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Escolas buscam métodos ousados para educação
Experiências incluem turmas sem divisão de classes e até o fim das provas
Em escola na Vila Matilde,
na zona leste de São Paulo,
um mesmo professor ensina
todas as matérias para
alunos de 5ª a 8ª séries
Leonardo Wen/Folha Imagem
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Crianças fazem capoeira na Emef Amorim Lima, no Butantã |
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
SIMONE HARNIK
DA REPORTAGEM LOCAL
Imagine uma escola em que
alunos não recebem notas em
provas e têm liberdade para decidir qual o tema a ser estudado. Seus professores, em vez de
serem divididos de acordo com
a disciplina em que se especializaram, dão aulas sobre todos os
temas para a mesma turma.
Essas e outras práticas fogem
do padrão encontrado na maioria das escolas, mas são adotadas, em maior ou menor grau,
por instituições que tentam
subverter a ordem. Em alguns
casos, são experiências novas.
Em outros, são práticas consolidadas. Para educadores ouvidos pela Folha, é possível inovar sem prejuízo da qualidade.
"As crianças mudaram, o
mundo mudou, mas a escola
permanece a mesma. A estrutura de trabalho da maioria das
escolas é igualzinha à que eu
presenciei como aluno há 50
anos. Acho que a maioria dos
educadores está convencida de
que é preciso mudar, mas muitos não sabem como. No entanto, é possível perceber alguns
sinais de mudança", diz o vice-presidente do Conselho Municipal de Educação de São Paulo, Artur Costa Neto.
Na escola particular Oga Mitá, do Rio de Janeiro, por
exemplo, um dos sinais dessa
mudança foi o fim das provas.
Os alunos até recebem notas,
mas elas são construídas a partir de um conjunto de objetivos
traçados. O professor acompanha o estudante e o avalia por
trabalhos individuais ou em
grupos e vê quantos objetivos
foram alcançados.
A diretora Márcia Leite diz
que a fórmula tem sido bem
aceita pelos pais nos 29 anos de
história da escola: "Não é treinando desde criança que alguém vai aprender no futuro a
fazer provas ou processos seletivos. Achamos que o importante é preparar esse estudante
para saber buscar sempre o conhecimento. É isso que dará
confiança na hora da prova".
Para Leite, o desafio de escolas que tentam fugir ao padrão
é continuar ousando a partir da
quinta série. "É muito fácil encontrar escolas com projetos
inovadores até a quarta série.
Nosso desafio recente está sendo adaptar nosso projeto à realidade da quinta à oitava."
Esse mesmo desafio está
sendo enfrentado pela Emef
(Escola Municipal de Ensino
Fundamental) Presidente João
Pinheiro, na Vila Matilde, zona
leste de São Paulo. De quinta a
oitava séries nas escolas tradicionais os estudantes têm vários professores para as disciplinas. Lá, não. Os docentes
têm de ter conhecimentos para
ministrar todas as disciplinas.
"Os professores ficam com
um comprometimento maior,
pois têm de estudar. E isso
mostra também que o conhecimento está unificado. A escola
está organizada para trabalhar
as habilidades e competências
para que o estudante possa viver bem lá fora", afirma a diretora Aparecida Inocência dos
Santos. A implantação do projeto tem história: são 22 anos
desde a mudança de métodos.
Mais recentes são as mudanças feitas na Emef Amorim Lima, no Butantã, zona oeste da
capital. Há três anos, a escola
optou por abolir as salas de aula da segunda até a oitava série.
Apenas na primeira série as
classes foram mantidas, porque as crianças estão em fase
de alfabetização. O conteúdo é
desenvolvido por meio de
grandes temas e em grupos de
estudantes. As dúvidas são tiradas pelos tutores, que também
avaliam os alunos.
Costa Neto, do Conselho
Municipal de Educação, diz
que é possível manter uma linha pedagógica inovadora
mesmo no ensino médio, quando muitas escolas passam a se
preocupar mais com a preparação para o vestibular.
"Acho preferível ter tido uma
experiência de 12 anos em que
te ensinaram a pensar de forma
criativa mesmo que, por seis
meses, você tenha que se bitolar para passar no exame. A experiência desses anos será
muito mais importante para a
vida do que o vestibular", diz.
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