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PASQUALE CIPRO NETO
Números futebolísticos
Desde que Cafu declarou ao mundo seu amor a Regina, "hexa" virou sinônimo
de "hexacampeonato"
ALGUNS ULTRA-OTIMISTAS leitores querem saber o que vem
depois de "hexa-". Mas já? E
depois da bolinha que o nosso time
apresentou nas duas primeiras partidas? Bem, como nosso futuro na
Copa é um tanto incerto (na próxima quinta-feira o hexa poderá ser
apenas uma miragem), achei que
deveria tratar logo do caso. Vai que a
Itália, Gana ou a República Tcheca
elimine os pupilos de Parreira... Na
verdade, nem os conterrâneos de
Bush estão fora de cogitação.
Como afirmei na semana passada,
em certas situações (Copa do Mundo, por exemplo) surgem "necessidades" lingüísticas interessantes
-"insólitas" talvez seja o termo adequado, já que certamente é nessa categoria que se enquadram os adjetivos pátrios relativos a países que
pouco freqüentam a nossa realidade. Quando voltaremos a usar "ganês" ou "ganense" (relativos a Gana), "trinitino", "trinitário", "trinitário-tobagense" ("-gense" mesmo,
sem "u" depois do "g") ou "tobaguiano" (relativos a Trinidad e Tobago) e
"tunisiano" (relativo à Tunísia -andam dizendo por aí "tunisino", que
se refere a Túnis, capital do país)?
Mas voltemos ao que vem depois
de "hexa-", não sem antes lembrar
que esse elemento é grego e tem
pronúncia instável. Em "hexágono",
por exemplo, a pronúncia predominante é "hezágono"; em "hexacampeão", a emissão "hecsacampeão"
ganha. O "Vocabulário Ortográfico"
consagra as duas pronúncias do "x",
nos dois casos, de modo que...
Também não se pode deixar de citar o interessante caso da substantivação do elemento antepositivo "hexa-", o que constitui caso mais do
que comum na língua. Os mais velhos certamente se lembram dos
tempos das máxis, que nada mais
eram do que maxidesvalorizações
da moeda nacional em relação ao
dólar. Resultante da redução do termo latino "maximus", o elemento
antepositivo "maxi-", que se pode
combinar com diversas palavras, foi
substantivado justamente como redução e sinônimo da palavra em que
mais apareceu num certo período
(maxidesvalorização, no caso). Em
outros contextos, "máxi" se transformou em sinônimo de "maxicasaco", "maxivestido" ou "maxissaia".
O que se verificou com o elemento
antepositivo latino "maxi-" ocorre
agora com "hexa-", que, desde que
Cafu declarou ao mundo seu amor a
Regina, virou sinônimo de "hexacampeonato" ou "hexacampeão".
O leitor certamente notou que,
quando substantivado, o elemento
"maxi-" se escreve com acento agudo no "a" ("máxi"). Com a substantivação, chega-se a uma paroxítona
terminada em "i", acentuada como
"táxi", "beribéri", "dândi", "júri" etc.
Mas o que vem depois de "hexa-",
santo Deus? Sim, sim, ia esquecendo
que nem todos os elementos que
usamos para designar essas noções
de números são gregos. Em "bicampeão" e "tricampeão", por exemplo,
ocorrem os elementos latinos "bi-"
(equivalente do grego "di-", presente em "diarquia" e "dígamo", por
exemplo) e "tri-" (presente em "trifásico" e "triciclo", por exemplo).
Só falta mesmo dizer que depois
de "hexa-" vem "hepta-" (também
grego). Quem ganha sete vezes é
"heptacampeão" (sem hífen, como
"bicampeão" etc.). Não custa lembrar, no entanto, que não se é "hepta" sem conquistar o "hexa". É isso.
@ - inculta@uol.com.br
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