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FEBEM
Marta Godinho acusa funcionários de facilitar fugas por motivos políticos; descentralização deve demorar
Superlotação continuará, diz secretária
ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local
A secretária da Assistência e Desenvolvimento Social do Estado
de São Paulo, Marta Godinho,
disse ontem, em entrevista exclusiva para a Folha, que, entre as razões das sucessivas rebeliões na
Febem nos últimos dias, está o
"interesse" de funcionários ligados a partidos em promover a fuga de menores.
A secretária admitiu que não
conseguirá implementar a descentralização das unidades de internação a curto prazo e que o
complexo da Imigrantes vai continuar superlotado, pelo menos,
pelos próximos seis meses.
Segundo Marta, o complexo da
Imigrantes da Febem (Fundação
Estadual do Bem-Estar do Menor) é vulnerável porque foi concebido para abrigar menores carentes. "Só não foge (da Imigrantes) quem não quer."
Sobre a concentração de motins
nos últimos dez dias, a secretária
disse que "existem funcionários
descontentes, ligados a determinados partidos, interessados em
promover a fuga dos meninos".
"Há facilitação de fuga, por mais
que a nossa direção tenha tomado
medidas para que isso não acontecesse. Nós temos tido muitas
pressões externas. Temos tido
também pressão da organização
dos pais. Hoje, nós temos na Febem uma clientela diferenciada,
de classe média. Os pais são muito
mais conscientes e lutadores. Organizam-se e fazem muita pressão", afirmou Marta Godinho, referindo-se à entrada e permanência de pais de infratores nas alas
rebeladas no último dia 12, na
Imigrantes. Na ocasião, muitos
menores conseguiram fugir.
Para a secretária, do lado político, "existem movimentações interessadas em denegrir a imagem
do governo Covas".
"Essas forças externas todas,
além de alguns outros poderes
que também têm atitude de crítica formal ao Executivo, não colaboram para a gente resolver o
problema", disse.
Ela admitiu que as instalações
na Imigrantes "não suportam
adolescentes infratores porque
eles já têm um outro nível de
comportamento, um outro tipo
de força".
No entanto, ela disse que o governo não retira os menores de lá
porque há uma determinação da
Justiça. "Os meninos têm de ficar
numa unidade durante 45 dias até
que o juiz decida para onde encaminhá-los. Só que esses 45 dias,
muitas vezes, se prolongam por
três, seis meses, e os meninos vão
ficando amontoados. Por outro
lado, não temos para onde levá-los porque as nossas outras casas
já estão muito sobrecarregadas."
Projeto comprometido
A secretária disse que a superlotação só será resolvida com a
construção de miniinternatos no
interior. Entretanto, o projeto está
comprometido porque a secretaria "está recebendo, por conta da
divulgação seguida de rebeliões
pela imprensa, um recuo muito
grande dos prefeitos que já tinham oferecido terrenos".
Marta Godinho afirmou que
acha que não conseguirá entregar
as dez unidades no interior, prometidas para o final do ano.
"Não sei se conseguiremos isso,
mas estamos fazendo muita força.
Outra força que vamos fazer é para manter uma contenção física
externa da Imigrantes, porque dali só não foge quem não quer."
"Como nós não estamos com
esperança de que a tal descentralização, tão desejada, ocorra a curtíssimo prazo, temos de melhorar
os equipamentos que já temos.
Então vamos fechar, por exemplo, aquela saída que dá para a
mata, local da fuga da última semana. Vamos tentar cercar a área
toda com um grande gradil", disse a secretária. A obra deverá ficar
pronta em uma semana, de acordo com a secretária.
"A superlotação vai continuar.
Nós queremos que dentro de uns
seis meses a gente tenha alguma
das obras concluídas."
"Faço um apelo ao Judiciário
para que autorize a entrega de infratores a famílias que têm condições de acompanhar ou tratar dos
meninos", afirmou a secretária.
Marta Godinho disse que já foi
escolhido o local para a construção da nova unidade para mais de
900 menores. "Será em Franco da
Rocha (Grande São Paulo)."
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