São Paulo, sábado, 22 de setembro de 2007

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Biblioteca Mário de Andrade muda para atrair pesquisador

Reforma prevê área só para estudiosos, salas de leitura e café; objetivo é voltar a ser centro de pesquisa intelectual

Local vive crise de identidade e não encontra público para seu acervo raro, com coleções especiais, originais e livros de arte

WILLIAN VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Faz 15 dias que a biblioteca Mário de Andrade, no centro de São Paulo, fechou para uma reforma de 18 meses que mudará seu perfil. O projeto prevê duas bibliotecas distintas: uma comum, para empréstimos, e outra exclusiva para os pesquisadores -que a deixaram após anos de decadência.
A biblioteca vivia duas crises. A mais conhecida é de infra-estrutura: o prédio tem infiltrações e rachaduras e o acervo é desatualizado e desprotegido. Mas há também uma crise de identidade. Ela não encontra público para seu acervo -edições originais, coleções especiais e livros de arte.
"Hoje a sala de leitura é freqüentada por jovens de segundo grau, aposentados, sem-tetos-e poucos pesquisadores", afirma o diretor da biblioteca, Luís Francisco de Carvalho. Ou seja, um acervo raro para um público de biblioteca comum.
"O público dela não é o estudante de segundo grau", concorda o secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil. "A vocação dela é ser um centro de pesquisa intelectual."
A nova Mário de Andrade será uma biblioteca voltada às humanidades, aproveitando o acervo que já possui e investindo em aquisições. E o acesso a obras valiosas será restrito, com entrevistas prévias e uso de crachás.
E as intervenções irão além do restauro do prédio, como instalações elétricas, hidráulicas e climatização. O foco será o controle do fluxo de visitantes. "É um absurdo uma biblioteca dessa estatura ser aberta por todos os lados", diz quem assina o projeto, Armênio de Brito Cruz, do escritório Piratininga Arquitetos Associados.
Isso significa separar o acervo de livros comuns em uma parte do prédio que não tenha conexão com a outra, a do acervo mais valioso. Jornais e revistas serão levados para o antigo prédio do Itesp, doado para ser um anexo. Haverá uma biblioteca circulante, com 60 mil livros. E, no "andar dos pesquisadores", haverá acesso restrito a 16 salas de leitura.
Como o projeto original do arquiteto Jacques Pilon não pode sofrer mudanças, os problemas serão, literalmente, contornados. Um corredor de vidro vai ladear a biblioteca de uma entrada a outra. Na parte de trás do prédio, haverá uma área de leitura na altura da copa das árvores, debruçando-se sobre a praça. E até um café será aberto -tudo para trazer os pesquisadores de volta.

Velhos problemas
Em setembro passado, obras raras como um livro de horas em pergaminho de 1501 e gravuras do século 19, de Jean Debret e Johann Rugendas, foram furtadas -e nunca recuperadas - ao custo de R$ 400 mil. A biblioteca não tinha seguro nem terá devido ao custo, diz o diretor. Com a contratação de um novo projeto de segurança, a diretoria espera que o acervo fique protegido.
Funcionários são outro problema. Se em 1991 havia 66 bibliotecários, hoje são 28, muitos sem preparo. Uma questão de orçamento, que seria resolvida, segundo Carvalho, com uma mudança técnica. "Já há discussões para transformar a Mário numa fundação."


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