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Uso errado de arma mata 12 e fere 238 PMs em 4 anos
DA SUCURSAL DO RIO
Um estudo elaborado pelo capitão da Polícia Militar Paulo Storani mostra que policiais militares
também são vítimas de suas armas: de 1995 a 1999, 238 PMs do
Rio de Janeiro se feriram e 12
morreram quando manuseavam
o próprio armamento.
Em todos esses relatos, o policial se feriu sozinho, com sua própria arma. Isso equivale a 47,8 casos de PMs feridos por ano. Dos
238 casos de ferimentos, 147 ocorreram durante o serviço e 91 durante a folga. As 12 mortes ocorreram em serviço.
A pesquisa de Storani também
mostra que, no mesmo período,
de acordo com dados obtidos por
ele na Polícia Militar, 502 policiais
foram feridos em serviço e 82
morreram.
"É um absurdo que, enquanto
502 PMs foram feridos em atividade de trabalho, 238 tenham se
ferido com suas armas. É inaceitável", afirma o capitão, instrutor de
tiro do Bope (Batalhão de Operações Especiais) por três anos e hoje na reserva.
Storani está lotado na Coordenação de Tecnologia da Secretaria
de Segurança. Concluiu o trabalho em março deste ano, para um
curso de pós-graduação na Universidade Gama Filho.
O estudo não traz dados sobre
acidentes com armas de fogo nas
PMs de outros Estados. Tampouco permite saber se há, nos relatos
de autolesão, casos "disfarçados"
de suicídios ou de ferimentos provocados por terceiros.
O episódio mais recente e mais
traumático de erro de pontaria de
um PM no Rio aconteceu em junho, no sequestro do ônibus 174.
O soldado Marcelo Oliveira atirou no sequestrador Sandro do
Nascimento, mas acertou o rosto
da refém Geísa Gonçalves. Foi o
tempo suficiente para que o sequestrador disparasse mais três
tiros contra Geísa, que acabou
morrendo.
Coordenador da área de saúde
do trabalho da Fundação Oswaldo Cruz, o professor Jorge Machado considera alto os índices
revelados na pesquisa de Storani,
embora de difícil comparação
com dados similares.
"Os acidentes de trabalho são
muito subnotificados no Brasil.
Nesse caso, o ideal é não ter morte
por autolesão, já que o policial está sujeito a tantos perigos", afirma
Machado.
Estresse e treinamento
O capitão Storani aponta algumas razões para os casos de autolesão: o estresse de confronto sofrido pelo policial no combate ao
crime, a insuficiência do treinamento de tiro recebido por eles na
Polícia Militar e o descumprimento de normas de segurança.
O estresse de confronto acontece na seguinte situação: cercado
por traficantes armados numa favela, o policial, tenso, pode perder
o perfeito controle de seus movimentos e acabar fazendo um disparo acidental.
Storani atribui ao estresse o erro
do soldado do 174. Ele acha que o
soldado Marcelo Oliveira ficou
muito tempo parado antes de atirar e perdeu o controle de seus
movimentos.
Outro erro comum: guardar a
arma na cintura, quando, pela
norma de segurança, o certo seria
guardá-la no coldre. Na retirada
da arma, pode haver um disparo
acidental. Também há casos de
acidentes durante o manuseio da
arma para limpeza.
Por fim, Storani considera que o
treinamento de tiro da Polícia Militar precisa ser modernizado e intensificado, com ênfase na melhoria da habilidade motora e da percepção do policial.
Reações fisiológicas
Em sua pesquisa, o capitão da
PM desenvolveu um método de
treinamento de tiro e realizou testes para medir o nível de estresse
de 120 recrutas antes do treino.
Ele descobriu que, em média, a
frequência cardíaca dos recrutas
quase dobrou.
Storani diz que o policial, como
qualquer ser humano, está sujeito
a reações fisiológicas provocadas
pelo estresse.
"Essa mudança foi só no teste,
imagine no momento do confronto. Ninguém consegue ver o
policial como ser humano", afirma.
Depois de um treinamento intensivo, os recrutas testados tiveram sua performance de tiro melhorada em 46%: reagiram ao estímulo de forma mais rápida, precisa e seletiva.
"Um dos riscos do erro na seletividade do alvo, por exemplo, é
atingir um inocente. Aí é zero no
teste", afirma Storani.
(FE)
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