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SAÚDE
Renilson Rehem de Souza diz que ministério é contra a dupla porta, mas declara que, como está, é melhor criar normas
Prática exige regulamentação, diz secretário
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério da Saúde ainda não "bateu de frente" na questão da segunda porta, apesar de ser contra a prática, diz o secretário de Assistência à Saúde do órgão, Renilson Rehem de Souza.
(FABIANE LEITE)
Folha - Qual é a opinião do ministério sobre o projeto que reserva
até 25% dos leitos para pacientes
de planos de saúde?
Renilson Rehem de Souza - Do
ponto de vista da sobrevivência
do hospital, eu não vejo justificativa, porque o hospital federal recebe recursos federais, o estadual recebe recursos estaduais, e, se for
universitário federal, também do
Ministério da Educação, e não só
da saúde. Existe aí uma questão,
do quanto isso fixaria os profissionais, particularmente os médicos, que teriam possibilidade
maior de ganho. Eu acho que resolve mais isso do que a situação
do hospital. Mas, se permanece, é
melhor que seja regulamentado.
Folha - Qual é avaliação sobre esse limite de 25%?
Souza - Acho que, em alguns lugares, 25% pode comprometer
realmente o acesso dos pacientes
[SUS". Em outros lugares, não teria tanto problema. Acho importante que haja uma negociação
com a gestão pública do sistema
local para definir esse limite.
Folha - Como essas estruturas para o atendimento de convênios se
formaram se não têm base legal e o
ministério não concorda com elas?
Souza - O Hospital das Clínicas
de São Paulo é um hospital das
administração do governo do Estado de São Paulo. Então foram
criadas várias situações, tem fundações [fundações privadas que
gerenciam a verba de hospitais e
criaram o setor de convênios"...
Folha - Mas ele faz parte do Sistema Único de Saúde.
Souza - Eu não posso impor a
nenhum hospital, seja ele municipal, estadual, filantrópico. Não
posso impor que ele só atenda o
sistema público. O sistema é descentralizado. Quem gere o sistema na ponta é o secretário municipal e o estadual da saúde.
Aí uma coisa aconteceu. Eu tenho falado insistentemente, mas
fazem questão de não ouvir: o financiamento do SUS hoje não é o
mesmo de meados da década de
90. Em 93, o Ministério da Previdência deixou de passar recursos
do seu orçamento para o custeio
da assistência. A partir da metade
de 93, começou um período de
profundo desfinanciamento, e várias instituições começaram a
buscar mecanismos para sobreviver. Naquela época, isso tinha
muito sentido. Hoje, o ministério
repassa recursos com uma pontualidade britânica, e a gente tem
melhorado sucessivamente os valores. O Hospital das Clínicas [da
Faculdade de Medicina da USP"
recebia um valor médio de R$ 8
milhões por mês do Ministério da
Saúde, em internações e ambulatório. São R$ 11,3 milhões hoje,
um aumento de 41%.
Folha - O ministério participa ativamente da discussão sobre a regulamentação?
Souza - Eu participei de uma sessão pública no Senado. Quem
apresentou a proposta foi o ex-ministro [da Saúde" Adib Jatene
[defensor do atendimento ao setor privado. Procurado pela Folha, Jatene não se manifestou". Eu
sou valente, mas pequenininho...
Então eu falei lá umas coisinhas.
Mas junto com dr. Adib, imagine.
Na época, Antonio Carlos Magalhães (PFL) era presidente do Senado, foi para a sessão e sentou ao
lado de Jatene, tipo só prestando
solidariedade. Eu fiz as minhas
ponderações. Mas estou sendo
muito franco. Não bati de frente
não. No fim, disse: "Já que está
acontecendo, melhor que se regulamente".
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