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ENTREVISTA MILTON ZUANAZZI
Para presidente da agência, medidas podem não ser tão efetivas
Milton Zuanazzi acredita que as medidas anunciadas anteontem pelo governo federal para desafogar Congonhas talvez não tenham o efeito esperado
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil),
Milton Zuanazzi acredita que o
pacote para desafogar Congonhas, anunciado anteontem
pelo governo, talvez não surta o
efeito esperado.
"Exeqüível é. Só não sei se será uma medida com os resultados que se espera. Temos que
aguardar para ver. O problema
de São Paulo é a falta de uma alternativa. A demanda de pessoas que viajam não é uma coisa que se possa controlar."
Para Zuanazzi, as decisões
cabem ao governo e ao Conac
(Conselho Nacional de Aviação
Civil). A função da Anac é fiscalizar e regular o setor, no interesse da sociedade.
Ele afirma que a agência "não
tem nenhuma responsabilidade" pelo caos aéreo que há quase um ano tomou conta do país
e considera que a Anac é criticada por aspectos que não são
de sua responsabilidade.
Zuanazzi reclama ainda da
falta de dinheiro para fiscalização e regulação do setor. Veja
trechos da entrevista.
FOLHA - O presidente falou em fortalecer a Anac. O que isso significa?
MILTON ZUANAZZI - Prioridade de
recursos para exercer as funções de regular e fiscalizar. Para
isso, tem que ter recursos humanos, recursos materiais.
FOLHA - O que falta para a Anac?
ZUANAZZI - Nenhum organismo no Brasil ou agência reguladora tem dinheiro sobrando e
profissionais sobrando [...]. Pedimos para o orçamento deste
ano R$ 231 milhões e recebemos R$ 151 milhões. O que estamos discutindo com o governo
é remunerar a Anac por dentro
do sistema, e não pelo Ministério da Fazenda.
FOLHA - Por que a Anac não fez
mudanças em Congonhas antes?
ZUANAZZI - A agência tomou as
medidas que considera as mais
corretas, ou seja, baixamos os
slots [horários e espaços de
pouso e decolagem] de Congonhas para 44 movimentos/hora. Nós limitamos a aviação comercial em 38 movimentos/hora. Passamos por um ano atípico, tivemos duas obras -numa pista e depois noutra. Nós
estávamos dentro daquilo que
os padrões internacionais entendem que é viável.
Nunca negamos que o ideal
em São Paulo não era o "hub"
[centro de distribuição de vôos]
em Congonhas, mas sempre
dissemos que não tínhamos alternativa de outro sítio aeroportuário [...].
FOLHA - E a idéia de criar um "hub"
do Sudeste, com mais vôos no Rio?
ZUANAZZI - Ele já está acontecendo no Rio e em Belo Horizonte. Pega os vôos em Confins
e no Galeão há um ano e agora.
O que a imprensa nunca diz é
que a Anac nunca deu um novo
"slot" em Congonhas desde que
surgiu e que reduziu os "slots"
em Congonhas. A gente fica
apanhando por ter excesso de
tráfego no aeroporto quando
nós é que diminuímos. Quem
aumentou? Nós estamos recebendo as críticas de algo que
não fizemos.
FOLHA - Como foi ser condecorado
com a medalha Santos Dumont?
ZUANAZZI - A Aeronáutica é que
tem que responder, mas não
sinto que esteja fazendo nenhum mal à sociedade. Estou
fazendo um esforço para acertar um conjunto de problemas,
mas tem muita coisa que não
tem a ver com a agência, como o
controle de tráfego aéreo.
FOLHA - A Anac já identificou algum local capaz de receber o novo
aeroporto?
ZUANAZZI- A Anac já informou
há bastante tempo o governo,
inclusive na CPI, que necessitamos com urgência de um novo
equipamento em São Paulo,
além da ampliação de Guarulhos. O primeiro passo é ampliar Guarulhos, e o segundo é
criar um novo equipamento em
São Paulo, que pode ser um novo sítio ou uma ampliação. Estamos estudando levar a aviação geral [transporte aéreo não
regular, como táxi aéreo] para
Jundiaí porque é um local próximo de São Paulo, mas ainda
não veio a resposta definitiva
do Comando da Aeronáutica.
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