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Biblioteca Mário de Andrade muda para atrair pesquisador
Reforma prevê área só para estudiosos, salas de leitura e café; objetivo é voltar a ser centro de pesquisa intelectual
Local vive crise de identidade e não encontra público para seu acervo raro, com coleções especiais, originais e livros de arte
WILLIAN VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Faz 15 dias que a biblioteca
Mário de Andrade, no centro de
São Paulo, fechou para uma reforma de 18 meses que mudará
seu perfil. O projeto prevê duas
bibliotecas distintas: uma comum, para empréstimos, e outra exclusiva para os pesquisadores -que a deixaram após
anos de decadência.
A biblioteca vivia duas crises.
A mais conhecida é de infra-estrutura: o prédio tem infiltrações e rachaduras e o acervo é
desatualizado e desprotegido.
Mas há também uma crise de
identidade. Ela não encontra
público para seu acervo -edições originais, coleções especiais e livros de arte.
"Hoje a sala de leitura é freqüentada por jovens de segundo grau, aposentados, sem-tetos-e poucos pesquisadores",
afirma o diretor da biblioteca,
Luís Francisco de Carvalho. Ou
seja, um acervo raro para um
público de biblioteca comum.
"O público dela não é o estudante de segundo grau", concorda o secretário municipal de
Cultura, Carlos Augusto Calil.
"A vocação dela é ser um centro
de pesquisa intelectual."
A nova Mário de Andrade será uma biblioteca voltada às
humanidades, aproveitando o
acervo que já possui e investindo em aquisições. E o acesso a
obras valiosas será restrito,
com entrevistas prévias e uso
de crachás.
E as intervenções irão além
do restauro do prédio, como
instalações elétricas, hidráulicas e climatização. O foco será o
controle do fluxo de visitantes.
"É um absurdo uma biblioteca
dessa estatura ser aberta por
todos os lados", diz quem assina o projeto, Armênio de Brito
Cruz, do escritório Piratininga
Arquitetos Associados.
Isso significa separar o acervo de livros comuns em uma
parte do prédio que não tenha
conexão com a outra, a do acervo mais valioso. Jornais e revistas serão levados para o antigo
prédio do Itesp, doado para ser
um anexo. Haverá uma biblioteca circulante, com 60 mil livros. E, no "andar dos pesquisadores", haverá acesso restrito a
16 salas de leitura.
Como o projeto original do
arquiteto Jacques Pilon não
pode sofrer mudanças, os problemas serão, literalmente,
contornados. Um corredor de
vidro vai ladear a biblioteca de
uma entrada a outra. Na parte
de trás do prédio, haverá uma
área de leitura na altura da copa
das árvores, debruçando-se sobre a praça. E até um café será
aberto -tudo para trazer os
pesquisadores de volta.
Velhos problemas
Em setembro passado, obras
raras como um livro de horas
em pergaminho de 1501 e gravuras do século 19, de Jean Debret e Johann Rugendas, foram
furtadas -e nunca recuperadas
- ao custo de R$ 400 mil. A biblioteca não tinha seguro nem
terá devido ao custo, diz o diretor. Com a contratação de um
novo projeto de segurança, a diretoria espera que o acervo fique protegido.
Funcionários são outro problema. Se em 1991 havia 66 bibliotecários, hoje são 28, muitos sem preparo. Uma questão
de orçamento, que seria resolvida, segundo Carvalho, com
uma mudança técnica. "Já há
discussões para transformar a
Mário numa fundação."
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