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GUERRA URBANA
Cinco de sete colégios de Heliópolis alteraram horário depois que circulação foi proibida após as 21h
Tráfico decreta toque de recolher e faz escolas de SP dispensar seus alunos
ALESSANDRO SILVA
da Reportagem Local
Grupos rivais que disputam
pontos de tráfico de drogas impuseram o toque de recolher na favela Heliópolis -a maior de São
Paulo. Desde a última segunda-feira, segundo os moradores, as
ruas precisam estar vazias às 21h.
O novo limite de horário atingiu
em cheio as escolas que funcionam ao redor de Heliópolis. Cinco dos sete colégios mais próximos da favela alteraram o horário
das aulas noturnas e estão dispensando os alunos mais cedo.
Em um deles, a Escola Municipal Luiz Gonzaga, cuja quadra de
esportes fica ao lado da favela, as
aulas diurnas de educação física
também foram suspensas. ""O que
mais se estranha é que os alunos
nem estão pedindo para fazer esportes, como é de costume", disse
uma das professoras.
Esta semana, a aulas no colégio
não passaram das 21h, segundo
funcionários ouvidos.
A mudança de horários foi implantada a pedido de pais e alunos, segundo professores e funcionários das escolas que não
querem ser identificados.
Conforme moradores, "soldados" do tráfico passaram nas casas alertando para a possibilidade
de confronto entre os grupos rivais e aconselhando que ninguém
ficasse na rua após as 21h.
""Eles deram a ordem: quem tiver na rua leva tiro também", disse o estudante E., 16.
Um alerta semelhante havia sido dado na semana passada. No
dia seguinte, um grupo em uma
perua Kombi percorreu ruas do
bairro e matou seis pessoas. Foi o
começo da disputa.
Nos últimos dois dias, começaram também os telefonemas
ameaçadores, que ordenam o fechamento imediato das escolas,
sob risco de invasão, tiroteio e
mortes. ""Na dúvida, se os telefonemas são trote ou não, pela segurança deles, terminamos a aula
mais cedo", disse uma diretora.
Três colégios estaduais e um
municipal liberaram seus estudantes antes das 22h30 anteontem. Uma quinta escola fechou
antes das 20h, por causa de uma
ligação anônima, mas a informação não foi confirmada.
Diretores e professores, que
preferem não ter os nomes revelados, disseram que as aulas perdidas deverão ser repostas.
As histórias sobre o que está
ocorrendo dentro de Heliópolis
são contadas pelos estudantes.
Com as ruas vazias, os traficantes controlam a aproximação de
pessoas estranhas. ""Tem lugar, lá
no meio, que ninguém entra depois das 20h30", afirmou o ajudante geral F., 24.
Professores disseram que é o
medo está fazendo com que alguns alunos se distanciem das aulas. Essa é a situação do garoto
C.,17, que mora na favela e estuda
à noite até sexta-feira. ""Prefiro ficar em casa."
Insegurança
A sensação de insegurança aumenta com os incidentes que antecederam a chacina e a divulgação do toque de recolher. Na escola estadual Ataliba de Oliveira,
por exemplo, no início do mês, o
vitrô da porta principal foi atingido por um tiro de revólver.
Tanto as polícias como as secretarias da Educação e da Segurança
Pública informaram ontem desconhecer o toque de recolher.
""Há pelo menos três lideranças
do tráfico lá dentro", disse o delegado Edmundo de Lacerda Neto,
do 95º DP (Heliópolis), que não
descarta a briga entre quadrilhas.
Segundo a polícia, os moradores
da favela dificilmente fornecem
informações.
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