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Sem policiamento, Pantanal "exporta" armas para o Rio
Falta de fiscalização na região da fronteira faz de Corumbá um entreposto de armas ilegais que abastecem traficantes
Folha atravessou a fronteira com a Bolívia de carro pelo menos 20 vezes sem ser abordada por policiais federais ou pela alfândega
SERGIO TORRES
JOEL SILVA
ENVIADOS ESPECIAIS A PUERTO SUÁREZ
(BOLÍVIA) E CORUMBÁ (MS)
Não existe policiamento na
fronteira Brasil-Bolívia na região de Corumbá (MS), cidade
no Pantanal sul considerada
pela Secretaria de Segurança
do Rio a porta de entrada de
parte dos armamentos em poder do tráfico em favelas.
No posto oficial da fronteira
entre os dois países só há um
destacamento da Receita Federal. A Polícia Militar de Mato
Grosso do Sul mantém um homem de plantão para proteger
os técnicos alfandegários. Não
cabe a ele abordar suspeitos.
Nem a ninguém. Não há policiais federais no posto.
A fronteira pode ser atravessada de carro e a pé. São cerca
de mil veículos por dia e um número impreciso de pedestres.
Não é preciso mostrar passaporte ou outro documento.
Ninguém pergunta para onde
você vai ou o que carrega no
carro ou caminhão.
Segundo a Polícia Civil fluminense, metralhadoras ponto
30 e fuzis, que podem ter derrubado um helicóptero no Rio
em outubro, entram por Corumbá. Desde 2007, 40 metralhadoras do tipo já foram achadas com traficantes; quatro
com o brasão da Bolívia.
Durante oito dias a Folha
cruzou a fronteira ao menos 20
vezes de carro. Só viu fiscalização no último dia 10, quando o
Exército fiscalizou as fronteiras com Bolívia e Paraguai.
Naquele dia, apreenderam
50 kg de bananas, com um boliviano. Nem armas nem drogas.
Liberadas à tarde, as bananas
voltaram à Bolívia.
Na Bolívia, há um posto da
Polícia Fronteiriça e a alfândega. Mas é como não existissem.
Veículos e pessoas transitam livremente. Ninguém vigia,
aborda, demonstra interesse
em policiar a ponte de 10 metros sobre o arroio Conceição.
De um lado do córrego é Brasil; do outro, Bolívia. Se quiser
evitar a ponte, basta seguir pelas "cabriteiras", trilhas ao lado
da Receita, sem fiscalização.
Apesar da facilidade, quem
prefere não se arriscar opta por
estradinhas, atalhos, rios, o espaço aéreo e a imensidão do
Pantanal. Nada é policiado.
A PF em Corumbá tem 40
policiais, dos quais 18 novatos,
de outros Estados. Pouco sabem sobre a região, fala o delegado-chefe Mario Nomoto. Ele
diz que para uma ação mais eficiente, precisaria, no mínimo,
do dobro do efetivo.
Na estatística da delegacia
consta neste ano a apreensão
de só um fuzil, argentino. Não
por agentes federais, mas por
PMs que suspeitaram de um
homem numa "cabriteira". Essa ação decorreu da sorte, não
de planejamento
Planejamento que não passa
pela ocupação da fronteira com
pessoal e equipamentos, disse
o diretor de Combate ao Crime
Organizado do Departamento
de PF, Roberto Troncon Filho.
O que a PF tem feito, diz, é
acordos de cooperação com Paraguai e Bolívia. Fará com o Peru. Com o Paraguai está funcionando, segundo ele. Com a Bolívia, ainda não. Daí a fronteira
em Corumbá servir para a entrada de armas.
Embora haja múltiplas opções de ingresso, só há uma estrada pavimentada para escoar
a carga do tráfico. Armas e drogas entram por terra, ar e água,
mas para chegar ao Sudeste o
caminho é único: a BR-262.
Nela, que sai de Corumbá, há
um prédio em bom estado da
Policia Rodoviária Federal. Por
falta de pessoal, permanece fechado. A PRF de Mato Grosso
do Sul diz ter 400 profissionais,
o que representa um terço do
efetivo ideal para a corporação,
de 1.200. Essa a razão de o posto não funcionar.
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