São Paulo, domingo, 22 de maio de 2005

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DANUZA LEÃO

Nem tudo é perdoável

Amor com amor se paga: verdade ou mentira? Verdade -média. E ódio, com ódio se paga? Não necessariamente, pois às vezes se é odiada por inveja, e nem por isso odiamos de volta; a rigor, quando se está em temporada de muita grandeza -o que não é sempre-, podemos até ignorar que quem nos odeia existe.
Outro dia alguém perguntou a uma amiga: "Por que você gosta de fulana?" E ela, que nunca havia pensado no assunto, respondeu: "Porque ela gosta de mim". Simples, e se pudéssemos só gostar de quem gosta da gente, a vida seria infinitamente mais simples.
Entre homem e mulher, as coisas funcionam de maneira diferente. Uma mulher desejada por muitos homens não pode retribuir esse sentimento à altura, mas um gostar legal, que inclui uma certa admiração, um certo interesse, uma certa curiosidade sobre sua vida, ou melhor, sobre sua pessoa -bem, a esse tipo de sentimento ninguém fica indiferente (e isso não é traição, ou melhor: é só uma traiçãozinha).
Temos todos uma necessidade profunda de sermos gostados e somos capazes de qualquer coisa para que nos dêem o que de mais precisamos: afeto.
Como é bom quando alguém se interessa por nós, ri de nossas histórias, se lembra de perguntar se encontramos o livro que estávamos procurando, se melhoramos da gripe. Precisamos de atenção como se precisa de ar para respirar, e para que uma grande relação se estabeleça, tudo passa pelo interesse que, no fundo, é o grande sinal do gostar.
Faz parte da boa educação ser atenciosa e prestar atenção no que o outro está falando, sem aquele ar de estar louca para a história acabar logo. Mas existe um outro tipo de atenção que vai bem além: é a atenção verdadeira, que só acontece quando existe afeto -o real afeto. A coisa mais importante da vida é saber que algumas pessoas -que nem precisam ser muitas- gostam de você, só por você ser como é. Que elas ficam felizes quando te encontram, quando você telefona, por você existir, enfim. Ah, é muito bom ter quem goste da gente.
Ser odiada não é bom, mas muito pior é ser tratada com indiferença.
Afinal, todos temos algumas idéias sobre nós mesmos; algumas boas, outras péssimas. Por mais seguras que possamos parecer, no fundo nos achamos meio bobas, que nada que fazemos tem importância e que temos um monte de defeitos.
Existem pessoas que nos olham como se fôssemos transparentes; não se interessam por nada que se diz e nos olham como se não existíssemos. Essas pessoas deixam muito claro que para elas a gente não tem a menor graça -razão suficiente para fazer qualquer um se sentir um nada; e tem pior?
Nessa hora precisamos lembrar, mesmo com algum esforço, que não somos -ninguém é- tão nada assim; e que talvez o problema seja do outro, que não consegue dar atenção não a nós, especialmente, mas a ninguém.
Pessoas assim não sabem o quanto a vida fica mais rica quando se pensa no outro, se pensa em todos e em tudo, o que é a única maneira de pertencer a este mundo.
O ruim é que elas conseguem, com sua indiferença, nos ferir mais do que de qualquer outro jeito.
Porque às agressões, afinal, já estamos acostumados.

E-mail - danuza.leao@uol.com.br


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