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"Novos punks" ignoram ideologia, diz escritor
ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA
O movimento punk no Brasil
está diluído. Essa é a opinião do
escritor e dramaturgo Antonio
Bivar, 68, autor, entre outros,
do livro "O que é Punk" (editora
Brasiliense). "Com exceção de
poucas facções, não existe uma
ideologia punk por aqui."
Bivar lembra que o movimento chegou ao país no início
dos anos 80. Era uma "elite
punk", como ele gosta de chamar, limitada ao proletariado
de São Paulo e à classe média
alta de Brasília, representada
por filhos de diplomatas.
A proposta inicial era o choque, a revolta contra o sistema
capitalista em defesa do anarquismo. Os punks daquela época também brigavam. "Mas entre si. Havia uma rixa típica de
adolescente. Mas eles não
saiam para a cidade com o intuito de bater ou se meter em
encrenca. Eram, na verdade,
até gentis", conta Bivar.
Segundo o escritor, não é o
punk que está mais violento,
mas a sociedade como um todo.
"Não podemos generalizar e associar o punk à violência."
Hoje, continua o escritor,
muitos jovens dizem ser punks,
sem conhecer o movimento ou
seguir seus princípios.
"Da estética ao comportamento, tudo no punk se desfez.
Até no shopping Higienópolis,
você encontra adolescentes de
classe média com cabelos produzidos, todos arrumadinhos,
impecáveis, se dizendo punks.
Ao contrário, o mesmo ocorre
na periferia", diz.
Música e moda
O punk surgiu na década de
70, na Inglaterra, com uma filosofia anarco-libertária. O movimento incluía uma nova postura na música (usava menos
acordes e tinha letras mais realistas sobre uma juventude desempregada e sem muito otimismo) e na moda (as roupas
tinham elementos contestadores como alfinetes, tachinhas,
jeans rasgados, coturnos e correntes), além de criticar o governo, a educação, os impostos,
a pobreza e a falta de perspectivas, entre outros.
Para a antropóloga Elisabeth
Murilho, da PUC-SP, as recentes ações de violência envolvendo supostos punks são, na
verdade, fenômenos urbanos
de gangues juvenis, de grupos
de intolerância.
"Os punks tinham uma proposta e uma atitude mais cultural. A violência era direcionada
às instituições, e não às pessoas. Eu não diria que esses
grupos são punks." (Colaborou DANIELA TÓFOLI, da Reportagem Local)
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