São Paulo, Sexta-feira, 22 de Outubro de 1999
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GUERRA URBANA

Na volta para casa, estudantes são acompanhados por líderes comunitários, e professores, pela PM

Alunos e professores recebem escolta

da Reportagem Local

Alunos da Escola Municipal de Primeiro Grau Campos Sales, próxima da favela Heliópolis, foram os poucos que assistiram às aulas normalmente até as 23h, anteontem, na região. Mas todos -cerca de mil pessoas- voltaram para casa em comboio, "escoltados" pelas lideranças comunitárias da região.
A afirmação é de José Geraldo de Paula Pinto, secretário da Unas (União das Associações de Moradores de Heliópolis). Segundo ele, funcionários da secretaria da escola ligaram para a Unas pedindo ajuda para levar os alunos de volta à favela, com medo de que algo lhes ocorresse no percurso.
"Chamamos vários colegas da associação, que foram a pé, de moto ou de carro esperar os alunos na porta da escola. Depois, acompanhamos o grupo pelas ruas principais da favela", conta Pinto.
De acordo com ele, essa operação é comum quando falta luz na região. "Mas, como proteção, foi a primeira vez", diz.
O diretor da escola, Braz Rodrigues Nogueira, afirma que a escola tem um trabalho de integração forte com a comunidade e, por isso, não deve se render a ameaças.
Ele afirma não ter tomado conhecimento do comboio. Mas, durante o intervalo noturno, Nogueira reuniu alunos, professores e funcionários para "dar um sermão".
"Disse a eles que a escola tem regras que devem ser seguidas e, por isso, eu não iria dispensá-los mais cedo. Não podemos baixar a cabeça. Quem faz isso é aluno que não quer estudar e funcionário que não quer trabalhar", diz.
Ele disse que recebeu pressões de todos os lados para soltar os estudantes mais cedo, mas não cedeu. "Não tenho medo porque o nosso segredo é a integração da escola com a comunidade. Eliminamos a violência com articulações, não com a desestruturação", afirma.
Para o diretor, o toque de recolher é "fruto do imaginário das pessoas. "Após três anos como diretor, já ouvi várias vezes esse tipo de ameaça como o toque de recolher. Até hoje, nunca consegui comprovar isso."

Escolta
Professores do período da noite da escola Ataliba de Oliveira, perto de Heliópolis, saíram escoltados um carro da Polícia Militar na última segunda.
Em comboio, os funcionários da noite seguiram em direção à rodovia Anchieta, evitando passar por perto da favela. O caminho é o mais longo.
A polícia foi chamada, segundo professores, por causa dos avisos dos pais e alunos, que pela primeira vez haviam pedido o final da aula mais cedo. (PRISCILA LAMBERT e ALESSANDRO SILVA)


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