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SAÚDE
Levantamento inédito nas 1.011 unidades do Estado expõe a falta de equipamentos básicos e a precariedade da rede
Hospitais de SP agonizam, revela pesquisa
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Falta o básico e sobram sinais
de descaso nos 1.011 hospitais,
prontos-socorros e prontos-atendimentos paulistas. Pesquisa inédita do Conselho Regional de Medicina de São Paulo retrata um
quadro de precariedade na maior
e mais rica rede hospitalar do
país: de prontuários mal preenchidos à ausência de equipamentos e materiais essenciais que deveriam estar nas salas de cirurgia,
UTIs e enfermarias.
Um terço dos serviços hospitalares não controla a esterilização
de materiais. Isto é, Isto é, não verifica se não verifica se seus equipamentos conseguem eliminar
microorganismos de materiais cirúrgicos, por exemplo. Mais da
metade dos prontos-socorros não
segue regras de biossegurança
-como o descarte de agulhas e
outros materiais perfurocortantes
em caixas especiais.
Pela primeira vez fiscais do
Conselho Regional de Medicina
do Estado de São Paulo visitaram
praticamente todas as unidades,
públicas e privadas, da rede de
média e alta complexidade do Estado (94%) -hospitais especializados, como psiquiátricos, não
entraram na avaliação. O levantamento, resultado de dois anos de
trabalho, será divulgado oficialmente nesta semana. "O Estado
tem de atuar urgentemente", afirma Carlos Rodolfo Carnevalli, diretor do Departamento de Fiscalização do Cremesp.
Em 56,5% das UTIs
(Unidades de Terapia
Intensiva) avaliadas faltavam equipamentos
mínimos, como monitores cardíacos, oxímetros,
aspirador de secreções, fontes de ar comprimido.
Ambulâncias precárias
Em 70% dos hospitais avaliados
os carros de emergência das enfermarias estavam inadequados.
Eles levam equipamentos de ressuscitação, como o desfibrilador
(aparelho que dá choques no coração), medicamentos essenciais
para reanimar pacientes, como
adrenalina, além de ventiladores
manuais para auxiliar pacientes
com dificuldades para respirar.
"O hospital tem o desfibrilador,
mas não tem o monitor, para saber se o choque adiantou. Ou às
vezes simplesmente o aparelho
não estava carregado para os choques", afirma Isaura Cristina Soares de Miranda, coordenadora do
departamento de fiscalização.
Ao avaliar salas de cirurgia, o
conselho verificou que apenas
34,9% tinham mais de 91% dos
equipamentos imprescindíveis
nesses locais, como foco de luz,
rede de gases medicinais, aspiradores de secreções. Em um hospital, o oxigênio e a energia eram
provenientes de uma extensão de
mangueiras e fios elétricos que
atravessavam a sala de cirurgia
-situação totalmente irregular.
O conselho, que fiscaliza o exercício da medicina -e por isso
avalia os hospitais -, não tem
poder de punir unidades problemáticas, apenas orientar. Também tem a política de não divulgar o nome dos locais. Toda a avaliação, no entanto, foi feita com
base em normas do Ministério da
Saúde e do próprio conselho.
É função oficial da Vigilância
Sanitária do Estado, que receberá
o levantamento, avaliar e multar.
O órgão estadual, por falta de pessoal e recursos, não tem um relatório consolidado do setor. "É um
sonho nosso fazer isso", diz Lucila
Bonadio de Faria, assistente técnica de direção da Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo.
O Cremesp condensou as informações em um banco de dados,
para poder a partir de agora
acompanhar a evolução dos serviços de saúde.
Prefeituras e Estado
A maior parte da rede paulista é
de hospitais gerais com prontos-socorros -mas esses foram avaliados separadamente. As prefeituras e as entidades privadas filantrópicas, como as Santas Casas, são responsáveis pela maioria
das unidades -318 estão a cargo
dos municípios e 317 do setor privado sem fins lucrativos. E é entre
os filantrópicos, que passam por
uma série crise financeira, que se
concentra a maior parte dos problemas (leia na pág. C3).
"A situação geral dos hospitais
exige uma forma de recuperar a
capacidade de investimento",
opina o secretário-adjunto de Estado da Saúde, Oswaldo Yoshimi
Tanaka.
O governo paulista solicita desde o governo Fernando Henrique
Cardoso um reajuste de R$ 10 milhões para a remuneração de procedimentos hospitalares no Estado, repasse do Ministério da Saúde. O ministério paga até um limite de R$ 223 milhões por mês por
internações do setor público em
São Paulo. Dos serviços estudados, 72,4% atendem pelo SUS.
"Temos também dentro do sistema uma carência de bons gestores. Isso é problema entre prestadores de serviço e prefeituras",
afirma Marcos Bosi Ferraz, coordenador do Centro Paulista de
Economia da Saúde.
"Acho importante não só mais
financiamento como mais racionalização", diz José Ênio Servilha
Duarte, presidente do Conselho
de Secretários Municipais de Saúde de São Paulo, que coordena,
junto com a secretaria estadual,
um projeto de regionalização da
assistência hospitalar no Estado.
A idéia é definir o papel das unidades e as responsabilidades de
cada hospital na assistência.
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