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OPINIÃO
Por que mudar?
ISAIAS DE MELLO
MASCARENHAS NETO
É impressionante como o ser
humano é resistente a mudanças.
No Congresso Nacional, temos
exemplo fático dessa resistência.
Cada proposta modernizante é um
"parto da montanha". Debate daqui, debate dali, e os projetos acabam desfigurados, ficando às vezes com redação contrária aos objetivos originais.
E a polícia, essa instituição milenar, por que não mudar? A criatividade brasileira, tão generosa,
progressista e jeitosa para tudo,
deve contribuir. Então sejamos
criativos. Respeitando os princípios da disciplina e da hierarquia,
que não são monopólio dos militares, é chegada a hora. Mudemos.
Fala-se tanto na queda da criminalidade de Nova York, como se a
polícia de lá tivesse a paternidade
da solução. Entretanto os novaiorquinos sabem, enquanto aqui alguns não querem ver, que o remédio veio da adoção, pela prefeitura, de firmes políticas públicas minorando as tensões sociais, o que
aplainou o caminho da polícia. A
cidade ganhou 18 novos estabelecimentos prisionais, revolucionando o sistema carcerário.
Também é preciso deixar claro
que, lá, a instituição que realiza as
atividades preventivas executa o
ciclo completo de polícia, sem intermediação. As relações são objetivas e o Ministério Público desempenha papel pragmático, muito mais abrangente. E, por ser instituição independente, promovendo o ciclo completo da ação
penal, não fica submisso aos humores da polícia.
Portanto, se quiserem imitar o
sistema de Nova York, não é inteligente, racional e lógico fazê-lo pela
metade: ou os senhores legisladores dão os instrumentos legais para que o Ministério Público realize
o ciclo completo de promoção da
ação penal, como no Primeiro
Mundo, ou continuaremos sob a
égide das meias medidas, sob o
crivo das meias verdades.
Estive recentemente participando de atividades na polícia de Nova York, vivenciando suas técnicas
e táticas, estudando suas metas estratégicas e sua estrutura.
Constatei o óbvio: o caminho seguro está na revolução pelo ensino. A mudança comportamental,
com ações fundamentadas em valores éticos, a conquista do respeito pela disposição de "proteger e
servir" e o profissionalismo de
quem se dedica "full time" foram
a contribuição do Departamento
de Polícia de Nova York. Ou seja, a
polícia também fez sua parte.
Vamos mudar tudo para tudo ficar como está? Se houver apenas
maquiagem, é melhor esquecer
Nova York e voltar à Idade Média,
com seus autos inquisitoriais.
Isaias de Mello Mascarenhas Neto, 49, é coronel, diretor de ensino e instrução da Polícia Militar.
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