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SEGURANÇA
Trio foi morto após roubar um carro no Parque Novo Mundo; entidades de direitos humanos vêem indícios de "execução"
Morte de jovens pela Rota será investigada
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Quatro dias depois de uma audiência pública no Parque Novo
Mundo (zona norte de São Paulo)
para discutir episódios de abuso
policial e mortes de moradores,
entidades de direitos humanos
voltaram a denunciar ontem um
novo caso em que três jovens, residentes na região, foram mortos
pela Polícia Militar em circunstâncias consideradas suspeitas.
As mortes dos jovens -de 15,
17 e 19 anos- ocorreram no último dia 15, mas o caso só começou
a ser esclarecido na sexta-feira
passada. Nesse dia, os corpos foram identificados por familiares
no Instituto Médico Legal.
Um quarto jovem, de 16 anos,
foi localizado na Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do
Menor) por representantes do
Centro Santo Dias de Direitos
Humanos e do Movimento Nacional dos Direitos Humanos.
Segundo o garoto, que era fugitivo da Febem, ele e os três jovens
roubaram um carro. No Parque
Novo Mundo, eles cruzaram com
dois carros de polícia -da Polícia
Civil e da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), da PM.
O garoto disse que, quando
achou que seria abordado, saiu do
seu carro carregando a única arma do grupo e roubou outro veículo. Logo após, foi perseguido
por policiais civis, bateu o carro e
foi preso. O caso foi registrado no
10º DP (Penha), na zona leste.
Os outros três foram perseguidos pela Rota. Segundo registro
no 59º DP (Jardim dos Ipês), na
zona leste, os jovens bateram o
carro. PMs dizem que os três fugiram correndo fazendo disparos.
Os jovens -um deles também
era fugitivo da Febem- foram
mortos. Os PMs apresentaram
três armas que seriam do grupo.
"Existem vários indícios de
"execução'", disse o advogado Willian Fernandes, do Centro Santo
Dias. Segundo ele, os tiros que
atingiram as vítimas revelam contradições em relação ao relato dos
PMs. De acordo com Fernandes, a
certidão de óbito e o próprio boletim de ocorrência falam que os
disparos atingiram a região do coração. "Se estavam em fuga, como
podem ter sido atingidos todos na
mesma região?", questionou.
Segundo o familiar de uma das
vítimas, que não se identificou,
PMs também compareceram ao
velório dos jovens, sábado passado, no cemitério da Vila Formosa,
e revistaram todos os homens como forma de intimidação.
A Corregedoria da PM abriu um
inquérito sobre o caso. Segundo o
corregedor-geral, coronel Paulo
Máximo, o croqui cadavérico
mostra que cada jovem levou dois
tiros: o primeiro recebeu um tiro
abaixo do mamilo esquerdo (região próxima do coração) e outro
próximo do mamilo direito, o segundo levou um tiro próximo do
mamilo esquerdo e outro no braço direito, e o terceiro recebeu um
tiro no mamilo esquerdo e outro
na lateral esquerda do tórax.
"Pelos antecedentes, não vamos
apenas abrir um protocolo. Não é
um episódio eventual e exige que
a Ouvidoria vá atrás de provas para subsidiar a investigação", afirmou o ouvidor da Polícia, Itajiba
Farias Ferreira Cravo.
Na quinta-feira, a Ouvidoria,
organizações não-governamentais e até a Secretaria Especial de
Direitos Humanos realizaram
uma audiência pública no Parque
Novo Mundo para ouvir moradores que denunciam abusos policiais desde março passado.
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