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São Paulo, sábado, 22 de novembro de 2003

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CIDADANIA

Pesquisa mostra que cai o número dos que dizem ter preconceito, mas, na prática, 74% manifestam algum tipo de posição racista

Menos brasileiros revelam preconceito racial

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os brasileiros estão menos preconceituosos. Ou, pelo menos, assim se consideram: 96% dizem não ter preconceito racial. Em 1995, esse índice era de 88%.
Mas, apesar do discurso, 74% manifestam algum tipo de posição racista quando confrontados com a possibilidade de ter um chefe negro ou aceitar um casamento inter-racial, por exemplo (em 1995, a taxa foi 87%).
Esses resultados da pesquisa "Discriminação Racial e Preconceito de Cor no Brasil" -realizada pela Fundação Perseu Abramo, em parceria com a fundação alemã Rosa Luxemburg Stiftung- mostram que os brasileiros ainda têm uma boa distância a percorrer entre discurso e prática no que se refere à igualdade racial.
Foram entrevistadas 5.003 pessoas, com mais de 16 anos. A metodologia é a mesma de estudo do Datafolha de 1995 para comparação de dados.
Para o pesquisador responsável, Gustavo Venturi, a redução dos que se dizem preconceituosos pode ser associada a quatros fatores.
Um deles é a mudança da forma como os negros são retratados pela mídia. Segundo Venturi, embora ainda sejam geralmente escalados para papéis subalternos nas novelas, algumas já mostram personagens negros de classe média.
A descoberta do potencial aquisitivo da população negra também alterou o mercado, que passou a desenvolver produtos -como revistas e cosméticos- específicos para esse segmento, e teve repercussão na publicidade.
Outro fator apontado foi a proibição, pelo Ministério da Educação, de conteúdos preconceituosos em relação a negros, índios e mulheres nos livros didáticos.
Alinhavando esses três fatores, Venturi identifica a mão do movimento negro organizado.
"A atuação de inúmeras entidades pelo direito dos negros marcou os anos 90. Não é à toa que o [presidente] Lula nomeou o primeiro ministro negro do Supremo Tribunal Federal [Joaquim Benedito Barbosa Gomes]."
A ação desses movimentos ajudou os afrodescendentes a resgatarem o orgulho de sua negritude.
Entre 1995 e 2003, os que se autodenominam "brancos" continuam em torno de 40%. Porém, entre os que se dizem "morenos" houve uma queda de 43% para 32%. Os "pretos" ou "negros" passaram de 7% para 12%.


Saiba mais no site www.fpabramo.org.br


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