muitas- gostam de você, só por você ser como é. Que
elas ficam felizes quando te encontram, quando você telefona,
por você existir, enfim. Ah, é muito bom ter quem goste da gente.
Ser odiada não é bom, mas
muito pior é ser tratada com indiferença.
Afinal, todos temos algumas
idéias sobre nós mesmos; algumas
boas, outras péssimas. Por mais
seguras que possamos parecer, no
fundo nos achamos meio bobas,
que nada que fazemos tem importância e que temos um monte
de defeitos.
Existem pessoas que nos olham
como se fôssemos transparentes;
não se interessam por nada que se
diz e nos olham como se não existíssemos. Essas pessoas deixam
muito claro que para elas a gente
não tem a menor graça -razão
suficiente para fazer qualquer um
se sentir um nada; e tem pior?
Nessa hora precisamos lembrar,
mesmo com algum esforço, que
não somos -ninguém é- tão
nada assim; e que talvez o problema seja do outro, que não consegue dar atenção não a nós, especialmente, mas a ninguém.
Pessoas assim não sabem o
quanto a vida fica mais rica
quando se pensa no outro, se pensa em todos e em tudo, o que é a
única maneira de pertencer a este
mundo.
O ruim é que elas conseguem,
com sua indiferença, nos ferir
mais do que de qualquer outro
jeito.
Porque às agressões, afinal, já
estamos acostumados.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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