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"Eu não sou bandido", diz ex-detento
do enviado especial
Em países como a Alemanha e a
Finlândia, 80% dos que cometem
furtos não vão para a cadeia, cum
prindo penas alternativas. Em
Conceição de Macabu, a 220 km ao
norte do Rio, o desempregado Iso
mar Santiago Ribeiro, 30, ficou
quatro anos em uma cela sem ven
tilação por pequenos delitos.
Foi condenado em regime se
mi-aberto (poderia sair para tra
balhar e voltar para a prisão à noi
te), mas, como não havia vaga no
sistema penitenciário, ficou tran
cafiado em uma apertada cela da
delegacia policial local.
Passou de janeiro de 94 a novem
bro de 96 em uma cela onde não
havia nem sequer área para banho
de sol. Foi solto graças ao indulto
do Natal de 95, assinado pelo pre
sidente Fernando Henrique, que
levou meses para ser analisado.
Ao sair, porém, tomou um porre
para comemorar. Como tem dis
ritmia, Ribeiro fica descontrolado
quando bebe muito. Encontrou
dois desafetos, discutiu com eles e
acabou cercado por policiais.
Mesmo com o depoimento do
dono do bar de que ele apenas se
"debateu" para tentar se safar dos
policiais, acabou preso e condena
do a mais dois anos e oito meses,
por suposto desacato e resistência
à prisão.
Com marcas pelo corpo, Ribeiro
disse ter sido agredido violenta
mente com socos e pontapés. "Eu
não sou bandido. Por que esses ca
ras fazem isso comigo? Eu falei que
não queria guerra, mas me enche
ram de porrada", afirmou Ribeiro,
que diz já ter pago pelo seu erro.
Como não há defensor público
na cidade de 25 mil habitantes, ele
só foi solto, no início de dezembro,
após um ano de volta à mesma ce
la, pela ação do promotor Zouein,
que recorreu da sentença por con
siderá-la absurda.
Por unanimidade, três juízes do
Tribunal de Alçada Criminal do
Rio aceitaram os argumentos do
promotor, de que era de se esperar
que Ribeiro bebesse e, eventual
mente, se excedesse ao festejar o
fim de uma prisão injusta.
Em sua sentença, o relator Libor
ni Siqueira ainda assinalou que
nem sabia o que Ribeiro festejava,
pois "deveria estar de luto em face
do descalabro da administração de
um sistema caótico que, em plena
jurisdição do juiz, converte um re
gime semi-aberto nos mais fecha
dos que se conhece".
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