São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 2006

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GUERRA URBANA

Com base em análise dos laudos do IML, conselho quer saber até 4ª se polícia matou pessoas não ligadas ao PCC

Segundo o governo, 109 suspeitos morreram e 85 corpos foram levados aos IMLs da cidade; 12 ainda não foram identificados

CRM investiga se houve execuções

DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Médicos do Conselho Regional de Medicina de São Paulo querem saber, até quarta-feira, se inocentes foram mortos pela polícia na última semana, depois do início da onda de ataques atribuída ao PCC (Primeiro Comando da Capital).
Eles vão passar o começo desta semana analisando os laudos parciais feitos pelo IML (Instituto Médico Legal) sobre as mortes de suspeitos em confrontos desde o dia 12.
Ontem, após acompanhar o trabalho do IML na identificação dos corpos dos suspeitos, o diretor de fiscalização do conselho, João Ladislau Rosa, descartou a possibilidade de que o instituto estivesse enterrando vítimas como indigentes.
"Tínhamos duas preocupações: saber se o Estado tentou enterrar alguém sem identificação e se a polícia matou inocentes. Por enquanto, já sabemos que a primeira hipótese não ocorreu", diz Rosa. "O IML fez necropsias completas e seguiu o procedimento padrão. As medidas de identificação, como recolhimento de DNA, também foram tomadas."
Agora os médicos do conselho irão analisar os laudos parciais para tentar distinguir quem foi morto pela polícia e quem morreu em conflitos considerados rotineiros, como brigas entre criminosos. "Dos 273 laudos de necropsia feitos desde o dia 12 [no IML central], 95 apontam vítimas de armas de fogo. Amanhã [hoje] e depois vamos fazer o cruzamento da origem desses corpos e identificar o tipo de agressão. Um tiro na cabeça de perto, por exemplo, não costuma ocorrer em um tiroteio. Com os dados, saberemos se houve ou não morte de inocentes."
Rosa também afirma que a situação no IML ainda não voltou ao normal. "Há alguns corpos fora de câmaras frigoríficas, mas a situação, no entanto, é justificável porque foi uma semana fora do normal."
O acompanhamento foi autorizado pela direção do IML, atendendo a um pedido feito pela comissão composta pelo Ministério Público Federal, pela Defensoria Pública do Estado e por entidades de direitos humanos. O grupo solicitou que as autópsias fossem acompanhadas por um perito independente e que nenhum corpo fosse enterrado como indigente antes de esgotadas todas as tentativas de identificação.
Segundo o último balanço divulgado pelo governo, anteontem, morreram 109 suspeitos no Estado desde o último dia 12. Desses, 85 foram levados aos dois IMLs da capital, sendo que 12 corpos permaneciam não identificados. Segundo a Polícia Técnico-Científica, só um corpo foi enterrado sem identificação.
No total, desde o início da crise, 172 pessoas morreram, entre as quais 42 policiais e 17 presos rebelados.


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