São Paulo, terça, 22 de julho de 1997.



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OPINIÃO
Por que mudar?

ISAIAS DE MELLO MASCARENHAS NETO

É impressionante como o ser humano é resistente a mudanças. No Congresso Nacional, temos exemplo fático dessa resistência. Cada proposta modernizante é um "parto da montanha". Debate daqui, debate dali, e os projetos acabam desfigurados, ficando às vezes com redação contrária aos objetivos originais.
E a polícia, essa instituição milenar, por que não mudar? A criatividade brasileira, tão generosa, progressista e jeitosa para tudo, deve contribuir. Então sejamos criativos. Respeitando os princípios da disciplina e da hierarquia, que não são monopólio dos militares, é chegada a hora. Mudemos.
Fala-se tanto na queda da criminalidade de Nova York, como se a polícia de lá tivesse a paternidade da solução. Entretanto os novaiorquinos sabem, enquanto aqui alguns não querem ver, que o remédio veio da adoção, pela prefeitura, de firmes políticas públicas minorando as tensões sociais, o que aplainou o caminho da polícia. A cidade ganhou 18 novos estabelecimentos prisionais, revolucionando o sistema carcerário.
Também é preciso deixar claro que, lá, a instituição que realiza as atividades preventivas executa o ciclo completo de polícia, sem intermediação. As relações são objetivas e o Ministério Público desempenha papel pragmático, muito mais abrangente. E, por ser instituição independente, promovendo o ciclo completo da ação penal, não fica submisso aos humores da polícia.
Portanto, se quiserem imitar o sistema de Nova York, não é inteligente, racional e lógico fazê-lo pela metade: ou os senhores legisladores dão os instrumentos legais para que o Ministério Público realize o ciclo completo de promoção da ação penal, como no Primeiro Mundo, ou continuaremos sob a égide das meias medidas, sob o crivo das meias verdades.
Estive recentemente participando de atividades na polícia de Nova York, vivenciando suas técnicas e táticas, estudando suas metas estratégicas e sua estrutura.
Constatei o óbvio: o caminho seguro está na revolução pelo ensino. A mudança comportamental, com ações fundamentadas em valores éticos, a conquista do respeito pela disposição de "proteger e servir" e o profissionalismo de quem se dedica "full time" foram a contribuição do Departamento de Polícia de Nova York. Ou seja, a polícia também fez sua parte.
Vamos mudar tudo para tudo ficar como está? Se houver apenas maquiagem, é melhor esquecer Nova York e voltar à Idade Média, com seus autos inquisitoriais.


Isaias de Mello Mascarenhas Neto, 49, é coronel, diretor de ensino e instrução da Polícia Militar.



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