São Paulo, Quinta-feira, 22 de Julho de 1999
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Setor é dominado por 4 grupos

GONZALO NAVARRETE
da Reportagem Local

Quatro empresários dominam o sistema de ônibus de São Paulo. Apesar de o mercado ser formalmente pulverizado por 54 empresas, quatro grupos controlam juntos 22 dessas companhias, mais da metade da frota (61%) e são responsáveis pelo transporte de 56% dos passageiros da cidade.
Os chamados "barões das catracas" são José Ruas Vaz, Constantino de Oliveira, Baltazar José de Souza e Belarmino da Ascenção Marta, que é o atual presidente do Transurb (sindicato das empresas de ônibus).
Os quatro grupos que controlam o sistema apresentam o mesmo perfil. Foram criados por homens com origem humilde e sem formação universitária, que fizeram fortuna investindo no negócio de ônibus.
Os barões se dividem em duas alas: portugueses e mineiros. Na primeira ala, está o empresário José Ruas Vaz, imigrante português que chegou a São Paulo em 1947 e hoje é o maior empresário do setor na cidade.
Vaz começou trabalhando na padaria de tios na praça João Mendes, região central da cidade. Nos anos seguintes, abriu uma padaria e um armazém.
Ao ver que o negócio de ônibus prosperava na São Paulo da década de 60 decidiu comprar os primeiros 18 veículos em sociedade com três amigos e fundou a Viação Campo Belo. O grupo Vaz é dono ou sócio de 11 empresas.
O segundo português é Belarmino da Ascenção Marta, que chegou a São Paulo em 1952, com 14 anos, e trabalhou na adolescência com a família vendendo verduras no mercado municipal. Sua família comprou uma frota de caminhões e passou a investir no transporte de verduras para Santos e Rio de Janeiro.
Ex-seminarista, Marta decidiu partir para o ônibus na década de 60, quando esse tipo de transporte começou a ocupar o espaço deixado pelos antigos bondes. Começou com 14 ônibus e hoje é considerado um dos empresários mais tradicionais de São Paulo, com uma frota de 841 veículos.
O principal representante da ala mineira é o grupo de Constantino de Oliveira, conhecido como "Nenê Constantino", que começou como caminhoneiro em Minas e hoje é o maior empresário de transporte urbano do Brasil.
O grupo, que entrou em São Paulo há menos de 15 anos, atua também em Santos e no Rio. Na cidade de São Paulo, os negócios da família são tocados pelos filhos de Nenê. O representante oficial é Constantino de Oliveira Júnior.
Baltazar José de Souza começou como cobrador de ônibus no interior de Minas, onde conheceu Nenê Constantino. Depois de vários anos ao lado empresário, Souza se transformou em homem de confiança e depois em seu sócio.
Foi apenas um passo para abrir suas próprias empresas. Souza é dono de cinco companhias em São Paulo e também é forte na região do ABC, onde foi presidente do sindicato patronal.

Domínio antigo
São Paulo responde pela maior frota urbana de ônibus do mundo, com 10.800 veículos, segundo a ANTP (Associação Nacional dos Transportes Públicos).
No ano passado, as 54 empresas receberam US$ 1,3 bilhão pelo serviço prestado: o transporte de 1,4 bilhão de passageiros. O valor é pouco menor que o obtido com a Comgás, empresa que distribui gás canalizado para 300 mil consumidores em São Paulo e que foi vendida pelo Estado por US$ 1,6 bilhão no primeiro semestre.
Apesar da força desse mercado, os quatro grupos mantêm também linhas em outras cidades da Grande São Paulo, no interior paulista e em outros Estados.
E, com o passar dos anos, diversificaram seus ramos de atuação. Possuem hoje empresas de construção civil, agropecuária, turismo e fretamento.
A maioria também possui concessionárias de veículos, que vendem inclusive peruas que são usadas depois como lotação, considerada a principal rival dos ônibus. É o caso da concessionária Sambaiba, que pertence ao presidente do Transurb.
O domínio dos "barões das catracas" existe há pelo menos uma década e, segundo especialistas do setor, passou praticamente inalterado pelo fim da CMTC (Companhia Municipal de Transporte Coletivo), privatizada em 93 pelo então prefeito Paulo Maluf.
A companhia municipal de ônibus detinha cerca de 30% das linhas da cidade, que acabaram pulverizadas por várias empresas. Isso foi possível porque antes, durante o governo Erundina, a municipalização havia atraído novas companhias do setor para o mercado paulistano.
Agora, a crise do setor gerada pelo atraso nos pagamentos da prefeitura poderá concentrar ainda mais o mercado nas mãos dos barões das catracas.
Empresas com menos estrutura enfrentam problemas financeiros e a ameaça de perder seus ônibus. Isso ocorre até em empresas do grupo dos quatro, como a Vitória, mas nesse caso o grupo de José Ruas Vaz já prepara seu socorro.


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