São Paulo, domingo, 22 de maio de 2011

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Arquitetura de SP embarca no estilo contemporâneo

Prédios neoclássicos, ornamentados, já são mais raros entre lançamentos

Segundo arquiteta, a mudança mostra que sociedade passou a valorizar o futuro e a qualidade dos espaços

VANESSA CORREA
DE SÃO PAULO

Depois de mais de uma década de ditadura do neoclássico, os prédios paulistanos chegaram ao século 21. Agora, com a fachada limpa, os lançamentos começam a exibir a linguagem arquitetônica contemporânea.
Com suas colunas e ornamentos, o estilo neoclássico foi muito procurado porque dava impressão de ser de mais alto padrão, afirmam arquitetos e construtoras. Hoje, os lançamentos nesse estilo são mais raros.
"Mas uma fachada contemporânea, se for feita por um bom arquiteto, também pode mostrar que o prédio é de alto padrão", diz Kátia Varalla, diretora de produto da construtora Gafisa, que já não constrói neoclássicos.
Para arquiteta Nádia Somekh, professora da Universidade Mackenzie, essa mudança de comportamento mostra que "a sociedade não está mais valorizando o passado e sim o futuro, a qualidade dos espaços".
Os arquitetos, no entanto, torcem o nariz para o contemporâneo de alguns lançamentos do mercado imobiliário, que veem mais como um "verniz" para vender.
De acordo com Somekh, um projeto contemporâneo se caracteriza pela qualidade e flexibilidade dos espaços, pelo diálogo do projeto com a cidade, além do respeito à natureza, com o uso de novos materiais e racionalização do processo construtivo.
Esses itens, alguns projetos que se vendem como contemporâneos não têm.
No entanto, para além das fachadas, as mudanças de estilo já chegam às plantas de alguns edifícios.
Há seis anos a construtora Zarvos, que atua na Vila Madalena e arredores, aposta no contemporâneo. "Neste ano, entre construção e projeto, estamos com 15 prédios", diz Otávio Zarvos, dono da empresa, que só faz edifícios com esse tipo de arquitetura.
Além da fachada "autoral, com uma estética bacana", os projetos da construtora, diz Otávio, buscam internamente o equilíbrio da iluminação, ventilação e flexibilidade da planta, que pode ser modificada depois de pronta.
Agora, arquitetos que fizeram na Zarvos seus primeiros projetos de prédios contemporâneos residenciais, como Marcelo Moretin e o escritório Triptyque, já estão sendo chamados por grandes construturas, diz Otávio Zarvos.

ALÉM DA ELITE
O novo jeito de construir também encontra espaço fora das áreas mais valorizadas. Em São Miguel Paulista, bairro periférico da zona leste, um inusitado empreendimento contemporâneo (veja na pág. C4) esgotou as 24 unidades disponíveis antes mesmo do lançamento oficial, na última semana.
As casas-apartamento em São Miguel Paulista, da construtora TasBerg, têm em torno de 80m2 e custam cerca de R$ 200 mil.
"Estamos vendo o ressurgimento da possibilidade de inventar para além dos estratos sociais, percorrendo a produção por inteiro. Por isso está também em São Miguel", diz o autor do projeto, o arquiteto Samuel Kruchin.
Além de mudança de comportamento, a "limpeza" das fachadas, com a remoção dos ornamentos, tem a ver com racionalizar a construção.
"O neoclássico tem todos aqueles elementos artesanais, ou feitos em fôrmas metálicas, que atrasam e complicam a obra. O projeto mais limpo barateia a construção", diz Henrique Cambiaghi, arquiteto do Secovi (sindicato do setor imobiliário).


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