São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2004

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SEGURANÇA

Trio foi morto após roubar um carro no Parque Novo Mundo; entidades de direitos humanos vêem indícios de "execução"

Morte de jovens pela Rota será investigada

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quatro dias depois de uma audiência pública no Parque Novo Mundo (zona norte de São Paulo) para discutir episódios de abuso policial e mortes de moradores, entidades de direitos humanos voltaram a denunciar ontem um novo caso em que três jovens, residentes na região, foram mortos pela Polícia Militar em circunstâncias consideradas suspeitas.
As mortes dos jovens -de 15, 17 e 19 anos- ocorreram no último dia 15, mas o caso só começou a ser esclarecido na sexta-feira passada. Nesse dia, os corpos foram identificados por familiares no Instituto Médico Legal.
Um quarto jovem, de 16 anos, foi localizado na Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) por representantes do Centro Santo Dias de Direitos Humanos e do Movimento Nacional dos Direitos Humanos.
Segundo o garoto, que era fugitivo da Febem, ele e os três jovens roubaram um carro. No Parque Novo Mundo, eles cruzaram com dois carros de polícia -da Polícia Civil e da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), da PM.
O garoto disse que, quando achou que seria abordado, saiu do seu carro carregando a única arma do grupo e roubou outro veículo. Logo após, foi perseguido por policiais civis, bateu o carro e foi preso. O caso foi registrado no 10º DP (Penha), na zona leste.
Os outros três foram perseguidos pela Rota. Segundo registro no 59º DP (Jardim dos Ipês), na zona leste, os jovens bateram o carro. PMs dizem que os três fugiram correndo fazendo disparos. Os jovens -um deles também era fugitivo da Febem- foram mortos. Os PMs apresentaram três armas que seriam do grupo.
"Existem vários indícios de "execução'", disse o advogado Willian Fernandes, do Centro Santo Dias. Segundo ele, os tiros que atingiram as vítimas revelam contradições em relação ao relato dos PMs. De acordo com Fernandes, a certidão de óbito e o próprio boletim de ocorrência falam que os disparos atingiram a região do coração. "Se estavam em fuga, como podem ter sido atingidos todos na mesma região?", questionou.
Segundo o familiar de uma das vítimas, que não se identificou, PMs também compareceram ao velório dos jovens, sábado passado, no cemitério da Vila Formosa, e revistaram todos os homens como forma de intimidação.
A Corregedoria da PM abriu um inquérito sobre o caso. Segundo o corregedor-geral, coronel Paulo Máximo, o croqui cadavérico mostra que cada jovem levou dois tiros: o primeiro recebeu um tiro abaixo do mamilo esquerdo (região próxima do coração) e outro próximo do mamilo direito, o segundo levou um tiro próximo do mamilo esquerdo e outro no braço direito, e o terceiro recebeu um tiro no mamilo esquerdo e outro na lateral esquerda do tórax.
"Pelos antecedentes, não vamos apenas abrir um protocolo. Não é um episódio eventual e exige que a Ouvidoria vá atrás de provas para subsidiar a investigação", afirmou o ouvidor da Polícia, Itajiba Farias Ferreira Cravo.
Na quinta-feira, a Ouvidoria, organizações não-governamentais e até a Secretaria Especial de Direitos Humanos realizaram uma audiência pública no Parque Novo Mundo para ouvir moradores que denunciam abusos policiais desde março passado.


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