São Paulo, segunda-feira, 22 de outubro de 2007

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"Novos punks" ignoram ideologia, diz escritor

ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA DA FOLHA

O movimento punk no Brasil está diluído. Essa é a opinião do escritor e dramaturgo Antonio Bivar, 68, autor, entre outros, do livro "O que é Punk" (editora Brasiliense). "Com exceção de poucas facções, não existe uma ideologia punk por aqui."
Bivar lembra que o movimento chegou ao país no início dos anos 80. Era uma "elite punk", como ele gosta de chamar, limitada ao proletariado de São Paulo e à classe média alta de Brasília, representada por filhos de diplomatas.
A proposta inicial era o choque, a revolta contra o sistema capitalista em defesa do anarquismo. Os punks daquela época também brigavam. "Mas entre si. Havia uma rixa típica de adolescente. Mas eles não saiam para a cidade com o intuito de bater ou se meter em encrenca. Eram, na verdade, até gentis", conta Bivar.
Segundo o escritor, não é o punk que está mais violento, mas a sociedade como um todo. "Não podemos generalizar e associar o punk à violência."
Hoje, continua o escritor, muitos jovens dizem ser punks, sem conhecer o movimento ou seguir seus princípios.
"Da estética ao comportamento, tudo no punk se desfez. Até no shopping Higienópolis, você encontra adolescentes de classe média com cabelos produzidos, todos arrumadinhos, impecáveis, se dizendo punks. Ao contrário, o mesmo ocorre na periferia", diz.

Música e moda
O punk surgiu na década de 70, na Inglaterra, com uma filosofia anarco-libertária. O movimento incluía uma nova postura na música (usava menos acordes e tinha letras mais realistas sobre uma juventude desempregada e sem muito otimismo) e na moda (as roupas tinham elementos contestadores como alfinetes, tachinhas, jeans rasgados, coturnos e correntes), além de criticar o governo, a educação, os impostos, a pobreza e a falta de perspectivas, entre outros.
Para a antropóloga Elisabeth Murilho, da PUC-SP, as recentes ações de violência envolvendo supostos punks são, na verdade, fenômenos urbanos de gangues juvenis, de grupos de intolerância.
"Os punks tinham uma proposta e uma atitude mais cultural. A violência era direcionada às instituições, e não às pessoas. Eu não diria que esses grupos são punks." (Colaborou DANIELA TÓFOLI, da Reportagem Local)

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