São Paulo, domingo, 22 de novembro de 2009 |
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GILBERTO DIMENSTEIN Pintando cérebros
"Qualidade de vida é, em primeiro lugar, emprego. E, sem boa escola, não existe bom emprego" Para montar um mapa de indicadores de qualidade de vida da cidade, o Movimento Nossa São Paulo, assessorado pelo Ibope, constatou que o ensino deveria ser a prioridade número zero. Isso significaria, antes de mais nada, a "existência de profissionais qualificados em todas as escolas". Nas respostas a diferentes temas -juventude, desigualdade social, segurança, cultura, criança, assistência social-, entre as várias mensagens, a principal delas é a seguinte: qualidade de vida é, em primeiro lugar, emprego. E, sem boa escola, não existe bom emprego, o que se traduziria em bom professor. O prédio não é, portanto, o que mais importa. O resultado da pesquisa é coerente com uma série de sinais que se avolumam nos últimos tempos em São Paulo, o que antecipa e reflete as regiões metropolitanas brasileiras. A Fundação Seade e o Dieese divulgaram, na quinta-feira, a informação de que menos negras se tornam empregadas domésticas porque, com mais escolaridade, preferem outros empregos. Aliás, na cidade, a figura da empregada que dorme em casa (o que, muitas vezes, significa não ter hora para trabalhar) cede lugar para a diarista, quase uma microempresária. Comentei aqui, na semana passada, que as classes C e D serão, em breve, maioria nas universidades. Uma das mudanças na paisagem paulista são os milhares de jovens que enchem, de noite, salas das escolas estaduais. Antes abandonados, esses espaços são usados para ampliar a matrícula do ensino técnico, cujo vestibular é tão concorrido quanto o das faculdades públicas. Empresas telefônicas se orientam por pesquisas indicando que uma das maiores ambições dos mais pobres é um computador conectado à internet, ou seja, com banda larga. Isso significa, na visão deles, maior chance de empregabilidade. Nenhuma matrícula cresce tão rapidamente quanto a do ensino a distância. Nunca vi tantos eventos ligados à defesa do ensino público realizados em tão pouco tempo -todos com gente que representa um pedaço do PIB brasileiro e da elite acadêmica. Num espaço de sete dias, houve o lançamento de uma nova campanha do Todos pela Educação, que estabeleceu uma agenda até 2022, quando se comemora o bicentenário da Independência. Empresários e altos executivos que apadrinham colégios públicos fizeram uma festa, relembrando os tempos da "Gallery", para arrecadar fundos. Inspirados na gestão empresarial, eles vêm conseguindo aprimorar o desempenho dos alunos e colocaram como meta chegar a 500 escolas. Dois bancos (Itaú e Santander) premiaram projetos e experiências. Unicef e prefeitura instalaram um comitê, envolvendo os mais diferentes setores da sociedade, para discutir metas de melhoria para crianças e adolescentes. Um dos focos mais importantes, como não poderia deixar de ser, foi o ensino. Com uma festa, a Ação Educativa comemorou seus 15 anos de mobilização popular pela melhoria de ensino -eles são um dos líderes da articulação da sociedade para a montagem de um plano municipal da educação, para que toda a cidade acompanhe as metas. Todas as grandes agências de publicidade, sem exceção, estão envolvidas, em algum nível, nessas campanhas. A julgar pela forma como os governos se apresentam nas publicidades oficiais, bancadas com dinheiro público, a sociedade se mostra à frente dos seus políticos, presos à lógica do cimento. A sociedade, pelo jeito, está na frente do que seus políticos, que, podem esperar, vão correr atrás. PS - A melhor imagem de uma São Paulo que vai nascendo, em meio à ignorância e à violência, acaba de ser produzida e é bem colorida. São os painéis dos grafiteiros espalhados pelo Masp, misturando-se com peças de Rodin, entre as quais a célebre "O pensador". Nessa mistura entre o clássico e o popular, entre a rua e o museu, temos a síntese do que melhor podemos ser quando pintamos não apenas paredes, mas cérebros. gdimen@uol.com.br Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Celso Pitta, ex-prefeito de SP, morre aos 63 Índice |
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