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EDUCAÇÃO
Vestibular menos rigoroso e mensalidades mais baixas atraem estudantes que não conseguem cursar medicina no Brasil
Bolívia vira "atalho" para estudar na Espanha
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DE MADRI
A dificuldade em passar no vestibular e os altos preços das faculdades particulares levam brasileiros a buscar um novo "atalho" para a carreira de medicina. Iniciam
o curso em instituições da Bolívia,
onde a seleção é menos rigorosa,
graduam-se na Espanha e sonham em trabalhar no Brasil.
Nas universidades de medicina
espanholas há pelo menos 25 brasileiros originários da nova rota
Bolívia-Espanha. No geral, são estudantes que tentaram três ou
quatro vestibulares em universidades públicas no Brasil, não passaram e já estavam a ponto de
mudar "de profissão".
"Pensava em fazer veterinária,
para não fugir muito da área,
quando decidi ir para a Bolívia. Lá
é muito mais fácil entrar, e, como
a Bolívia tem um convênio com a
Espanha, pedi transferência para
Madri, onde o ensino é melhor",
afirma o sul-mato-grossense Luis
Adriano Raiter Domanshi, 27,
que tentou, sem sucesso, três vestibulares para medicina.
Domanshi, que cursa o 5º ano
de medicina na Universidade
Complutense de Madri, foi seguido por seu irmão, Marcelo Raiter
de Oliveira, 23, que está no 3º ano
da mesma universidade.
As justificativas dos dois para
optar pela rota são muitas: desde
o alto valor dos cursos no Brasil, o
rígido vestibular ou o elitismo das
universidades públicas destinadas a alunos que tiveram dinheiro
para subsidiar um bom estudo.
O primeiro passo é a Bolívia, cujas faculdades são vistas como um
"trampolim" para outras melhores. Os alunos sabem que o ensino
não goza de prestígio no Brasil,
devido ao grande número de instituições daquele país que oferecem cursos considerados sem validade educacional.
A prova de seleção na Bolívia é
considerada mais fácil do que no
Brasil ou na Espanha. Depois, é só
dar entrada no processo de transferência. "Isso não é difícil. Tive
muita sorte e fui um dos primeiros brasileiros a chegar à Espanha. Mas esse cenário está mudando, o número de vagas na Espanha diminuiu", diz Domanshi.
Para estudar um ano na Bolívia,
tempo médio que um brasileiro
gasta para o "trampolim", o aluno
paga cerca de R$ 3.600, enquanto
no Brasil desembolsaria de R$ 12
mil a R$ 24 mil por um ano em
uma faculdade de medicina.
Na Espanha, o curso é ainda
mais barato. Em média, paga-se
cerca de R$ 1.800 por ano, o que
pode representar apenas uma
mensalidade no Brasil.
Se preço é acessível, o curso decepciona um pouco os brasileiros.
Diferentemente do ensino no
Brasil, que segue a doutrina americana e favorece aulas práticas, a
graduação espanhola é bastante
teórica. Práticas consideradas
simples como a suturação ou a
participação em partos normais
só são permitidas, ainda com restrições, durante a residência (período de especialização, após os
seis anos de curso).
"Estudamos muita teoria, temos os melhores professores, mas
não temos nada de prática. Aqui
os professores têm uma preocupação muito grande com processos judiciais, a responsabilidade é
muito grande. Essa falta de aulas
práticas desanima um pouco", diz
o mineiro Gilberto Monteiro de
Araújo, 33, que está no 3º ano.
Antes de viajar para a Bolívia,
Araújo cursou prótese dentária
no Brasil. "Não era o que queria,
mas estava desistindo da profissão", diz o mineiro, que, neste
ano, vai tentar uma transferência
para uma faculdade brasileira.
"Sei que é difícil conseguir,
principalmente em uma pública.
Mas quero voltar para o Brasil",
afirma o estudante.
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