São Paulo, domingo, 22 de julho de 2001

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AIDS

Com novas tecnologias, médico deve deixar paciente decidir

Soropositivo pode ter filhos, diz Conselho Regional de Medicina

DA REPORTAGEM LOCAL

Um casal de portadores do vírus da Aids pode ter filhos? E se apenas um dos parceiros estiver contaminado, é possível sonhar com o bebê? Até o ano passado, a recomendação do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), com base em um parecer de 1995, era para que o médico respondesse "não" a essas perguntas.
Em janeiro, o conselho fez nova recomendação, orientando os médicos a respeitar a autonomia dos casais. Esse e outros temas envolvendo o atendimento médico de pacientes contaminados pelo vírus da Aids estão no livro "Aids e Ética Médica", que será lançado na terça-feira pelo conselho.
O avanço das terapias de combate à infecção e das técnicas de reprodução assistida diminuiu o risco de contaminação da criança e liberou os médicos que tiverem interesse para auxiliar soropositivos que desejam filhos, disse o infectologista e conselheiro do Cremesp Caio Rosenthal, 52, que coordenou o projeto do livro.
"Em função do progresso, houve necessidade de atualizar as recomendações. Se o paciente tem boas condições laboratoriais [carga viral indetectável" e clínicas [sem a manifestação de sinais da doença", é lícito ele decidir."
Apesar das medidas de prevenção, o risco de a criança ser contaminada, no entanto, ainda existe, mas é menor do que 1%, disse o médico. Os pais têm de assinar termos em que reconhecem a possibilidade de contaminação.
O homem soropositivo pode recorrer a um processo de separação dos espermatozóides infectados. Há clínicas que também realizam a ICSI, injeção de apenas um espermatozóide, no óvulo, para reduzir mais ainda os riscos.
Já a mulher soropositiva não tem à disposição técnicas específicas de reprodução assistida que permitam reduzir o risco. Mas o uso de medicamentos na gravidez e cuidados durante o parto são meios de diminuir os riscos.
Segundo o chefe do setor de Reprodução Humana da Universidade Federal de São Paulo, Aguinaldo Pereira Cedenho, o temor dos médicos diminuiu com as técnicas de reprodução assistida e melhora do tratamento, mas ainda há receio. "Os médicos estão um pouco mais à vontade", disse. "Mas alguns ainda são contra."
Segundo Rosenthal, o volume de questionamentos sobre o tratamento ético de soropositivos vem diminuindo desde o início da epidemia, há 20 anos. Em 88, surgiram as primeiras orientações no país abrangendo vários temas desse assunto. Mas ainda restam perguntas cujas respostas não são tão claras para todos os especialistas, segundo o infectologista, daí a necessidade de compilar as orientações no livro.
Foram impressas 10 mil cópias iniciais da obra, que será distribuída pelo conselho.


"Aids e Ética Médica", coordenação de Caio Rosenthal e edição de Mário Scheffer. Publicação do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, 2001. O lançamento vai acontecer no dia 24 de julho, às 20h, na rua Domingos de Morais, 1.810, Vila Mariana.



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