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Sindicato aponta falha em treino de pilotos
Para presidente do sindicato dos pilotos, comandante que realizou procedimento não recomendado em pouso foi mal treinado
Em depoimento anteontem,
piloto da TAM admitiu que
contrariou recomendação
da Airbus sobre o
posicionamento do manete
EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Para Hugo Stringhini, presidente do Sindicato Nacional
dos Pilotos da Aviação Civil, a
execução de um procedimento
não recomendado durante o
pouso é fruto de um treinamento mal feito. Anteontem, o
piloto Marco Aurélio Incerti de
Lima, da TAM, admitiu ter contrariado recomendação da Airbus ao pousar em Congonhas
no dia 17 de julho -com a mesma aeronave que se acidentaria
horas depois.
"Não é praxe na aviação civil
a mudança de procedimento. O
que está no manual de operações da empresa é o que tem de
ser cumprido. Quando o cara se
arrisca, a culpa é dele", afirmou
Stringhini.
Incerti de Lima pousou em
Congonhas vindo do aeroporto
de Confins (MG). Ele confirmou, em depoimento à Polícia
Civil, que o pouso em Congonhas foi feito em desconformidade com o manual do avião.
Uma norma da Airbus, de
abril de 2006, determina que os
dois manetes sejam colocados
em posição de reverso máximo
após o pouso, mesmo que o
avião esteja com um dos reversos bloqueado, como era o caso
da aeronave naquele dia.
Porém, Incerti de Lima optou por deixar o manete direito
na posição "idle" ("marcha lenta" ou "ponto morto") e colocar
apenas o manete esquerdo em
reverso máximo. Segundo o piloto, "nas condições em que a
pista se encontrava, [o procedimento adotado] apresentava
mais segurança para o pouso".
Até a edição da norma, a fabricante orientava que, em casos de reverso bloqueado, o manete de controle do motor cujo
reverso estivesse inabilitado
deveria permanecer na
posição "idle".
A caixa-preta do avião acidentado apontou que a posição
errada dos manetes foi a causa
inicial do acidente. Porém, ainda não se sabe se isso ocorreu
por um erro dos pilotos ou por
falha mecânica ou eletrônica.
A Airbus mudou o seu procedimento após acidentes semelhantes ao de Congonhas, mas
sem vítimas, em que as caixas-pretas também apontaram erro
na posição dos manetes: um foi
colocado em reverso máximo e
o outro em aceleração.
A fabricante, então, mandou
que os pilotos passassem a adotar o mesmo procedimento dos
pousos "normais", ou seja, colocar os dois manetes em posição de reverso máximo.
Na prática, a mudança de
procedimento não afetou o desempenho da aeronave -na
posição "idle" ou de reverso, se
o reverso estiver desabilitado, o
motor continuará em "marcha
lenta". O objetivo da nova
orientação foi apenas, de acordo com a própria Airbus, manter o procedimento normal dos
pilotos para evitar acidentes.
Treinamento
De acordo com a assessoria
de imprensa da TAM, todos os
pilotos da empresa passam por
dois treinamentos por ano, nos
quais são atualizados de todas
as mudanças de procedimento.
Desde a nova orientação da Airbus, os pilotos da empresa tiveram pelo menos dois treinamentos desse tipo.
Além disso, de acordo com a
TAM, os pilotos recebem o
MEL (Minimum Equipment
List) em todos os vôos. O documento orienta sobre todos os
procedimentos da aeronave. E
a cada mudança do MEL, os pilotos recebem um BOT (boletim técnico operacional) com
as novas orientações.
A TAM reduziu, após aprovação da Anac (Agência Nacional
de Aviação Civil), o tempo de
cada sessão de simulador de
vôo nos treinamentos de seus
pilotos.
Para Stringhini, "a redução
do treinamento do comandante não resulta em inabilidade".
"Mas, se existe um tempo regulamentado internacionalmente, vamos cumpri-lo", afirmou .
A TAM afirmou ainda que
não comentaria nenhum aspecto da investigação do acidente, inclusive o depoimento
de seu piloto.
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