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GUERRA URBANA
Na volta para casa, estudantes são acompanhados por líderes comunitários, e professores, pela PM
Alunos e professores recebem escolta
da Reportagem Local
Alunos da Escola Municipal de
Primeiro Grau Campos Sales,
próxima da favela Heliópolis, foram os poucos que assistiram às
aulas normalmente até as 23h, anteontem, na região. Mas todos
-cerca de mil pessoas- voltaram para casa em comboio, "escoltados" pelas lideranças comunitárias da região.
A afirmação é de José Geraldo
de Paula Pinto, secretário da Unas
(União das Associações de Moradores de Heliópolis). Segundo ele,
funcionários da secretaria da escola ligaram para a Unas pedindo
ajuda para levar os alunos de volta
à favela, com medo de que algo
lhes ocorresse no percurso.
"Chamamos vários colegas da
associação, que foram a pé, de
moto ou de carro esperar os alunos na porta da escola. Depois,
acompanhamos o grupo pelas
ruas principais da favela", conta
Pinto.
De acordo com ele, essa operação é comum quando falta luz na
região. "Mas, como proteção, foi a
primeira vez", diz.
O diretor da escola, Braz Rodrigues Nogueira, afirma que a escola tem um trabalho de integração
forte com a comunidade e, por isso, não deve se render a ameaças.
Ele afirma não ter tomado conhecimento do comboio. Mas,
durante o intervalo noturno, Nogueira reuniu alunos, professores
e funcionários para "dar um sermão".
"Disse a eles que a escola tem regras que devem ser seguidas e,
por isso, eu não iria dispensá-los
mais cedo. Não podemos baixar a
cabeça. Quem faz isso é aluno que
não quer estudar e funcionário
que não quer trabalhar", diz.
Ele disse que recebeu pressões
de todos os lados para soltar os estudantes mais cedo, mas não cedeu. "Não tenho medo porque o
nosso segredo é a integração da
escola com a comunidade. Eliminamos a violência com articulações, não com a desestruturação",
afirma.
Para o diretor, o toque de recolher é "fruto do imaginário das
pessoas. "Após três anos como diretor, já ouvi várias vezes esse tipo
de ameaça como o toque de recolher. Até hoje, nunca consegui
comprovar isso."
Escolta
Professores do período da noite
da escola Ataliba de Oliveira, perto de Heliópolis, saíram escoltados um carro da Polícia Militar na
última segunda.
Em comboio, os funcionários
da noite seguiram em direção à
rodovia Anchieta, evitando passar por perto da favela. O caminho é o mais longo.
A polícia foi chamada, segundo
professores, por causa dos avisos
dos pais e alunos, que pela primeira vez haviam pedido o final
da aula mais cedo.
(PRISCILA LAMBERT e ALESSANDRO SILVA)
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