São Paulo, Quarta-feira, 22 de Setembro de 1999
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FEBEM
Marta Godinho acusa funcionários de facilitar fugas por motivos políticos; descentralização deve demorar
Superlotação continuará, diz secretária

ANDRÉ LOZANO
da Reportagem Local

A secretária da Assistência e Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo, Marta Godinho, disse ontem, em entrevista exclusiva para a Folha, que, entre as razões das sucessivas rebeliões na Febem nos últimos dias, está o "interesse" de funcionários ligados a partidos em promover a fuga de menores.
A secretária admitiu que não conseguirá implementar a descentralização das unidades de internação a curto prazo e que o complexo da Imigrantes vai continuar superlotado, pelo menos, pelos próximos seis meses.
Segundo Marta, o complexo da Imigrantes da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) é vulnerável porque foi concebido para abrigar menores carentes. "Só não foge (da Imigrantes) quem não quer."
Sobre a concentração de motins nos últimos dez dias, a secretária disse que "existem funcionários descontentes, ligados a determinados partidos, interessados em promover a fuga dos meninos".
"Há facilitação de fuga, por mais que a nossa direção tenha tomado medidas para que isso não acontecesse. Nós temos tido muitas pressões externas. Temos tido também pressão da organização dos pais. Hoje, nós temos na Febem uma clientela diferenciada, de classe média. Os pais são muito mais conscientes e lutadores. Organizam-se e fazem muita pressão", afirmou Marta Godinho, referindo-se à entrada e permanência de pais de infratores nas alas rebeladas no último dia 12, na Imigrantes. Na ocasião, muitos menores conseguiram fugir.
Para a secretária, do lado político, "existem movimentações interessadas em denegrir a imagem do governo Covas".
"Essas forças externas todas, além de alguns outros poderes que também têm atitude de crítica formal ao Executivo, não colaboram para a gente resolver o problema", disse.
Ela admitiu que as instalações na Imigrantes "não suportam adolescentes infratores porque eles já têm um outro nível de comportamento, um outro tipo de força".
No entanto, ela disse que o governo não retira os menores de lá porque há uma determinação da Justiça. "Os meninos têm de ficar numa unidade durante 45 dias até que o juiz decida para onde encaminhá-los. Só que esses 45 dias, muitas vezes, se prolongam por três, seis meses, e os meninos vão ficando amontoados. Por outro lado, não temos para onde levá-los porque as nossas outras casas já estão muito sobrecarregadas."

Projeto comprometido
A secretária disse que a superlotação só será resolvida com a construção de miniinternatos no interior. Entretanto, o projeto está comprometido porque a secretaria "está recebendo, por conta da divulgação seguida de rebeliões pela imprensa, um recuo muito grande dos prefeitos que já tinham oferecido terrenos".
Marta Godinho afirmou que acha que não conseguirá entregar as dez unidades no interior, prometidas para o final do ano.
"Não sei se conseguiremos isso, mas estamos fazendo muita força. Outra força que vamos fazer é para manter uma contenção física externa da Imigrantes, porque dali só não foge quem não quer."
"Como nós não estamos com esperança de que a tal descentralização, tão desejada, ocorra a curtíssimo prazo, temos de melhorar os equipamentos que já temos. Então vamos fechar, por exemplo, aquela saída que dá para a mata, local da fuga da última semana. Vamos tentar cercar a área toda com um grande gradil", disse a secretária. A obra deverá ficar pronta em uma semana, de acordo com a secretária.
"A superlotação vai continuar. Nós queremos que dentro de uns seis meses a gente tenha alguma das obras concluídas."
"Faço um apelo ao Judiciário para que autorize a entrega de infratores a famílias que têm condições de acompanhar ou tratar dos meninos", afirmou a secretária.
Marta Godinho disse que já foi escolhido o local para a construção da nova unidade para mais de 900 menores. "Será em Franco da Rocha (Grande São Paulo)."


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