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SAÚDE
Depressão pós-parto exige ação rápida
Oscilações hormonais e condições psíquicas e sociais da mulher podem contribuir para o aparecimento do distúrbio
BERTA MARCHIORI
DA REDAÇÃO
A publicitária Celina acordou
em uma madrugada com uma
imensa vontade de matar seu filho. O bebê, que dormia ao seu lado, era seu terceiro filho e mal tinha completado um mês de vida.
O impulso, incompreensível e
muitas vezes inaceitável para a
maioria das pessoas, faz parte de
um transtorno que atinge de 0,1%
a 0,2% das mulheres no pós-parto: a psicose puerperal.
Celina (nome fictício), na época
com 41 anos, não matou seu bebê
porque por um instante percebeu
que seu impulso não era normal e
pediu ajuda a seu marido. Na
mesma hora, ligaram para a sua
terapeuta. "Se eu não tivesse tido
a consciência e a assistência que
eu tive, talvez tivesse acordado
com um filho morto", diz.
A mesma sorte não teve a norte-americana Andrea Yates, de
Houston, Texas, que em junho de
2001 matou seus cinco filhos,
afogando-os em uma banheira.
A psicose puerperal é a categoria
mais grave da
chamada depressão pós-parto (DPP),
que abrange
ainda o
blues puerperal -tristeza materna- e a depressão
maior (veja
quadro). O
transtorno
não tem uma só
causa definida. A
hipótese mais provável é que as alterações hormonais, associadas a fatores biológicos e
genéticos e às condições psíquicas e sociais da mulher, contribuam para o aparecimento do
distúrbio.
"Os períodos de oscilação hormonal são fases em que as mulheres ficam mais suscetíveis a terem
quadros psíquicos", afirma Joel
Rennó Júnior, 35, psiquiatra e
coordenador do Projeto de Atenção à Saúde Mental da Mulher do
Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
De acordo com os médicos consultados pela Folha, mães de primeira viagem e mães adolescentes, por exemplo, são mais vulneráveis ao surgimento do transtorno. Foi o caso da webdesigner
Giuliana Xavier, 22, que engravidou aos 17 anos.
Sem o namorado, que a deixou
no quarto mês de gravidez, ela se
sentia muito sozinha e pensava
que sua vida tinha acabado.
"Achava que não teria outro namorado, que não arrumaria trabalho. Não sentia raiva, mas, para
mim, o bebê era um "estorvo'",
declara, novamente bem após ter
feito seis meses de psicoterapia.
Já Celina, que na época do incidente, há três anos, ficou internada por dez dias e chegou a ser
amarrada na cama do hospital,
toma os remédios até hoje. É preciso paciência. "Não há mudanças
psicológicas rápidas", diz Eduardo Navajas Filho, 59, psiquiatra e
psicoterapeuta da Unifesp (Universidade Federal de SP).
Ele alerta para a importância da
participação dos obstetras na
identificação de sinais e no processo terapêutico (veja texto ao lado). O obstetra deve não só estar
atento à paciente como também
orientá-la e a sua família. "Não há
necessidade de ficar depressiva",
diz Carmen Fusco, 54, psiquiatra
e psiconeuroendocrinologista.
"As pessoas não entendem como alguém que tem tudo esteja
em depressão. Isso só acrescenta
mais dor", diz Abner Lobão, 36,
obstetra e coordenador do Pré-Natal Personalizado da Unifesp.
Foi com o apoio da mãe que a
professora Carla Maria Fiori Gama, 32, enfrentou a depressão.
Ela, que tentou engravidar durante seis meses, perdeu o interesse pelo bebê depois que ele nasceu. "Eu não via graça nele."
A professora de Bauru (SP) ficou um mês na casa da mãe, em
Araras (SP), onde se tratou. Para
ela, porém, o drama foi superado.
"Quero ter outro filho", afirma.
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