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AIDS
Com novas tecnologias, médico deve deixar paciente decidir
Soropositivo pode ter filhos, diz Conselho Regional de Medicina
DA REPORTAGEM LOCAL
Um casal de portadores do vírus da Aids pode ter filhos? E se
apenas um dos parceiros estiver
contaminado, é possível sonhar
com o bebê? Até o ano passado, a
recomendação do Cremesp
(Conselho Regional de Medicina
do Estado de São Paulo), com base em um parecer de 1995, era para que o médico respondesse
"não" a essas perguntas.
Em janeiro, o conselho fez nova
recomendação, orientando os
médicos a respeitar a autonomia
dos casais. Esse e outros temas envolvendo o atendimento médico
de pacientes contaminados pelo
vírus da Aids estão no livro "Aids
e Ética Médica", que será lançado
na terça-feira pelo conselho.
O avanço das terapias de combate à infecção e das técnicas de
reprodução assistida diminuiu o
risco de contaminação da criança
e liberou os médicos que tiverem
interesse para auxiliar soropositivos que desejam filhos, disse o infectologista e conselheiro do Cremesp Caio Rosenthal, 52, que
coordenou o projeto do livro.
"Em função do progresso, houve necessidade de atualizar as recomendações. Se o paciente tem
boas condições laboratoriais [carga viral indetectável" e clínicas
[sem a manifestação de sinais da
doença", é lícito ele decidir."
Apesar das medidas de prevenção, o risco de a criança ser contaminada, no entanto, ainda existe,
mas é menor do que 1%, disse o
médico. Os pais têm de assinar
termos em que reconhecem a
possibilidade de contaminação.
O homem soropositivo pode recorrer a um processo de separação dos espermatozóides infectados. Há clínicas que também realizam a ICSI, injeção de apenas
um espermatozóide, no óvulo,
para reduzir mais ainda os riscos.
Já a mulher soropositiva não
tem à disposição técnicas específicas de reprodução assistida que
permitam reduzir o risco. Mas o
uso de medicamentos na gravidez
e cuidados durante o parto são
meios de diminuir os riscos.
Segundo o chefe do setor de Reprodução Humana da Universidade Federal de São Paulo, Aguinaldo Pereira Cedenho, o temor
dos médicos diminuiu com as
técnicas de reprodução assistida e
melhora do tratamento, mas ainda há receio. "Os médicos estão
um pouco mais à vontade", disse.
"Mas alguns ainda são contra."
Segundo Rosenthal, o volume
de questionamentos sobre o tratamento ético de soropositivos
vem diminuindo desde o início da
epidemia, há 20 anos. Em 88, surgiram as primeiras orientações no
país abrangendo vários temas
desse assunto. Mas ainda restam
perguntas cujas respostas não são
tão claras para todos os especialistas, segundo o infectologista, daí a
necessidade de compilar as orientações no livro.
Foram impressas 10 mil cópias
iniciais da obra, que será distribuída pelo conselho.
"Aids e Ética Médica", coordenação de
Caio Rosenthal e edição de Mário Scheffer. Publicação do Conselho Regional de
Medicina do Estado de São Paulo, 2001.
O lançamento vai acontecer no dia 24 de
julho, às 20h, na rua Domingos de Morais, 1.810, Vila Mariana.
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