São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 2002

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RELIGIÃO

Rota Caminho da Fé tem 415 km e vai ligar a cidade de Tambaú (SP) ao santuário de Aparecida, o maior do Brasil

Igreja apóia "Caminho de Santiago" no país

Tuca Vieira/ Folha Imagem
Peregrino passa pela capela da fazenda Retiro, em Águas da Prata, trecho da rota Caminho da Fé


MAÉRCIO SANTAMARINA
ENVIADO ESPECIAL A APARECIDA, ÁGUAS
DA PRATA E TAMBAÚ


Milhares de pequenas setas amarelas pintadas em pedras, cercas, árvores e postes orientam Alice. Indicam as trilhas de um caminho que se estende rumo a uma das referências do cristianismo.
Alice atravessa vilarejos, rios, bosques, sobe e desce montanhas. Sempre meditando.
Com pouca fé e muito fôlego, ela percorre cerca de 30 quilômetros durante todo o dia até chegar à primeira pousada do itinerário.
A natureza fecunda transforma a árdua jornada numa aventura inesquecível. ""É o caminho das maravilhas", pensa ela.
Alice de Abreu, 40, empresária de São João da Boa Vista, não está no Caminho de Santiago de Compostela, como deve supor quem conhece a rota de peregrinação mais famosa do mundo ocidental.
Ela percorre, na verdade, a mais nova e a maior trilha permanente criada no Brasil com a chancela da Igreja Católica, ligando dois centros de romaria de São Paulo.
A versão brasileira do Caminho de Santiago, com um total de 415 quilômetros de extensão, atravessando o sul de Minas Gerais, foi batizada de Caminho da Fé.
O itinerário promove o encontro imaginário do "caipira milagroso" padre Donizetti Tavares de Lima, de Tambaú, com a sua santa de devoção, Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida, cidade do Vale do Paraíba onde se localiza o maior santuário do Brasil.
Como na Espanha, os peregrinos recebem um passaporte na partida, oficializado pela igreja com o nome de mariana -em Santiago chama-se compostelana-, a ser carimbado em cada pousada. Ao final, quem tiver os 24 carimbos do percurso, recebe o certificado de peregrino no Santuário Nacional de Aparecida.
O projeto, idealizado pelo fiscal de rendas aposentado Almiro Grings, 62, que já percorreu duas vezes os cerca de 800 km do Caminho de Santiago, conseguiu envolver diretamente três dioceses, 16 paróquias e 16 prefeituras em sua primeira etapa, com início em Águas da Prata. Outras três paróquias e prefeituras entrarão na segunda etapa, até Tambaú.
Embora já tenha adeptos e venha sendo utilizado com uma frequência cada vez maior, a inauguração está marcada para o próximo dia 11 de fevereiro, dia de Nossa Senhora de Lourdes, padroeira de Águas da Prata.
Até abril, os idealizadores estarão abertos a sugestões dos peregrinos para ajustes. A igreja planeja para 1º de Maio a oficialização da rota internacionalmente.
"A igreja já teve outras propostas de rota de peregrinação baseadas na de Santiago. Não menosprezamos nenhuma. O Caminho da Fé, no entanto, tem uma forte motivação religiosa. Por isso a igreja decidiu apoiá-lo sem restrições", afirma o reitor em exercício do Santuário Nacional de Aparecida, padre Antonio Agostinho Frasson, 56.
O apoio da igreja brasileira é suficiente. Não há necessidade, nesse caso, de submeter o projeto ao Vaticano, segundo o padre João Betella Filho, de Águas da Prata.
Adepto de caminhadas longas, Grings conta que teve a idéia de criar a trilha durante sua primeira peregrinação a Santiago, em 1999, acompanhado de seu irmão, o também fiscal aposentado Guido Grings, 71. Em 2001, ele fez de novo o trajeto e aprimorou o plano.
"Os elementos da natureza fazem a pessoa refletir no bem, na criação", observa padre Frasson.
Alice, que não é católica -é presbiteriana-, também vê como motivação os momentos de reflexão que as trilhas proporcionam, mas destaca outro aspecto: "É um caminho apropriado ao trekking, para cultivar a saúde física e psicológica".


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