São Paulo, quarta-feira, 22 de agosto de 2007

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Órgão do patrimônio terá vereador ligado ao setor imobiliário

Toninho Paiva (PR) teve quase 40% de sua campanha financiada por uma empresa pertencente ao grupo Savoy

Ele defende que o Conpresp perca poder e que as decisões do conselho dependam de homologação pela Câmara Municipal

AFRA BALAZINA
EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O vereador Toninho Paiva (PR), 65, novo representante da Câmara no Conpresp (conselho municipal do patrimônio histórico de SP), é ligado ao mercado imobiliário e teve quase 40% de sua campanha financiada por empresa do grupo Savoy. A empresa pertencente à imobiliária e construtora lhe doou R$ 89,4 mil - a campanha custou R$ 243 mil.
Paiva defende que o órgão perca poder e que todas as decisões do conselho dependam de homologação da Câmara. Para ele, por exemplo, o tombamento de galpões da Mooca, realizado em julho, deve ser revisto. A Savoy possui galpões nesse bairro para instalações industriais e é dona do shopping Aricanduva, na zona leste, onde está a base eleitoral do vereador.
A indicação de Paiva ao Conpresp, segundo a Folha apurou, faz parte de um movimento da Câmara para ganhar poder sobre o órgão. No início do mês, os vereadores aprovaram em primeiro turno projeto que aumenta de um para seis o número de vereadores no órgão. O conselho passaria a ter 14 membros, mas, como o projeto estabelece quórum mínimo de dois terços para as reuniões, o órgão só poderia se manifestar com a anuência dos parlamentares. A segunda e última votação pode ocorrer amanhã.
Paiva, que também articula para ser eleito presidente do Conpresp, antes de se tornar vereador -está há quatro mandatos na Casa- já foi jogador de futebol profissional no Paraná, vendeu imóveis e presidiu associações, como a Sociedade Amigos do Tatuapé. A seguir, trechos de entrevista que concedeu à Folha.  

FOLHA - O senhor é contrário ao tombamento da Mooca?
TONINHO PAIVA
- A princípio, sem conhecer com profundidade, sou contra. Conheço algumas pessoas que nos procuraram, investiram em áreas lá próximas ao moinho Santo Antonio e fizeram investimento de quase [tudo] do que possuíam e hoje se encontram em condições de perder o investimento. Acredito que precisa ser feita uma avaliação melhor.
(...) E a população da Mooca está revoltada. Quer verticalizar. E hoje se oferecem muitas condições de adquirir financiamento para uma classe média. A maior mão-de-obra de qualquer cidade é a construção civil.

FOLHA - Qual é a sua opinião sobre o Conpresp hoje?
PAIVA
- Vivemos num regime democrático e no Conpresp não há participação da sociedade, não se exige o cumprimento da democracia. Toma-se uma medida entre cinco membros e faz-se um tombamento. Mas o envoltório [área no entorno do bem tombado] é o grande problema e a grande preocupação nessa Casa [a Câmara].

FOLHA - Como fica se o projeto que muda o Conpresp for aprovado?
PAIVA
- Toda decisão do órgão terá de passar pela Câmara.

FOLHA - Isso não tira a independência? Não tira o poder?
PAIVA
- Não tira o poder todo. Tira a competência dele de fazer o tombamento sozinho.

FOLHA - O sr. já fez algum pedido de tombamento na cidade?
PAIVA
- Não.

FOLHA - Algum lugar deve ser?
PAIVA
- O parque do Piqueri e o santuário da Penha, de 1682.

FOLHA - Que imóveis não deveriam ser tombados?
PAIVA
- Tem imóvel que não deve ser tombado porque não tem nada de histórico. Os galpões que tombaram na Mooca eram para armazenar alimentos do Ceagesp, grãos, não vejo o que tem de histórico para a cidade. É preciso um certo cuidado, uma ampla discussão para tombar.

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