São Paulo, terça-feira, 22 de outubro de 2002

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CRIME ORGANIZADO

Segundo a polícia, divisão na cúpula do PCC, entre favoráveis e contrários a atentados, teria motivado plano

Presa pretendia matar mulher de rival

DA REPORTAGEM LOCAL

Antes de ser presa, Petronilha Maria de Carvalho Felício, 51, de acordo com a polícia, planejava a morte de Aurinete Carlos Félix da Silva, mulher de César Augusto Roris da Silva, o Cesinha, fundador do PCC. As duas mulheres aparecem no primeiro escalão do organograma do PCC montado pela polícia em junho deste ano.
O motivo seria uma divisão na cúpula do PCC, entre favoráveis e contrários aos atentados. Mulher de José Márcio Felício, o Geleião, Petronilha, que participou da organização das operações -de acordo com a polícia-, reprovou a ação de Aurinete, que trabalha para evitar os atentados.
Desde a megarrebelião nos presídios, no ano passado, a cúpula do PCC está dividida entre uma ala radical -que defende atentados para desmoralizar o governo e demonstrar força- e um grupo mais moderado. Geleião e Cesinha eram da ala radical, o que pode representar uma divergência em relação aos atentados também nesse grupo.
As afirmações de Petronilha estão nas escutas telefônicas feitas pela polícia e pelo Ministério Público. Ele teria dito, por telefone, a Nilson Paula Alcântara dos Reis, o Faísca, preso na penitenciária de Iaras (282 km de São Paulo), que Aurinete seria morta se tentasse, mais uma vez, impedir a realização dos atentados. A ameaça também foi estendida a outra mulher, também mulher de preso, amiga de Aurinete.
Segundo o delegado Rui Ferraz Fontes, do Deic, Petronilha não chegou a dar ordem de morte para as duas mulheres, como ocorreu com dois traficantes presos na Grande São Paulo.
José Nardi Filho e Ezequiel Fernando dos Santos seriam eliminados porque teriam tentado roubar droga de outro grupo de traficantes ligado ao PCC.
Também teria partido de Petronilha, segundo a polícia, a ordem para o atentado contra uma base comunitária da Polícia Militar em Campinas, no último dia 8, que provocou a morte do soldado Simão Pedro de Queiroz, 44.
Segundo o promotor Roberto Porto, do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), Petronilha era apenas uma "leva-e-traz" -trabalhava na rede de informações da facção- antes do isolamento da cúpula do PCC no presídio de segurança máxima de Presidente Bernardes (589 km de São Paulo).
Mas, segundo os promotores, o poder de Petronilha cresceu depois disso. Ela visitava Geleião todo final de semana e repassava as ordens para o PCC. "Mas ela não só repassava ordens. Ela também dava ordens, tinha poder de decisão", disse Porto.
O que se ouve nas escutas, segundo os promotores, são ordens para atentados e mortes. "Ela falava: quero uma festa [atentado] por dia", disse Porto.
Indiciada por formação de quadrilha em junho, Petronilha respondia processo em liberdade. Nas últimas semanas, no entanto, segundo o Gaeco, ela estava alternando o local de residência.
Os grampos motivaram o pedido de prisão preventiva à 7ª Vara Criminal de São Paulo, concedido na última sexta. Mas a polícia só conseguiu localizar Petronilha às 13h de anteontem, quando saía da visita ao marido.
O advogado de Petronilha, Marcos Tomaz, disse ontem que não teve acesso às gravações das escutas e que sua cliente só será ouvida oficialmente hoje. Mas Tomaz disse que ela negou participação nos atentados. "Simplesmente reportaram a ela o que tinha sido feito, por telefone. Não que ela tivesse mandado", afirmou.
(GILMAR PENTEADO)


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