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INCULTA & BELA
"Faz um 21"
PASQUALE CIPRO NETO
Colunista da Folha
É claro que não vou meter
minha colher na questão da telefonia. Eles que se entendam.
E que façam a coisa funcionar,
pelo amor de Deus!
Quero discutir a forma verbal "faz", do bordão publicitário de uma das "prestadoras".
Nos bancos escolares, aprendemos a conjugação e o emprego dos verbos no modo imperativo -aquele que se usa para
ordenar, pedir, suplicar, rogar.
O bom professor, no caso, é
aquele que consegue mostrar
que o imperativo abonado pela
norma culta se impõe naturalmente em certas situações.
Ninguém escreveria numa
sala pública algo como "Não
fuma". No entanto, em muitas
regiões do país -São Paulo,
por exemplo-, é essa a forma
empregada no dia-a-dia, em
situações informais.
O que se fala nem sempre se
escreve, o que não é nenhuma
novidade. Não é preciso repetir
que em língua o que vale é a
adequação.
"Faz um 21", diz a bela Ana
Paula Arósio. Como imperativo afirmativo, "faz" não é comum na Bahia, por exemplo.
No dia-a-dia, é mais comum
que os baianos digam "faça",
sem o tom mais ou menos autoritário ou formal que costuma ter em São Paulo.
E o que diz a gramática padrão? Diz que o imperativo
afirmativo da segunda pessoa
do singular (tu) é formado a
partir do presente do indicativo, sem o "s" final.
Então "tu fazes" ("eu faço, tu
fazes..."), sem o "s", resulta em
"faze". Já pensaram em Ana
Paula dizendo "Faze um 21"?
A ortodoxa forma "faze" já
virou "faz". Até a Fuvest a adotou numa questão do concurso
de 97, baseada neste trecho:
"Conta Rubem Braga o conselho que um amigo lhe deu
certa vez: "Olhe, Rubem, faça
como eu, não tope parada com
a gramática'".
A Fuvest pedia ao candidato
que supusesse o amigo tratando Rubem por tu. A resposta
dava como correta a forma
"faz", em vez de "faze", igualmente correta ("Olha, Rubem,
faz como eu...").
No caso da propaganda estrelada por Ana Paula Arósio,
não vale a pena topar parada
com a gramática. O texto todo
é posto na terceira pessoa (você), mas o recado final é dado
na segunda (tu): "Faz um 21".
Em situações formais, persegue-se e deseja-se a chamada
"uniformidade de tratamento". Não parece ser esse o caso
da linguagem publicitária,
muitas vezes próxima da coloquial. O único problema é que,
como vimos, a forma escolhida
não é unanimidade na língua
oral dos brasileiros. É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.
E-mail: inculta@uol.com.br
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