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RIO DE JANEIRO
Material da Fiocruz, que estava em automóvel levado por ladrões anteontem, foi deixado intacto em orelhão
Polícia acha amostras de bactérias roubadas
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
A polícia do Rio encontrou às
17h30 de ontem as amostras de
bactérias que haviam sido roubadas na véspera da bióloga da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz)
Dália dos Prazeres Rodrigues.
Segundo a Fiocruz, as amostras,
intactas, estavam dentro de um
orelhão em frente à casa 149 da
rua Van Gogh, em Del Castilho
(zona norte do Rio).
A pesquisadora foi ao local fazer
o reconhecimento do material, localizado depois que a Polícia Militar recebeu uma denúncia anônima. A operação de resgate atraiu
moradores da rua.
As amostras foram levadas para
a 23ª DP (Delegacia de Polícia), no
Méier (zona norte), e, a seguir, para o IML (Instituto Médico Legal).
Em entrevista ontem, a bióloga
caiu em contradição com o depoimento dado à Polícia Civil após o
roubo. Ela disse que não havia,
entre o material roubado, amostras das bactérias do cólera e da
febre tifóide, doenças graves e potencialmente letais. No depoimento, havia dito que os assaltantes levaram bactérias causadoras
das doenças. Já na entrevista, disse que entre as amostras havia
apenas bactérias associadas à infecção hospitalar e à diarréia.
No depoimento na 23ª DP, assinado pela pesquisadora, consta
que havia "material de cólera, febre tifóide e amostras de infecção
hospitalar". O material foi classificado por ela, segundo o depoimento, como "altamente contagioso, principalmente se manuseado por pessoa leiga".
As amostras foram roubadas
anteontem, quando a pesquisadora chegava de carro em casa,
em Maria da Graça (zona norte).
Sua irmã, Elizabeth Rodrigues,
também pesquisadora do Departamento de Bacteriologia da Fiocruz, a acompanhava num Gol,
onde estavam as amostras.
Foram abordadas por quatro
homens armados, que queriam
levar o Vectra onde estava Dália
Rodrigues. Ela disse ter pedido
aos assaltantes que deixassem retirar do carro uma criança que estava no banco de trás. Eles, então,
optaram pelo Gol.
A bióloga disse que levaria o
material para um curso em Vitória. Ela afirmou que estava muito
nervosa depois do assalto e não se
lembrava do que dissera no depoimento. "Não me perguntem o
que eu falei. Eu estava apavorada", afirmou.
Funcionária há mais de 20 anos
da Fiocruz, a bióloga disse ser
possível que, diante de explicações técnicas, o escrivão tenha errado na transcrição. Ela disse que
dará um novo depoimento.
Na autorização da Fiocruz para
retirada do material -emitida,
segundo o documento entregue à
polícia, em nome de Elizabeth Rodrigues-, não consta o detalhamento do conteúdo das amostras.
O delegado Luiz Archimedes
Azeredo e o escrivão Dilson Cardoso confirmaram que a bióloga
falou da presença de amostras de
febre tifóide e cólera no material
roubado. Um alerta foi transmitido pelo rádio da polícia sobre o
roubo do material "altamente
contagioso". Cardoso rechaçou a
hipótese de ter se atrapalhado ao
fazer a transcrição. "Ela assinou o
depoimento", afirmou.
O presidente da Fiocruz, Paulo
Buss, disse que é comum e dentro
das normas de biossegurança internacionais o transporte de
amostras por pesquisadores.
Segundo ele, não há indícios de
irregularidade, mas, mesmo assim, a Fiocruz fará uma averiguação do caso. Não está prevista nenhuma alteração das normas de
retirada e transporte de material
biológico, afirmou.
Colaborou FABIANA CIMIERI, da Sucursal
do Rio
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