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Setor é dominado por 4 grupos
GONZALO NAVARRETE
da Reportagem Local
Quatro empresários dominam
o sistema de ônibus de São Paulo.
Apesar de o mercado ser formalmente pulverizado por 54 empresas, quatro grupos controlam juntos 22 dessas companhias, mais
da metade da frota (61%) e são
responsáveis pelo transporte de
56% dos passageiros da cidade.
Os chamados "barões das catracas" são José Ruas Vaz, Constantino de Oliveira, Baltazar José de
Souza e Belarmino da Ascenção
Marta, que é o atual presidente do
Transurb (sindicato das empresas
de ônibus).
Os quatro grupos que controlam o sistema apresentam o mesmo perfil. Foram criados por homens com origem humilde e sem
formação universitária, que fizeram fortuna investindo no negócio de ônibus.
Os barões se dividem em duas
alas: portugueses e mineiros. Na
primeira ala, está o empresário
José Ruas Vaz, imigrante português que chegou a São Paulo em
1947 e hoje é o maior empresário
do setor na cidade.
Vaz começou trabalhando na
padaria de tios na praça João
Mendes, região central da cidade.
Nos anos seguintes, abriu uma
padaria e um armazém.
Ao ver que o negócio de ônibus
prosperava na São Paulo da década de 60 decidiu comprar os primeiros 18 veículos em sociedade
com três amigos e fundou a Viação Campo Belo. O grupo Vaz é
dono ou sócio de 11 empresas.
O segundo português é Belarmino da Ascenção Marta, que
chegou a São Paulo em 1952, com
14 anos, e trabalhou na adolescência com a família vendendo verduras no mercado municipal. Sua
família comprou uma frota de caminhões e passou a investir no
transporte de verduras para Santos e Rio de Janeiro.
Ex-seminarista, Marta decidiu
partir para o ônibus na década de
60, quando esse tipo de transporte
começou a ocupar o espaço deixado pelos antigos bondes. Começou com 14 ônibus e hoje é
considerado um dos empresários
mais tradicionais de São Paulo,
com uma frota de 841 veículos.
O principal representante da ala
mineira é o grupo de Constantino
de Oliveira, conhecido como "Nenê Constantino", que começou
como caminhoneiro em Minas e
hoje é o maior empresário de
transporte urbano do Brasil.
O grupo, que entrou em São
Paulo há menos de 15 anos, atua
também em Santos e no Rio. Na
cidade de São Paulo, os negócios
da família são tocados pelos filhos
de Nenê. O representante oficial é
Constantino de Oliveira Júnior.
Baltazar José de Souza começou
como cobrador de ônibus no interior de Minas, onde conheceu Nenê Constantino. Depois de vários
anos ao lado empresário, Souza se
transformou em homem de confiança e depois em seu sócio.
Foi apenas um passo para abrir
suas próprias empresas. Souza é
dono de cinco companhias em
São Paulo e também é forte na região do ABC, onde foi presidente
do sindicato patronal.
Domínio antigo
São Paulo responde pela maior
frota urbana de ônibus do mundo, com 10.800 veículos, segundo
a ANTP (Associação Nacional
dos Transportes Públicos).
No ano passado, as 54 empresas
receberam US$ 1,3 bilhão pelo
serviço prestado: o transporte de
1,4 bilhão de passageiros. O valor
é pouco menor que o obtido com
a Comgás, empresa que distribui
gás canalizado para 300 mil consumidores em São Paulo e que foi
vendida pelo Estado por US$ 1,6
bilhão no primeiro semestre.
Apesar da força desse mercado,
os quatro grupos mantêm também linhas em outras cidades da
Grande São Paulo, no interior
paulista e em outros Estados.
E, com o passar dos anos, diversificaram seus ramos de atuação.
Possuem hoje empresas de construção civil, agropecuária, turismo e fretamento.
A maioria também possui concessionárias de veículos, que vendem inclusive peruas que são usadas depois como lotação, considerada a principal rival dos ônibus. É o caso da concessionária
Sambaiba, que pertence ao presidente do Transurb.
O domínio dos "barões das catracas" existe há pelo menos uma
década e, segundo especialistas
do setor, passou praticamente
inalterado pelo fim da CMTC
(Companhia Municipal de Transporte Coletivo), privatizada em 93
pelo então prefeito Paulo Maluf.
A companhia municipal de ônibus detinha cerca de 30% das linhas da cidade, que acabaram
pulverizadas por várias empresas.
Isso foi possível porque antes, durante o governo Erundina, a municipalização havia atraído novas
companhias do setor para o mercado paulistano.
Agora, a crise do setor gerada
pelo atraso nos pagamentos da
prefeitura poderá concentrar ainda mais o mercado nas mãos dos
barões das catracas.
Empresas com menos estrutura
enfrentam problemas financeiros
e a ameaça de perder seus ônibus.
Isso ocorre até em empresas do
grupo dos quatro, como a Vitória,
mas nesse caso o grupo de José
Ruas Vaz já prepara seu socorro.
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