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São Paulo, sábado, 22 de novembro de 2003

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RIO DE JANEIRO

Material da Fiocruz, que estava em automóvel levado por ladrões anteontem, foi deixado intacto em orelhão

Polícia acha amostras de bactérias roubadas

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

A polícia do Rio encontrou às 17h30 de ontem as amostras de bactérias que haviam sido roubadas na véspera da bióloga da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Dália dos Prazeres Rodrigues.
Segundo a Fiocruz, as amostras, intactas, estavam dentro de um orelhão em frente à casa 149 da rua Van Gogh, em Del Castilho (zona norte do Rio).
A pesquisadora foi ao local fazer o reconhecimento do material, localizado depois que a Polícia Militar recebeu uma denúncia anônima. A operação de resgate atraiu moradores da rua.
As amostras foram levadas para a 23ª DP (Delegacia de Polícia), no Méier (zona norte), e, a seguir, para o IML (Instituto Médico Legal).
Em entrevista ontem, a bióloga caiu em contradição com o depoimento dado à Polícia Civil após o roubo. Ela disse que não havia, entre o material roubado, amostras das bactérias do cólera e da febre tifóide, doenças graves e potencialmente letais. No depoimento, havia dito que os assaltantes levaram bactérias causadoras das doenças. Já na entrevista, disse que entre as amostras havia apenas bactérias associadas à infecção hospitalar e à diarréia.
No depoimento na 23ª DP, assinado pela pesquisadora, consta que havia "material de cólera, febre tifóide e amostras de infecção hospitalar". O material foi classificado por ela, segundo o depoimento, como "altamente contagioso, principalmente se manuseado por pessoa leiga".
As amostras foram roubadas anteontem, quando a pesquisadora chegava de carro em casa, em Maria da Graça (zona norte). Sua irmã, Elizabeth Rodrigues, também pesquisadora do Departamento de Bacteriologia da Fiocruz, a acompanhava num Gol, onde estavam as amostras.
Foram abordadas por quatro homens armados, que queriam levar o Vectra onde estava Dália Rodrigues. Ela disse ter pedido aos assaltantes que deixassem retirar do carro uma criança que estava no banco de trás. Eles, então, optaram pelo Gol.
A bióloga disse que levaria o material para um curso em Vitória. Ela afirmou que estava muito nervosa depois do assalto e não se lembrava do que dissera no depoimento. "Não me perguntem o que eu falei. Eu estava apavorada", afirmou.
Funcionária há mais de 20 anos da Fiocruz, a bióloga disse ser possível que, diante de explicações técnicas, o escrivão tenha errado na transcrição. Ela disse que dará um novo depoimento.
Na autorização da Fiocruz para retirada do material -emitida, segundo o documento entregue à polícia, em nome de Elizabeth Rodrigues-, não consta o detalhamento do conteúdo das amostras.
O delegado Luiz Archimedes Azeredo e o escrivão Dilson Cardoso confirmaram que a bióloga falou da presença de amostras de febre tifóide e cólera no material roubado. Um alerta foi transmitido pelo rádio da polícia sobre o roubo do material "altamente contagioso". Cardoso rechaçou a hipótese de ter se atrapalhado ao fazer a transcrição. "Ela assinou o depoimento", afirmou.
O presidente da Fiocruz, Paulo Buss, disse que é comum e dentro das normas de biossegurança internacionais o transporte de amostras por pesquisadores.
Segundo ele, não há indícios de irregularidade, mas, mesmo assim, a Fiocruz fará uma averiguação do caso. Não está prevista nenhuma alteração das normas de retirada e transporte de material biológico, afirmou.


Colaborou FABIANA CIMIERI, da Sucursal do Rio


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