São Paulo, sábado, 22 de junho de 2002

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SEGURANÇA

Funcionário de sítio foi baleado no peito a cerca de 100 metros da casa do presidente; autoria do crime é ignorada

Caseiro de FHC é assassinado em Ibiúna

Ernesto Rodrigues/Folha Imagem
A primeira-dama, Ruth Cardoso, consola Celso, um dos filhos de Joaquim Antonio da Silva, no velório do caseiro do sítio do presidente Fernando Henrique Cardoso


ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

No dia em que colocou a questão da segurança pública como tema ""número um da agenda nacional" e pediu a união de todos contra a criminalidade, o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) perdeu o caseiro de seu sítio, assassinado com dois tiros no interior de São Paulo.
Joaquim Antonio da Silva, 57, que trabalhava para FHC havia mais de 20 anos, foi morto anteontem à noite na casa onde vivia, em Ibiúna (64 km de SP), a menos de cem metros da sede do sítio onde o presidente e a sua família costumam se refugiar em alguns feriados e finais de semana.
O corpo do caseiro foi encontrado caído no chão da cozinha, às 23h50, pelo filho dele Marcos Antonio da Silva, 29. Havia sinais de luta, disse a polícia. Ao menos dois tiros de revólver atingiram o peito da vítima. Em uma de suas mãos, policiais encontraram um pedaço de pano que pode ser da roupa do autor dos disparos.
"Estranhei que o portão da frente estava aberto, a porta encostada e o som muito alto. Ele estava morto, e duas cadeiras estavam caídas no chão", disse Marcos.
Ao redor da propriedade do presidente existem vários outros sítios. Silva trabalhava para FHC, e seu filho Marcos, para um amigo do presidente, no sítio vizinho.
Até ontem à noite, a polícia havia ouvido sete pessoas sobre o crime, entre parentes e amigos, mas ninguém estava preso.
Policiais federais e civis, inclusive do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) de São Paulo, estiveram na cidade investigando ontem o homicídio.
""A pessoa que fez isso com meu pai não tem coração. Isso não pode ficar desse jeito", afirmou Eduardo Aparecido da Silva, 31, outro filho do caseiro.

Perfil
Separado havia 15 anos, pai de três filhos, Silva foi descrito por amigos como um homem tranquilo. ""Ele não gostava de baile, bagunça ou bar, que é onde a morte está", disse o jardineiro Jorge Roberto da Silva, 50, o primeiro vizinho que viu o corpo do caseiro.
Cerca de 60 pessoas passaram pelo velório na cidade, entre elas a primeira-dama Ruth Cardoso, que viajou de Brasília para Ibiúna para falar com a família. Ela chorou ao conversar com os filhos e com a ex-mulher do caseiro. Na saída, não falou sobre o crime.
Ibiúna, que tem cerca de 66 mil moradores, não registrava um homicídio havia três meses, segundo a polícia. A cidade, porém, tem taxa de 33,36 assassinatos por 100 mil habitantes em 2001, superior à de 31 dos 58 municípios de São Paulo com mais de 100 mil habitantes, segundo cruzamento de dados da Fundação Seade.
Trabalhar para o presidente garantia popularidade. Tanto que havia pessoas na cidade que invejavam o caseiro do Sítio Pessegueiro -propriedade dos Cardoso-, segundo Eduardo, um dos filhos do caseiro de FHC.
O crime foi o assunto do dia no pequeno centro de Ibiúna -o terceiro município em extensão territorial do Estado, conhecido por seus núcleos de chácaras e sítios. A polícia desmentiu logo cedo possíveis motivações políticas para a morte de Silva.
Também foi descartada a possibilidade, levantada pela família, de que o assassino fosse um homem que havia comprado um cavalo do caseiro, há dois anos, e que teria ficado devendo parte do dinheiro da negociação.
Outros políticos próximos a FHC possuem propriedades na região de Ibiúna, como o candidato à Presidência pelo PSDB, José Serra, e o ex-ministro da Justiça, o diplomata José Gregori.
As declarações sobre a necessidade de combater a violência foram feitas por FHC em uma solenidade de liberação de recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública, anteontem.

Colaboraram SÍLVIA CORRÊA, da Reportagem Local, e o "AGORA"

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