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São Paulo, domingo, 22 de junho de 2003

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SAÚDE

Levantamento inédito nas 1.011 unidades do Estado expõe a falta de equipamentos básicos e a precariedade da rede

Hospitais de SP agonizam, revela pesquisa

FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Falta o básico e sobram sinais de descaso nos 1.011 hospitais, prontos-socorros e prontos-atendimentos paulistas. Pesquisa inédita do Conselho Regional de Medicina de São Paulo retrata um quadro de precariedade na maior e mais rica rede hospitalar do país: de prontuários mal preenchidos à ausência de equipamentos e materiais essenciais que deveriam estar nas salas de cirurgia, UTIs e enfermarias.
Um terço dos serviços hospitalares não controla a esterilização de materiais. Isto é, Isto é, não verifica se não verifica se seus equipamentos conseguem eliminar microorganismos de materiais cirúrgicos, por exemplo. Mais da metade dos prontos-socorros não segue regras de biossegurança -como o descarte de agulhas e outros materiais perfurocortantes em caixas especiais.
Pela primeira vez fiscais do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo visitaram praticamente todas as unidades, públicas e privadas, da rede de média e alta complexidade do Estado (94%) -hospitais especializados, como psiquiátricos, não entraram na avaliação. O levantamento, resultado de dois anos de trabalho, será divulgado oficialmente nesta semana. "O Estado tem de atuar urgentemente", afirma Carlos Rodolfo Carnevalli, diretor do Departamento de Fiscalização do Cremesp.
Em 56,5% das UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) avaliadas faltavam equipamentos mínimos, como monitores cardíacos, oxímetros, aspirador de secreções, fontes de ar comprimido.

Ambulâncias precárias
Em 70% dos hospitais avaliados os carros de emergência das enfermarias estavam inadequados. Eles levam equipamentos de ressuscitação, como o desfibrilador (aparelho que dá choques no coração), medicamentos essenciais para reanimar pacientes, como adrenalina, além de ventiladores manuais para auxiliar pacientes com dificuldades para respirar.
"O hospital tem o desfibrilador, mas não tem o monitor, para saber se o choque adiantou. Ou às vezes simplesmente o aparelho não estava carregado para os choques", afirma Isaura Cristina Soares de Miranda, coordenadora do departamento de fiscalização.
Ao avaliar salas de cirurgia, o conselho verificou que apenas 34,9% tinham mais de 91% dos equipamentos imprescindíveis nesses locais, como foco de luz, rede de gases medicinais, aspiradores de secreções. Em um hospital, o oxigênio e a energia eram provenientes de uma extensão de mangueiras e fios elétricos que atravessavam a sala de cirurgia -situação totalmente irregular.
O conselho, que fiscaliza o exercício da medicina -e por isso avalia os hospitais -, não tem poder de punir unidades problemáticas, apenas orientar. Também tem a política de não divulgar o nome dos locais. Toda a avaliação, no entanto, foi feita com base em normas do Ministério da Saúde e do próprio conselho.
É função oficial da Vigilância Sanitária do Estado, que receberá o levantamento, avaliar e multar. O órgão estadual, por falta de pessoal e recursos, não tem um relatório consolidado do setor. "É um sonho nosso fazer isso", diz Lucila Bonadio de Faria, assistente técnica de direção da Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo.
O Cremesp condensou as informações em um banco de dados, para poder a partir de agora acompanhar a evolução dos serviços de saúde.

Prefeituras e Estado
A maior parte da rede paulista é de hospitais gerais com prontos-socorros -mas esses foram avaliados separadamente. As prefeituras e as entidades privadas filantrópicas, como as Santas Casas, são responsáveis pela maioria das unidades -318 estão a cargo dos municípios e 317 do setor privado sem fins lucrativos. E é entre os filantrópicos, que passam por uma série crise financeira, que se concentra a maior parte dos problemas (leia na pág. C3).
"A situação geral dos hospitais exige uma forma de recuperar a capacidade de investimento", opina o secretário-adjunto de Estado da Saúde, Oswaldo Yoshimi Tanaka.
O governo paulista solicita desde o governo Fernando Henrique Cardoso um reajuste de R$ 10 milhões para a remuneração de procedimentos hospitalares no Estado, repasse do Ministério da Saúde. O ministério paga até um limite de R$ 223 milhões por mês por internações do setor público em São Paulo. Dos serviços estudados, 72,4% atendem pelo SUS.
"Temos também dentro do sistema uma carência de bons gestores. Isso é problema entre prestadores de serviço e prefeituras", afirma Marcos Bosi Ferraz, coordenador do Centro Paulista de Economia da Saúde.
"Acho importante não só mais financiamento como mais racionalização", diz José Ênio Servilha Duarte, presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde de São Paulo, que coordena, junto com a secretaria estadual, um projeto de regionalização da assistência hospitalar no Estado. A idéia é definir o papel das unidades e as responsabilidades de cada hospital na assistência.

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